quarta-feira, 31 de agosto de 2011

COMO REDUZIR OS JUROS SEM ARROCHAR O INVESTIMENTO PÚBLICO BRASILEIRO?

O Copom define hoje um novo divisor na política de juros do país. A expectativa é de uma interrupção no ciclo de alta que elevou a taxa em 1,75 pontos desde o final do ano passado. A taxa de juro brasileira, 12,5%, é o mais alta do mundo; descontada a inflação corresponde a um custo real de 6,2%. Na zona do euro e nos EUA a taxa real é zero ou negativa. A rigor nem a esquerda, nem a direita conseguem explica a razão ‘técnica' para esse nível estratosférico que marca um dos principais preços da economia. Grosso modo, o poder rentista de fixar esse custo recorde encontra lastro na incapacidade do Estado de financiar as políticas públicas com base na receita de impostos, sem recorrer à empréstimos junto ao mercado. A dívida pública cresceu a tal ponto que constitui hoje um fator autônomo de desequilíbrio orçamentário. Ela é superior a R$ 1,8 trilhão; consome o equivalente a 6% do PIB ao ano com o pagamento dos juros; deu aos rentistas a oportunidade de capturar uma fatia expressiva da arrecadação de impostos. Criou-se assim uma classe de acionistas Estado, que exigem a sua cota anual de dividendos, com sacrifício dos investimentos Em torno do pagamento dos juros criou-se uma enorme estrutura de condicionamento das políticas públicas que mobiliza um lobby rentista composto de braços que vão da academia aos partidos, das consultorias locais às agencias de risco internacionais. A mídia conservadora é , ao mesmo tempo, sua agencia de relações públicas e bunker de chantagem política. A eficácia desse aparato em determinar os rumos da política econômica, em prontidão permanente contra iniciativas de redução dos juros, está expressa nas taxas recordes vigentes no país. A questão crucial é saber se, e como, o Estado brasileiro poderia reduzir essa dependência. Aqui os caminhos de bifurcam claramente. O conservadorismo tem um diagnóstico conhecido: o desequilíbrio está na sociedade e no Estado, não no rentismo. Para reequilibrar a equação, é preciso, primeiro, lipoaspirar um aparelho público corrupto e ineficiente e disciplinar uma sociedade perdulária, que deve pagar pelo que demanda. Privatizar e terceirizar políticas públicas, reduzir o aparelho do Estado ao mínimo, eis o caminho para comprimir a carga fiscal e assim liberar recursos nas mãos dos mercados, que se encarregariam de conduzir o desenvolvimento. A idéia de que o Estado brasileiro é um aspirador insaciável de impostos é controversa. Um dado resume todos os demais: o ex-ministro Adib Jatene conta, por exemplo, que ao cruzar dados com o Imposto de Renda comprovou-se que dos 100 maiores contribuintes da extinta CPMF, 62 nunca haviam recolhido IR no país. Empresas como a Vale do Rio Doce, com exportações de U$ 28 bi em 2010, pagam apenas 2% de royalties. Proporcionalmente, bancos pagam menos IR que os assalariados. São sintomas de um buraco negro oposto à voragem fiscal alardeada. Sem afrontá-lo será difícil conciliar desenvolvimento justo, equilíbrio fiscal e juro baixo.

(Carta Maior; 4º feira, 31/08/ 2011)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

“A horrenda face da OTAN”


29/8/2011, Stephen Lendman, OpEdNews
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Imagens não mentem, exceto as falsas imagens que a OTAN produz em Doha, Qatar e, provavelmente, por todo o mundo, e nos estúdios de Hollywood. Durante meses, os assaltantes saqueadores da OTAN e a gangue dos “rebeldes” assassinos violentaram e violaram a Líbia – mataram, destruíram, saquearam, sob o pretexto de que estariam protegendo alguém.

Dia 22 de agosto, Obama, que já fez por merecer dois indiciamentos por crimes de guerra, descreveu aquelas falsas imagens como “manifestação do anseio básico e feliz por plena liberdade humana”. [1]

Dia 25 de agosto, a secretária de estado Clinton, mais uma que também já fez por merecer indiciamento por crimes de guerra, disse “os eventos na Líbia essa semana comoveram o mundo”. [2]

Por que não vão, eles e seus aliados na mesma conspiração, a Trípoli, Brega, Misrata e outras cidades líbias reduzidas a ruínas, e veem eles mesmos, com os próprios olhos?

Se fossem, veriam os cadáveres insepultos pelas ruas, o sangue, a agonia no rosto dos sobreviventes, destruição por todos os lados para onde se olhe, miséria humana em escala jamais vista.

Por que não vão a Trípoli, para colher, em primeira mão, os frutos de sua vitória? Ver o que há para ver, sentir o fedor dos mortos, ver, ao vivo, a tragédia cada dia maior que se abateu sobre Trípoli? O que se vê em Trípoli é um devastador desastre humano.

Dia 27 de agosto, o jornal Russia Today noticiava:

“... falta tudo, em Trípoli, combustível, água, eletricidade, e todo o tipo de produtos hospitalares e de primeiros socorros. A situação em campo aproxima-se perigosamente de vasta catástrofe humana. Trípoli enfrenta grave escassez de água potável, eletricidade, gasolina e remédios (...) Todos os serviços públicos estão paralisados”. [3]

Destruição, lixo, cadáveres em decomposição enchem as ruas. Doenças contagiosas e outras logo chegarão como epidemias, não só por causa dos cadáveres mas também por causa de água, terra e ar contaminados.

Que Obama e Clinton comecem a imaginar a fúria e o desejo popular de resistir àqueles horrores e a outros horrores que fatalmente virão.

Eles que comecem a preocupar-se com o que pode vir adiante – resistência crescente, luta, compromisso real e profundo com liberdade humana real, não conformismo ante a servidão que aguarda os líbios sob o jugo dos saqueadores da OTAN.

Contra a ocupação por bancos e banqueiros. Contra o saque dos seus recursos pelo “Big Oil”. Contra Washington, Londres e Paris a decidir o que seria “melhor” para a Líbia.

Contra encolher-se em servidão contra esses ocupantes bandidos que contam com destruir a força da vida, do espírito, do desejo dos líbios. Nada, na Líbia ficará impune.

Os líbios não se renderão. Não escolherão a morte. Escolherão lutar contra a ocupação. Escolherão pagar o preço que custe a resistência, porque não resistir é o pior que lhes pode acontecer. Não podem aceitar e não aceitarão.

Durante o dia 27 de agosto, jornalistas independentes permaneceram como prisioneiros virtuais, sem poder sair do Hotel Corinthia em Trípoli, sem poder expedir suas matérias e comentários sobre o que realmente se passava em Trípoli e em outras áreas.

