quinta-feira, 11 de março de 2010

O imperialismo, o Irã e a América Latina


Por Renato Rabelo*

Foi-se o tempo em que políticos norte-americanos mal sabiam dizer a localização do Brasil no mapa-mundi. Está ficando superada a época em que a diplomacia dos Estados Unidos para a América Latina se notabilizava pela política do “Big Stick”, ou do “grande porrete”.

Já não é mais o tempo em que o chefe das relações exteriores brasileiras tirava o sapato para ser revistado em um aeroporto estadunidense. Enfim, foi-se o tempo em que um presidente do Brasil, num gesto de aprovação neocolonial, proclamava que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.

Hillary Clinton — a secretária de Estado dos EUA, em sua viagem ao Brasil — sentiu na pele a mudança dos tempos, tendo de reconhecer o papel de grande ator global do nosso país. Expressando mais uma vez a política do imperialismo para com o Irã, Hillary esgotou seus argumentos em defesa da aplicação de sanções ao país persa. Por sua vez, o presidente Lula, não titubeou afirmando que o Brasil mantém sua posição de busca incessante de um diálogo com o Irã, contra de ameaças de sanções expostas e argumentadas pela esposa do ex-presidente Bill Clinton, colocando da seguinte forma: “ O Brasil mantém sua posição, o Brasil tem uma visão clara sobre o Oriente Médio e sobre o Irã. O Brasil entende que é possível construir um outro rumo. Não é prudente encostar o Irã na parede. O que é prudente é estabelecer negociações”.

Apesar do tom diplomático na presença de Lula e Celso Amorim, ela não perdeu a oportunidade para ir além da busca de consenso sobre a questão do Irã. Em São Paulo, e bem mais à vontade, ela não perdeu a oportunidade de criticar pesadamente a Venezuela e jogar um país contra o outro com essa história de comparar as instituições venezuelanas com a democracia brasileira.

Agora, e essa obsessão para com o Irã? Será que guarda contornos “humanitários” e de preocupações para com o futuro do planeta após o Irã se dotar de uma bomba de destruição em massa? Em matéria de “grande política” não há espaço para ingenuidades e sim a análise concreta da situação concreta. Nesse sentido, o que os EUA buscam é ampliar sua presença em terras mesopotâmicas, agora com as garras apontadas ao Irã e numa região onde o petróleo jorra em abundância. Do ponto de vista estratégico, qualquer pessoa mais instruída percebe que o compasso da política de pilhagem imperialista no Oriente Médio tem por objetivo, também, buscar um centro de contenção a uma Rússia ainda altamente industrializada e nuclear e a China em crescente expansão industrial e financeira e com poder atômico de persuasão.

Se o Irã transformou-se num grande “problema” a ser administrado pela via da ameaça e da imposição de um poder títere no Iraque, o que dizer da América Latina além do que já foi exposto mais acima? Afinal a visita da Sra. Clinton foi geometricamente planejada, pois incluiu Brasil, Chile, Uruguai, Argentina, Costa Rica e Guatemala, o que significa um perímetro geográfico que isola Bolívia, Equador e Venezuela e encosta em Honduras onde uma solução conservadora foi encontrada com a anti-democrática deposição de Zelaya.

Em todos os países visitados, Hillary Clinton dialogou com chefes de Estado e de governo. Por exemplo, na Argentina colocou-se à disposição para mediar a questão das Ilhas Malvinas, quando tudo que a Argentina precisa dos Estados Unidos nesta matéria não passa por mediações e sim pela retirada do apoio norte-americano ao “direito” de a Inglaterra defender seus interesses em qualquer quadrante do planeta. A história demonstra que esse tipo de mediação sempre acaba beneficiando o “colonizador” a partir de uma troca de soberania por administração. Isto quer dizer que no máximo que a Argentina poderia avançar nesta matéria – sob mediação anglo-saxônica – seria a retomada da soberania sobre o arquipélago, porém mantendo a status leonino de administração sob controle externo.

A secretária de Estado americana também aproveitou o périplo para dirigir-se a platéias de acadêmicos, jornalistas e afins numa cruzada ideológica – bem ao estilo do “Destino Manifesto” – em prol do “livre comércio” e outras jactâncias a-históricas. A América Latina não precisa de modelos, nem cartilhas. Somos signatários das mesmas reivindicações que levaram os Estados Unidos a deflagrarem uma revolta ao domínio inglês e declarar sua independência em 1776. Queremos soberania.

Por outro lado, é bom que salientar que se Barack Obama quer mesmo melhorar as relações de seu país com a América Latina, que comece praticando o que prega em discursos, a começar pela quebra da manutenção dos subsídios aos seus agricultores. É vergonhoso dar aulas de livre-comércio ao mundo enquanto se subsidia maciçamente sua economia agrícola, questão reconhecida recentemente pela própria Organização Internacional de Comércio, a OMC.

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