Fizeram muita falta aquelas matérias e comentários. Esperemos que consigam sair de lá e cheguem em segurança às suas casas.

Dia 26 de agosto, o International Action Center publicou em manchete: “Líbia – Continua a resistência contra o avanço de EUA/OTAN”. A matéria dizia:

“Apesar da OTAN atacar com força máxima, ataques que dão cobertura a todo o tipo de ação de violência dos bandidos ‘rebeldes’ em terra, continua “a heroica resistência ao avanço dos imperialistas (...) Toda a imprensa-empresa insiste em repetir que há rendições em massa, que Gaddafi fugiu, que seus filhos estão presos e outras desinformações e mentiras. Na Líbia, com certeza, ninguém duvida que são mentiras, guerra de propaganda e artifícios de guerra psicológica”.

Como já se viu acontecer no Iraque e no Afeganistão, declarações de arrogância (“vencemos”, “missão cumprida”) não porão fim à resistência popular. A luta continuará “de várias formas”.

Os líbios já resistiram heroicamente não só a meses de bombardeio, mas, também, à propaganda racista da imprensa-empresa (que apresenta os EUA e a máquina de morte da OTAN como “grandes libertadores brancos” [4]).

Nesse momento, os líbios enfrentam pilhagem em grande escala. A “responsabilidade de proteger” está convertida em razão para pilhar, enquanto a matança, a destruição, prosseguem.

O que está planejado para a Líbia é “o capitalismo de desastre”, como Naomi Klein explicou em “A doutrina do Choque”. A democracia do ‘livre mercado’ é mito. Os neoliberais saqueadores exploram a seu favor as ameaças à segurança, os ataques terroristas, as quebradeiras e falências, todos os desastres naturais e, sobretudo, exploram a seu favor todas as guerras.

O que se deve temer para a Líbia é o fim dos serviços públicos, privatizações gerais, a liberdade com a cabeça sobre o cepo, à espera da lâmina do carrasco. O ocidente espera impor uma versão neoliberal da Líbia, que substituirá a Líbia socialmente responsável da era Gaddafi.

Essa foi a principal razão pela qual Gaddafi foi ‘condenado’ pelo ocidente. Foi preciso derrubá-lo do governo da Líbia, para que os predadores corporativos pudessem alimentar-se do cadáver da Líbia.

Resultado disso, o ocidente já disputa os despojos. Até que definam o alvo seguinte, e o outro, e o outro, até que toda a África, todo o Oriente Médio, toda a Ásia Central sejam, afinal colonizadas, seja como for, ocupadas de um modo ou de outros, e, claro, saqueadas.
Latuff - EUA/OTAN "protegem" civis na Líbia

Para Washington, a pilhagem parasitária é definição triunfalista do livre mercado, incluindo sempre a privatização ensandecida de empresas públicas, nenhuma regulação, cortes de impostos para os ricos e de salários para os pobres, exploração desenfreada, geração incansável de miséria, cada vez maior; e controle militarizado sobre os explorados.

É o que Bilderberg quis dizer ao falar de “sociedade global sem classes” – uma nova ordem mundial onde só haveria senhores armados e servos. Nada de classe média, nada de sindicatos, nada de democracia, nenhuma igualdade e nenhuma justiça, só oligarcas armados, autorizados a fazer o que bem entendam, protegidos por leis que os beneficiam e acobertam.

Está bem claro no livro de Milton Friedman, de 1962, Capitalismo e liberdade. Lá se lê:

“... só uma crise – real ou pressuposta – produz mudança verdadeira. Quando ocorre uma crise, as ações a tomar dependem das ideias que haja à volta. Nossa função básica é desenvolver alternativas às políticas existentes (e nos preparar para suspendê-las) quando o impossível passar a ser politicamente inevitável.”

Para Friedman, as únicas funções do governo seriam “proteger nossa liberdade do assalto de inimigos externos e de outros cidadãos; preservar a lei e a ordem, para garantir que contratos privados sejam cumpridos; preservar a propriedade privada; e promover a competição nos mercados.”

Tudo em mãos públicas é socialismo, ideologia, para Friedman, blasfema. Dizia que os mercados funcionam melhor quando funcionam sem regras, regulações, impostos, barreiras protecionistas, “interesses entrincheirados”, interferência humana. De tal modo que o melhor governo seria, na prática, o nenhum governo.

Em outras palavras, o business faria melhor, tudo o que qualquer governo faça. Ideias sobre democracia, justiça social e sociedade cuidada ou protegida, dizia Friedman, seria tabu, porque interfeririam no capitalismo solto ladeira abaixo, na banguela.

Disse que a saúde pública deveria ser posta em mãos privadas, a acumulação de lucros, ilimitada, abolidos todos os impostos cobrados de todas as empresas, e os serviços sociais reduzidos, ou completamente abolidos. Acreditava que “a liberdade econômica é um fim em si mesma e meio indispensável para que se chegue a liberdade política”.

Em relação à Líbia, nem a liberdade econômica nem a liberdade política são sequer pensáveis, a menos que a resistência popular impeça que prossiga o saque e retome, dos saqueadores ocidentais e seus aliados, o que já saquearam e venham a saquear. Sem resistência, nada restará aos líbios além da servidão.

Essa dura realidade tem de ser mudada, é preciso resistir, não importa o que custe ou quanto tempo dure a resistência. Temos de esperar que os líbios estejam à altura do sacrifício e da luta que se exige deles. Que se alimentem da fúria contra a planejada ocupação pela OTAN e o saque em andamento. Desistir é via que não poderão sequer considerar.

A resistência bem pode ser o coringa contra o qual Washington espera não ser obrigado a disputar. Em outro artigo, escrevi “Líbia: Manter viva a chama da liberdade” [5]. Em outro, “Nada acaba antes de terminar”. [6]

Lembremos os versos de John Lennon, “Imagine nada por que matar ou morrer. Viver a vida em paz. Esperar que um dia o mundo viva como um só mundo”. [7] É preciso tentar.

É preciso tempo para alcançar coisas importantes. O impossível demora um pouco mais.

O primeiro passo é detonar a visão de Friedman do que seria o melhor dos mundos, a OTAN, Washington ocupada pelas grandes corporações.

Conseguindo isso, teremos dado um primeiro passo para ajudar a libertar os líbios e, talvez, mais gente, em outros pontos do mundo, lutando pelo mundo em que todos merecem viver. Não é difícil. Está aí fora, à espera de que nos decidamos a ir buscá-lo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Estranho: até FHC apóia “faxina” de Dilma


Por Altamiro Borges em seu Blog


Segundo o jornalista Kennedy Alencar, FHC parece que está empolgado com a alardeada operação “faxina” da presidenta Dilma Rousseff. “Nas conversas reservadas com dirigentes do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem defendido que o partido dê apoio à presidente Dilma Rousseff no combate à corrupção”, informa o repórter na Folha online de hoje.

Ainda segundo seu relato, “o ex-presidente conversou sobre o assunto com os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Antonio Anastasia (MG). A recomendação foi transmitida ao senador mineiro Aécio Neves, hoje o primeiro da fila tucana para disputar o Palácio do Planalto em 2014. A presença de FHC no encontro de Dilma com governadores do Sudeste, na quinta (18/08), em São Paulo, foi calculada para se transformar num gesto de apoio à presidente”.

FHC nunca enfrentou a corrupção

A excitação do grão-tucano deveria gerar alguma desconfiança no Palácio do Planalto – ao menos, entre os seus ocupantes mais tarimbados, que não confundem assessoria com puxa-saquismo. Afinal, FHC nunca foi um opositor civilizado de Lula ou de Dilma. Pelo contrário. Desde que se converteu ao neoliberalismo, ele sempre articulou as forças de direita contra qualquer projeto de esquerda no país. Egocêntrico e elitista, ele nunca tolerou o êxito de um governo presidido por um peão, um operário.

Sua cruzada contra a corrupção e seu apoio entusiástico à “faxina” no governo Dilma só iludem os ingênuos e os pragmáticos que infestam a política nativa – que desprezam a luta de classes e não têm visão sobre as batalhas futuras. Quem é FHC para falar em combate à corrupção? Uma breve lembrança do que foi o seu longo reinado talvez sirva de alertar os ingênuos que não percebem a manobra do tucano para desgastar o atual governo, paralisá-lo, implodir sua base de apoio e criar fissuras entre Dilma e Lula.

Os indícios das roubalheiras tucanas


Para aliciar sua base de apoio no Congresso Nacional e manter a governabilidade, FHC sempre foi complacente com a corrupção. A aliança principal do grão-tucano foi com o ex-PFL, atual DEM – e sabe-se lá qual será o novo nome da organização fisiológica que sucumbe na crise. Um dos líderes de FHC no parlamento foi o demo José Roberto Arruda, o mesmo que foi pego com a mão da botija no esquema do mensalão do governo do Distrito Federal. A lista de indícios de roubalheira no governo FHC foi grande:

Denúncias abafadas: Já no início do seu primeiro mandato, em 19 de janeiro de 1995, FHC fincou o marco que mostraria a sua conivência com a corrupção. Ele extinguiu, por decreto, a Comissão Especial de Investigação, criada por Itamar Franco e formada por representantes da sociedade civil, que visava combater o desvio de recursos públicos. Em 2001, fustigado pela ameaça de uma CPI da Corrupção, ele criou a Controladoria-Geral da União, mas este órgão se notabilizou exatamente por abafar denúncias.

Caso Sivam. Também no início do seu primeiro mandato, surgiram denúncias de tráfico de influência e corrupção no contrato de execução do Sistema de Vigilância e Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam). O escândalo derrubou o brigadeiro Mauro Gandra e serviu para FHC “punir” o embaixador Júlio César dos Santos com uma promoção. Ele foi nomeado embaixador junto à FAO, em Roma, “um exílio dourado”. A empresa ESCA, encarregada de incorporar a tecnologia da estadunidense Raytheon, foi extinta por fraude comprovada contra a Previdência. Não houve CPI sobre o assunto. FHC bloqueou.

Pasta Rosa
. Em fevereiro de 1996, a Procuradoria-Geral da República resolveu arquivar definitivamente os processos da pasta rosa. Era uma alusão à pasta com documentos citando doações ilegais de banqueiros para campanhas eleitorais de políticos da base de sustentação do governo. Naquele tempo, o procurador-geral, Geraldo Brindeiro, ficou conhecido pela alcunha de “engavetador-geral da República”.

Compra de votos. A reeleição de FHC custou caro ao país. Para mudar a Constituição, houve um pesado esquema para a compra de voto, conforme inúmeras denúncias feitas à época. Gravações revelaram que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, ganharam R$ 200 mil para votar a favor do projeto. Eles foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Outros três deputados acusados de vender o voto, Chicão Brígido, Osmir Lima e Zila Bezerra, foram absolvidos pelo plenário da Câmara. Como sempre, FHC resolveu o problema abafando-o e impedido a constituição de uma CPI.

Vale do Rio Doce. Apesar da mobilização da sociedade em defesa da CVRD, a empresa foi vendida num leilão por apenas R$ 3,3 bilhões, enquanto especialistas estimavam seu preço em ao menos R$ 30 bilhões. Foi um crime de lesa-pátria, pois a empresa era lucrativa e estratégica para os interesses nacionais. Ela detinha, além de enormes jazidas, uma gigantesca infra-estrutura acumulada ao longo de mais de 50 anos, com navios, portos e ferrovias. Um ano depois da privatização, seus novos donos anunciaram um lucro de R$ 1 bilhão. O preço pago pela empresa equivale hoje ao lucro trimestral da CVRD.

Privatização da Telebras. O jogo de cartas marcadas da privatização do sistema de telecomunicações envolveu diretamente o nome de FHC, citado em inúmeras gravações divulgadas pela imprensa. Vários “grampos” comprovaram o envolvimento de lobistas com autoridades tucanas. As fitas mostraram que informações privilegiadas foram repassadas aos “queridinhos” de FHC. O mais grave foi o preço que as empresas privadas pagaram pelo sistema Telebrás, cerca de R$ 22 bilhões. O detalhe é que nos dois anos e meio anteriores à “venda”, o governo investiu na infra-estrutura do setor mais de R$ 21 bilhões. Pior ainda, o BNDES ainda financiou metade dos R$ 8 bilhões dados como entrada neste meganegócio. Uma verdadeira rapinagem contra o Brasil e que o governo FHC impediu que fosse investigada.

Ex-caixa de FHC. A privatização do sistema Telebrás foi marcada pela suspeição. Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa das campanhas de FHC e do senador José Serra e ex-diretor do Banco do Brasil, foi acusado de cobrar R$ 90 milhões para ajudar na montagem do consórcio Telemar. Grampos do BNDES também flagraram conversas de Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e André Lara Resende, então presidente do banco, articulando o apoio da Previ para beneficiar o consórcio do Opportunity, que tinha como um dos donos o economista Pérsio Arida, amigo de Mendonça de Barros e de Lara Resende. Até FHC entrou na história, autorizando o uso de seu nome para pressionar o fundo de pensão. Além de “vender” o patrimônio público, o BNDES destinou cerca de 10 bilhões de reais para socorrer empresas que assumiram o controle das estatais privatizadas. Em uma das diversas operações, ele injetou 686,8 milhões de reais na Telemar, assumindo 25% do controle acionário da empresa.

Juiz Lalau. A escandalosa construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo levou para o ralo R$ 169 milhões. O caso surgiu em 1998, mas os nomes dos envolvidos só apareceram em 2000. A CPI do Judiciário contribuiu para levar à cadeia o juiz Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do TRT, e para cassar o mandato do senador Luiz Estevão, dois dos principais envolvidos no caso. Num dos maiores escândalos da era FHC, vários nomes ligados ao governo surgiram no emaranhado das denúncias. O pior é que FHC, ao ser questionado por que liberara as verbas para uma obra que o Tribunal de Contas já alertara que tinha irregularidades, respondeu de forma irresponsável: “assinei sem ver”.

Farra do Proer. O Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional (Proer) demonstrou, já em sua gênese, no final de 1995, como seriam as relações do governo FHC com o sistema financeiro. Para ele, o custo do programa ao Tesouro Nacional foi de 1% do PIB. Para os ex-presidentes do BC, Gustavo Loyola e Gustavo Franco, atingiu 3% do PIB. Mas para economistas da Cepal, os gastos chegaram a 12,3% do PIB, ou R$ 111,3 bilhões, incluindo a recapitalização do Banco do Brasil, da CEF e o socorro aos bancos estaduais. Vale lembrar que um dos socorridos foi o Banco Nacional, da família Magalhães Pinto, a qual tinha como agregado um dos filhos de FHC.

Desvalorização do real. De forma eleitoreira, FHC segurou a paridade entre o real e o dólar apenas para assegurar a sua reeleição em 1998, mesmo às custas da queima de bilhões de dólares das reservas do país. Comprovou-se o vazamento de informações do Banco Central. O PT divulgou uma lista com o nome de 24 bancos que lucraram com a mudança e de outros quatro que registraram movimentação especulativa suspeita às vésperas do anúncio das medidas. Há indícios da existência de um esquema dentro do BC para a venda de informações privilegiadas sobre câmbio e juros a determinados bancos ligados à turma de FHC. No bojo da desvalorização cambial, surgiu o escandaloso caso dos bancos Marka e FonteCindam, “graciosamente” socorridos pelo Banco Central com 1,6 bilhão de reais. Houve favorecimento descarado, com empréstimos em dólar a preços mais baixos do que os praticados pelo mercado.

Sudam e Sudene. De 1994 a 1999, houve uma orgia de fraudes na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), ultrapassando R$ 2 bilhões. Ao invés de desbaratar a corrupção e pôr os culpados na cadeia, FHC extinguiu o órgão. Já na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a farra também foi grande, com a apuração de desvios de R$ 1,4 bilhão. A prática consistia na emissão de notas fiscais frias para a comprovação de que os recursos do Fundo de Investimentos do Nordeste foram aplicados. Como fez com a Sudam, FHC extinguiu a Sudene, em vez de colocar os culpados na cadeia.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

ANP confessa estar louca para entregar o petróleo

São de cair o queixo as declarações do diretor da Agência Nacional do Petróleo, Helder Queiroz. Ele disse que tanto a agência reguladora como as empresas estão “loucas” pela realização da nova rodada de concessões de áreas petrolíferas até o final do ano, justamente quando se encerra o mandato da adual direção da ANP.

Pela segunda vez, eles pressionam na imprensa a presidenta Dilma a soltar o edital, que ela reteve preventivamente, para analisar sua conveniência para o país.

Óbvio, temos um estoque de petróleo já identificado que não é problema. problema é extraí-lo e refiná-lo de forma conveniente ao país e não para vender como banana em final de feira.

Postei lá no blog Projeto Nacional um texto onde analiso o absurdo que é a pressa da ANP e mostro, com documentos, que a agência, no Governo FHC, pediu um lance mínimo de R$ 300 mil pelo megacampo de Tupi, onde há de cinco a oito bilhões de barris de petróleo leve, de alta qualidade, que anda na faixa de R$ 145 o barril. Só o primeiro poço, com produção estimada em 100 mil barris dia, pagaria o valor do preço mínimo pedido em …meia hora!!!

Demos sorte de ter sido a Petrobras a adquirir a maior parte deste bloco, o BM-S-11, com um valor de assinatura de R$ 15 milhões.

Se o pessoal gosta de escândalo, porque não publica este?

post do tijolaço

O estilo Dilma



luisnassif

Por Joaquim Aragão
Pois eu acho que a Dilma está se saindo melhor do que a encomenda. Com seu estilo próprio, diferente do Lula, está inovando nos mais diversos aspectos da política. É fato novo sobre fato novo. Tanto na forma de tratar com a imprensa, a corrupção quanto na articulação política. De dependente do Lula ela não tem mais nada (daí concordar com a crítica do próprio Lula aos queremistas lulistas)!
Primeiramente cabe destacar que a conquista do poder por forças progressistas não tem o objetivo apenas ganhar as eleições. De nada adianta ganhá-las se o progressistas não conseguirem emplacar sua agenda (ver Obama). Ao contrário do Obama, Dilma está conseguindo impor a agenda progressista dela até à oposição conservadora! Por mais que esta queira e vá explorar o programa nas próximas eleições, a vitória da agenda é, do ponto de vista estratégico, mais importante que o embate eleitoral (e, claro, a Dilma terá mais argumentos ainda para o eleitor, pois conseguiu dobrar governos conservadores para sua agenda, e não o contrário!).
Quanto ao estilo "dilmista" de governar, ela pode irritar os “confrontistas” por aparentemente estar bajulando “ingenuamente” seus algozes (Folha, Alckmin, FHC, etc.), mas o que ela está querendo na verdade é consolidar cada vez mais as instituições democráticas, independentemente de algumas estarem na mão do bloco conservador.
A ida à Folha deve ser interpretada como uma sinalização da Presidenta de que o PT é o verdadeiro fiador das instituições democráticas. Apesar de não fazer coro às críticas contra Chavez, a direita brasileira terá cada vez mais dificuldades de acusar o governo de atentar contra as liberdades (usando instituições como o SIP, OAB e outras) como isso tem sido feito contra o governo venezuelano.
Esse reforço das instituições democráticas burguesas é mais do que um “cala-boca” para golpistas de plantão da direita: como o Lula já enfatizou várias vezes, elas são essenciais para o progresso social, sem as quais ele nunca poderia ter feito a carreira que fez. Inversamente, são os governos conservadores que primam mais pela falta de democracia, mesmo enchendo a boca com a defesa dela: a corrupção é desmedida, mas não noticiada pela imprensa, que se torna chapa-branca; a repressão contra movimentos sociais é dura, e por aí vai.
Portanto, defender as liberdades democráticas burguesas, as quais não são garantidas amplamente pelos governos da burguesia, é uma estratégica essencial para o progresso social. E quando a Dilma dá às mãos às instituições dominadas pelas forças conservadoras, ela não está entregando os pontos, pois a política dela continua cada vez mais progressista. E é a direita que fica desnorteada, pela perda de argumentos e pela adesão forçada à agenda do governo.
Por último cabe observar um outro aspecto da tática dilmista de governar: quando um ministro cai em função dos ataques da imprensa conservadora, ela vem o substituindo por uma figura alheia ao grupo de poder que se encastelava atrás do ministro substituído: assim, a queda de Jobim levou Amorim ao poder, para tristeza das viúvas da ditadura no setor militar; já a queda do Rossi, representante do agrobusiness, levou ao poder um político de fora desse mesmo bloco, para desespero dos latifundiários. Antes a direita e sua imprensa não tivessem mexido com o Rossi! Ou seja, a Dilma está fazendo a imprensa trabalhar para ela, contra a vontade desta!
Isso é um jogo sem risco? Claro que não, mas ela resolveu apostar nessa técnica. Até porque não podia continuar com a tática contemporizadora do Lula: ela não tem o carisma e o apoio popular do Lula para sobreviver aos escândalos, e não poderá governar com a corrupção andando solta, sobretudo em tempos de crise econômica e de necessidade de maior eficiência dos gastos. E o PT tem ainda de resgatar sua pretensão de honestidade, já tão desmoralizada, para continuar no poder: o rol sem fim de escândalos nos seus governos irá dificultar cada vez mais essa continuidade.
Os riscos de incentivar a imprensa a buscar cada vez mais escândalos para rachar o governo é real, até porque é essa a estratégia já patente do bloco conservador. Ou seja, a fase do “aparente consenso”, sugerida pelo Nassif, acabou definitivamente: a oposição e a imprensa conservadora já encontrou sua tática de guerra.
Mas até agora Dilma comprovou saber gerenciar as crises, não deixando que elas prejudiquem as políticas públicas inovadoras. A “independência” do PR pode atrapalhar no momento. Mas quando os resultados positivos aparecerem, quero ver se eles não irão buscar seu pedacinho do sucesso.
Voltando ao ato com o Alckmin, essa capacidade fica claramente demonstrada: se o PSDB se dobra, porque o PR iria assumir o papel de oposição? Só porque o grupinho do Nascimento levou uma surra? E os outros, vão querer ficar de fora? O PV já está querendo voltar à base, vejam só...
Em suma: até agora, o Lula foi o presidente mais malandro (no bom sentido) da história nacional, superando as “imbatíveis raposas”. Dilma está mostrando que pode superar o seu mestre...

Policiais federais: Algema em pobre pode

Nota de Esclarecimento: atuação da Polícia Federal no Brasil

12/08/2011 – 18:31

por sugestão da leitora Jô Freitas, no site da ADPF

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal vem a público esclarecer que, após ser preso, qualquer criminoso tem como primeira providência tentar desqualificar o trabalho policial. Quando ele não pode fazê-lo pessoalmente, seus amigos ou padrinhos assumem a tarefa em seu lugar.

A entidade lamenta que no Brasil, a corrupção tenha atingido níveis inimagináveis; altos executivos do governo, quando não são presos por ordem judicial, são demitidos por envolvimento em falcatruas.

Milhões de reais – dinheiro pertencente ao povo- são desviados diariamente por aproveitadores travestidos de autoridades. E quando esses indivíduos são presos, por ordem judicial, os padrinhos vêm a publico e se dizem “ estarrecidos com a violência da operação da Polícia Federal”. Isto é apenas o início de uma estratégia usada por essas pessoas com o objetivo de desqualificar a correta atuação da polícia. Quando se prende um político ou alguém por ele protegido, é como mexer num vespeiro.

A providência logo adotada visa desviar o foco das investigações e investir contra o trabalho policial. Em tempos recentes, esse método deu tão certo que todo um trabalho investigatório foi anulado. Agora, a tática volta ao cenário.

Há de chegar o dia em que a história será contada em seus precisos tempos.

De repente, o uso de algemas em criminosos passa a ser um delito muito maior que o desvio de milhões de reais dos cofres públicos.

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal colocará todo o seu empenho para esclarecer o povo brasileiro o que realmente se pretende com tais acusações ao trabalho policial e o que está por trás de toda essa tentativa de desqualificação da atuação da Polícia Federal.

A decisão sobre se um preso deve ser conduzido algemado ou não é tomada pelo policial que o prende e não por quem desfruta do conforto e das mordomias dos gabinetes climatizados de Brasília.

É uma pena que aqueles que se dizem “estarrecidos” com a “violência pelo uso de algemas” não tenham o mesmo sentimento diante dos escândalos que acontecem diariamente no país, que fazem evaporar bilhões de reais dos cofres da nação, deixando milhares de pessoas na miséria, inclusive condenando-as a morte.

No Ministério dos Transportes, toda a cúpula foi afastada. Logo em seguida, estourou o escândalo na Conab e no próprio Ministério da Agricultura. Em decorrência das investigações no Ministério do Turismo, a Justiça Federal determinou a prisão de 38 pessoas de uma só tacada.

Mas a preocupação oficial é com o uso de algemas. Em todos os países do mundo, a doutrina policial ensina que todo preso deve ser conduzido algemado, porque a algema é um instrumento de proteção ao preso e ao policial que o prende.

Quanto às provas da culpabilidade dos envolvidos, cabe esclarecer que serão apresentadas no momento oportuno ao Juiz encarregado do feito, e somente a ele e a mais ninguém. Não cabe à Polícia exibir provas pela imprensa.

A ADPF aproveita para reproduzir o que disse o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos: “a Polícia Federal é republicana e não pertence ao governo nem a partidos políticos”.

Brasília, 12 de agosto de 2011

Bolivar Steinmetz
Vice-presidente, no exercício da presidência

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Leandro Fortes: Depois do fim da civilização cristã no Brasil

convoca protestos de rua

Dilma e a guerra que se anuncia

por Leandro Fortes, no Brasília eu vi

O movimento era previsível e as razões óbvias, mas não deixa de ser perturbadora a investida dos grandes grupos midiáticos ao governo da presidenta Dilma Rousseff, depois de um curto período de risível persistência de elogios e salamaleques cujo único objetivo era o de indispô-la – e a seu eleitorado – com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Digo que era um movimento previsível não apenas por conta do caráter ideologicamente hostil dos blocos de mídia com relação a Dilma, Lula, PT ou qualquer coisa que abrigue, ainda que de forma distante, relações positivas com movimentos sociais, populares e de esquerda. A previsibilidade da onda de fúria contra o governo também se explica pela transição capenga feita depois das eleições, um legado de ministros e partidos de quinta categoria baseado numa composição política tão ampla quanto rasa, e que, agora, se desmancha no ar.

Assim, pode-se reclamar da precariedade intelectual da atual imprensa brasileira, da sua composição cada vez mais inflada de jornalistas conservadores, repórteres raivosos e despolitizados, quando não robotizados por manuais de redação que os ensina desde a usar corretamente o hífen, mas também como se comportar num coquetel do Itamaraty. Mas sobre a indigência do comportamento da base aliada, é tudo verdade, como também é verdade que, ao herdar de Lula essa miríade de ministros-jabutis colocados na Esplanada dos Ministérios, Dilma aceitou iniciar o governo com diversos flancos abertos, a maioria resultado da aliança com o PMDB, e se viu obrigada a fazer essa tal “faxina” pela mídia, embora se negue a admiti-lo, inclusive em recente entrevista à CartaCapital.

Dilma caminha, assim, sobre a mesma estrada tortuosa do primeiro ano do primeiro mandato de Lula, quando o ex-operário chegou a crer, cegado pela venda de inacreditável ingenuidade, que as grandes corporações de mídia nacionais, as mesmas que fizeram Fernando Collor derrotá-lo, em 1989, poderiam ser cooptadas somente na base do amor e do carinho. Dessa singela percepção infantil adveio a crise do “mensalão”, a adoção sem máscaras do jornalismo de esgoto nas redações brasileiras, a volta do golpismo como pauta de reportagem e a degeneração quase que absoluta das relações entre o poder público e a imprensa.

Em 2010, agregados ao projeto de poder do PSDB e de seu cruzado José Serra, os grupos de mídia formaram um único e poderoso bloco de oposição e montaram um monolítico aríete com o qual tentaram derrubar, diuturnamente, a candidatura de Dilma Rousseff. Não fosse a capacidade de comunicação de Lula com as massas e a conseqüente transferência de votos para Dilma, essa ação, inconseqüente e, não raras vezes, imoral, teria sido vitoriosa. Perdeu-se, contudo, na inconsistência política de seus líderes, na impossibilidade de comparação entre os dois projetos de País em jogo e, principalmente, na transfiguração final – triste e patética – de Serra num fundamentalista religioso, homofóbico e direitista, cuja carreira política se encerrou na melancólica e risível farsa da bolinha de papel na careca.

Ainda assim, Dilma Rousseff foi comemorar os 90 anos da Folha de S.Paulo, sob alegada conduta de chefe de Estado, como se não tivesse sido o jornalão da Barão de Limeira o primeiro condutor do circo de mídia montado, em 2010, para evitar que ela chegasse à Presidência. Foi a Folha que publicou, na primeira página, uma ficha falsa da então candidata, com o intuito de vendê-la como fria guerrilheira de outrora, disposta a matar e seqüestrar inocentes, sequer para lutar contra a ditadura, mas para implantar no Brasil uma ditadura comunista, atéia e, provavelmente, abortista. O fim da civilização cristã no Brasil. Dilma sobreviveu à tortura e à prisão, mas não conseguiu escapar dessa armadilha, e foi lá, comemorar os 90 anos da Folha. Agora, instada a fazer a tal “faxina”, talvez esteja recebendo um salutar choque de realidade.

O fato é que o embate entre as partes, haja ou não uma Lei dos Meios, nos moldes da legislação argentina, não é só inevitável, mas também inadiável. A presidenta reluta, naturalmente, em iniciar um conflito entre a lei e os meios de comunicação, não é por menos. Ela sabe o quanto foi dura e a ainda é a vida dos colegas vizinhos da Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador e Paraguai com os oligopólios locais. Faz poucos dias, um jornalista brasileiro, encastelado numa dessas colunas de horror da imprensa nativa, chamou a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, de “perua autoritária”, em resposta a leitores que lhe enviaram comentários indignados com um texto no qual ele a acusava, Cristina, de usar o próprio luto (o marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, morreu em outubro do ano passado) para fins eleitorais. Implícito está, ainda, a questão do machismo (a “faxina” da nossa presidenta), ou melhor, a desenvoltura do chauvinismo, ainda isento de freios sociais eficazes.

Tenho cá minhas dúvidas se o mesmo jornalista, profissional admirado e reconhecido por muitos, teria coragem de se referir ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como “pavão engabelado”, apenas para ficar na mesma alegoria do mundo animal atribuída a Cristina Kirchner, por ter posado de pai amantíssimo ao assumir, 18 anos depois, a paternidade de um filho da jornalista Miriam Dutra, da TV Globo – e, aos 80 anos, descobrir que caiu no golpe da barriga. Passou dois mandatos refém da família Marinho por conta de um menino que não era dele. Algum comentário sarcástico nas colunas e blogs da “grande imprensa” a respeito? Necas de pitibiriba. Com a presidenta argentina, mulher que enfiou o dedo na cara de um grupo midiático “independente” que sustentou uma ditadura nazista, responsável pelo assassinato de 20 mil pessoas, o colunista, contudo, se solta e se credencia a nos fazer rir.

Duvido que Cristina Kirchner fosse ao aniversário do Clarín.

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego


Publicado em 17/08/2011 por Mair Pena Neto

No início da semana, um cidadão tomou o ônibus errado em Niterói, e ao perceber o equívoco, já em plena ponte para o Rio, saltou no ponto da ilha de Mocanguê, o único nos 13 km da via expressa, para tentar voltar. Ao buscar recuperar o tempo perdido, tentou atravessar a pista de altíssima velocidade, foi atropelado e morto. Os jornais do dia seguinte destacaram os 30 km e quase sete horas de engarrafamentos provocados pelo acidente. Sobre o homem morto, não identificado, nenhuma linha.

O nó que o acidente causou no trânsito era, sem dúvida, fato jornalístico, e dá para imaginar quantos motoristas praguejaram contra as autoridades pelas horas perdidas no trânsito paralisado. Muitos, possivelmente, condenaram a vítima pela irresponsabilidade de atravessar as pistas da ponte, o que é proibido. Mas ninguém procurou saber da vida daquele homem. Como vivia, se tinha mulher e filhos, se estava desempregado, infeliz. Uma vida humana representa muito pouco na pressa e ansiedade das grandes metrópoles urbanas. Se fosse alguém famoso, ainda vá lá. Mas um zé ninguém, nem estatística é.

Corte para as ruas de Londres na semana passada. Lojas são saqueadas em bairros pobres da cidade e um jovem estudante malaio ferido é roubado por outros dois homens que simulam ajudá-lo. É o horror, a pura delinquência, disparam os comentaristas mais apressados, olhando a situação apenas em sua superfície, sem refletir sobre as causas profundas. Dois acontecimentos diferentes e distantes fisicamente têm uma coisa em comum: uma desintegração social e moral, que nos transforma em animais irracionais, predadores de nossa própria espécie.

Nas grandes cidades, não temos tempo a perder. Todos se apressam para seus trabalhos, numa corrida desenfreada, que atropela valores. O outro se torna um obstáculo. Seja no ambiente profissional ou na figura de um corpo estendido no chão atrapalhando o tráfego. A busca do "progresso" movido a consumo nos desumaniza. E isso se reflete na falta de solidariedade, no pouco tempo para causas comuns e no egoísmo crescente.

A publicidade seduz, especialmente as crianças e os jovens, e a sociedade se divide entre os que têm e os que não têm as marcas da moda. Sem elas, você não pertence aos grupos e torna-se um pária. Tênis, agasalhos e eletrônicos foram os produtos mais visados nos saques de Londres. Assim como um jovem foi morto não faz muito tempo no Rio apenas para que lhe fossem roubados os tênis e a mochila.

A crise social está presente em todo o mundo. Se nos países mais pobres e em desenvolvimento ela pode explodir em protestos mais consequentes por educação e emprego, no mundo rico ela gera revoltas e destruição, como em Los Angeles, em 1992; Paris, 2005, e Londres, agora. Basta um estopim que a pólvora está pronta a explodir. Principalmente quando envolve os responsáveis pela defesa do sistema injusto e excludente e populações marginalizadas. O julgamento dos policiais que espancaram Rodney King em Los Angeles, os dois adolescentes de origem africana mortos quando fugiam da polícia em um subúrbio da capital francesa e o assassinato pela polícia inglesa de Mark Duggan, em Tottenham, bairro pobre de Londres, no início do mês.

O sociólogo polonês Zygmun Bauman descreveu o que aconteceu em Londres como um motim de consumidores excluídos e frustrados, que não tentavam alterar seu modo de vida, e, sim, reproduzir a elite. E advertiu que enquanto não repensarmos a maneira como medimos o bem-estar, balizado por riqueza material, os conflitos continuarão a ocorrer.

A democracia burguesa liberal e neoliberal não coroou o fim da história como defenderam certos historiadores. Ela está soçobrando em crises de diferentes matizes pelo mundo, que precisam ser entendidas como um só fenômeno, com suas particularidades. Resta a esperança que isso se torne a oportunidade de uma transformação para uma sociedade mais justa e solidária, fundada em novos valores, que priorizem o ser humano acima dos valores materiais.

Mair Pena Neto é um jornalista carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de economia.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Senado abre mercado de TV por assinatura para operadoras de telefonia


Valor Online

O Senado aprovou o projeto de lei que uniformiza as regras do setor de TV por assinatura, abre totalmente o setor para as operadoras de telefonia e acaba com as restrições ao capital estrangeiro. Já aprovado na Câmara, o projeto de lei complementar 116 (PLC 116) segue agora para sanção da presidente Dilma Rousseff.

O plenário rejeitou a emenda que suprimia o artigo 9º do projeto, que dá à Agência Nacional do Cinema (Ancine) o direito de fiscalizar e regulamentar a programação e o empacotamento dos conteúdos audiovisuais.

Senadores da oposição fizeram duras críticas ao projeto, especialmente ao papel que a Ancine assumirá e ao item que impõe cotas de conteúdo nacional na grade de programação de todos os canais.

De acordo com o projeto, os canais de televisão por assinatura deverão ter três horas e meia de conteúdo nacional acumuladas na semana em horário nobre. Caberá à Ancine definir qual será este horário.

Para o assaltante senador Aloysio Nunes (PSDB-EUA), o projeto trata o consumidor como “imbecil” ao impor cotas de programação nacional. “É uma intrusão inadmissível”, ressaltou.

O DEM já sinaliza que, como sempre, vai entrar com pedido de Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF).

O texto, aprovado no ano passado na Câmara dos Deputados, tramita há dez anos no Congresso Nacional. O relatório final do PLC 116 no Senado, elaborado pelo senador Walter Pinheiro (PT-BA), é resultado de intensas negociações envolvendo empresas de TV paga, teles, emissoras de televisão aberta e produtores de conteúdo nacional e estrangeiro.

O PLC autoriza a entrada das operadoras de telefonia no segmento de TV a cabo. Atualmente, as teles oferecem serviços televisão por assinatura utilizando as tecnologias de satélite (DTH) e micro-ondas (MMDS). Porém, não podem controlar operações de cabo.

O projeto de lei também acaba com as restrições aos investimentos estrangeiros em operadoras de TV a cabo. O texto equaliza a regra já válida para outros segmentos da TV por assinatura: nos serviços via satélite e MMDS, não há limitações ao capital estrangeiro.

Outro ponto importante – e polêmico - do PLC 116 é o que estabelece cotas de programação nacional nos canais de televisão por assinatura. A regra vale também para os canais internacionais, o que deve obriga-los a investir em conteúdo brasileiro.

O texto final não agrada todas as partes, mas senadores e executivos do setor têm se referido a ele como o “consenso possível”. Todos tiveram de ceder em alguns pontos para que um acordo fosse fechado.

Para o relator da matéria, a lei recém-aprovada permitirá baixar os preços das assinaturas, com o aumento da concorrência. Ele defendeu ainda os poderes maiores concedidos à Ancine. "A produção nacional, que é rica, não encontra hoje espaço para sua veiculação", afirmou.

(Talita Moreira, Gustavo Brigatto e Daniel Rittner| Valor)

Globo ataca Teixeira depois de perder horário do Brasileirão

De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, a matéria exibida pelo Jornal Nacional no último sábado (13) não foi bem recebida por Ricardo Teixeira. Para a CBF, a denúncia contra o todo poderoso representante da Fifa no Brasil foi motivada pelo fim dos jogos de sábado, às 21 horas – recém anunciado pela falta de público tanto na Série A como na Série B. O horário era um pedido da própria Globo à CBF.



O Jornal da Record também exibiu uma reportagem de oito minutos sobre as investigações em torno de Teixeira. O Ministério Público pode solicitar à CBF a devolução dos R$ 9 milhões, que foram pagos pelo Governo do DF, na época, para que o amistoso fosse realizado na Arena Bezerrão, no Gama. Abaixo segue um resumo da reportagem da Record.
A grande questão é que o valor foi pago a empresa Ailanto Marketing, que havia sido criada cerca de um mês antes e não tinha nem telefone. Segundo consta, seu patrimônio era avaliado em apenas R$ 800, sendo que uma de suas acionista, de nome Vanessa Almeida Precht, que teria participação de apenas R$ 1,00 na empresa.

As investigaçõesda Polícia Federal, no entanto, teriam apontado que a Ailanto não gastou um centavo dos R$ 9 milhões para organizar o amistoso. Na verdade, quem teria custeado o evento foi a Federação Brasiliense de Futebol (FBF), o que também deixa em maus lençóis o ex-governador José Roberto Arruda, que foi afastado do cargo, após ser pivô de um escândalo de corrupção no "mensalão do DEM".

R$ 9 milhões desviados

As investigações apontam na possibilidade dos R$ 9 milhões terem sido desviados para contas de “terceiros”, entre eles Ricardo Teixeira. Isso porque dirigente arrendou, segundo a reportagem da Record, algumas de suas terras à acionista da Ailanto, Vanessa Almeida Precht, sendo que a mesma trabalha com moda e não com agropecuária ou agricultura.

As imagens mostraram claramente que as terras não são utilizadas para plantações ou criação de gado. Além disso, moradores das propriedades afirmam desconhecer a tal “Dona Vanessa”. As suspeitas são de que o “arrendamento” tenha sido forjado, para que fosse passada uma comissão de R$ 600 mil ao cartola.

Em Porto Alegre e São Paulo já há mobilizações de rua pela "Fora Teixeira". Eles prometem espalhar as marchas por todo o país.
Perda de um aliado?

O fato é que a reportagem da Globo deixa Ricardo Teixeira com “cara de tacho”, tendo em vista que há pouco mais de um mês ele havia utilizado o próprio Jornal Nacional para atingir outros veículos de comunição, que o têm criticado. Ele chegou a afirmar que poderia fazer “maldades” com esses veículos, como impedir que retirem credenciais para a Copa do Mundo de 2014.

Entre os veículos de comunicação ameaçados pelo cartola, estão a Rede Record, o site UOL, o jornal Lance! e o canal fechado ESPN Brasil. Na visão do presidente da CBF, esses órgãos “fazem parte da mesma patota”. Eles poderiam sofrer retaliação por não ter “conchavo” com o cartola.

"Esse UOL só dá traço. Quem lê o Lance!? 80 mil pessoas? Traço. Quem vê essa ESPN? Traço... só vou ficar preocupado (com as denúncias de corrupção envolvendo seu nome) quando sair no Jornal Nacional, disparou na época, à revista Piauí. "Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito na Globo", ironizou na época.

Asinhas cortadas

Os mandos e desmandos de Teixeira, que também é presidente do Comitê Organizador Local da Copa (COL), também fez “barulho” no Planalto. Tanto que o Governo Federal começou a adotar algumas medidas para “cortar as asinhas” do dirigente. A presidente da República, Dilma Roussef, por exemplo, nomeou Pelé, que é desafeto de Teixeira, como embaixador da Copa.

Enquanto isso, o ministro do Esporte, Orlando Silva, deu declarações no programa Roda Vida, da TV Cultura, que vão de encontro com o pensamento de Teixeira, sobre a afirmação de atrapalhar o trabalho da imprensa.

“O Brasil é uma democracia e uma das suas características é a imprensa livre. Todos os profissionais que oferecem informaçãi à sociedade terão direito de se credenciar. Não é a vontade de Orlando, Ricardo ou Marília (Gabriela, ex-âncora do programa) que vá definir a cobertura da Copa. O Brasil tem regras”, disparou o ministro.

Futuro da parceria CBF/Globo

Resta saber se a reportagem que coloca Ricardo Teixeira no olho do Furacão vai afetar as parcerias entre a CBF e as Organizações Globo. Afinal, a emissora possui contrato de exclusividade para as transmissões dos Campeonatos Brasileiros das Séries A e B, além de jogos da Seleção Brasileira, em solo brasileiro.

Não bastasse isso, um dos braços da Globo, a Geo Eventos, possui ligação direta com o COL. Prova disso, é que foi a empresa global quem organizou o sorteio das Eliminatórias da Copa de 2014, que foi realizado no final do mês passado, na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, e teve um custo de R$ 30 milhões aos cofres públicos do Estado e da prefeitura do Rio.

Fonte: Futebol Interior

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

WIKILEAKS E A "ESTREITA RELAÇÃO" DE JORNALISTAS BRASILEIROS COM AUTORIDADES “MADE IN USA”

"Golpe", mas com o tradicional apoio e "recomendações" dos EUA

“Aconteceu o que já era de conhecimento dos menos desavisados. A grande imprensa brasileira foi finalmente desnudada, com tudo comprovado em documentos [norte-americanos] oficiais e sigilosos. Quem ainda tinha motivos para outorgar credibilidade a esses veículos e seus jornalistas, não tem mais.


WILLIAM WAACK, DA GLOBO, APARECE NOS DOCUMENTOS SECRETOS

William Waack, da Globo

Novos documentos vazados pela organização WikiLeaks trazem à tona detalhes e provas da estreita relação dos USA com o monopólio dos meios de comunicação no Brasil semicolonial.

Um despacho diplomático de 2005, por exemplo, assinado pelo então cônsul [norte-americano] de São Paulo, Patrick Dennis Duddy, narra o encontro em Porto Alegre do então embaixador John Danilovich com representantes do “grupo RBS”, descrito como "o maior grupo regional de comunicação da América Latina", ligado às organizações Globo.

O encontro é descrito como "um almoço 'off the record' [cujo teor da conversa não pode ser divulgado]", e uma nota complementar do despacho diz: "Nós temos, tradicionalmente, tido acesso e relações excelentes com o grupo".

Outro despacho diplomático datado de 2005 descreve um encontro entre Danilovich e Abraham Goldstein, líder judeu de São Paulo, no qual a conversa girou em torno de uma campanha de imprensa pró-sionista no monopólio da imprensa no Brasil, que antecedesse a Cúpula América do Sul-Países Árabes daquele ano, no que o jornalão O Estado de S.Paulo se prontificou a ajudar, prometendo cobertura "positiva" para Israel.

Os documentos revelados pelo WikiLeaks mostram, ainda, que nomes proeminentes do monopólio da imprensa são sistematicamente convocados por diplomatas ianques para lhes passar informações sobre a política partidária e o cenário econômico da semicolônia, ou para ouvir recomendações.

Um deles é o jornalista William Waack, apresentador de telejornais e de programas de entrevistas das Organizações Globo. Os despachos diplomáticos enviados a Washington pelas representações consulares ianques no Brasil citam três encontros de Waack com emissários da administração dos USA. O primeiro deles foi em abril de 2008 (junto com outros jornalistas) com o almirante Philip Cullom, que estava no Brasil para acompanhar exercícios conjuntos entre as marinhas dos USA, do Brasil e da Argentina. O segundo encontro aconteceu em 2009, quando Waack foi chamado para dar informações [e receber recomendações] sobre as conformações das facções partidárias visando o processo eleitoral de 2010. O terceiro foi em 2010, com o atual embaixador ianque, Thomas Shannon, quando o jornalista novamente abasteceu os ianques com informações detalhadas sobre os então candidatos a gerente da semicolônia Brasil.

Carlos Eduardo Lins da Silva, da Folha de S.Paulo

Outro nome proeminente muito requisitado pelos ianques é do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, da Folha de S.Paulo. Os documentos revelados pelo WikiLeaks dão conta de quatro participações do jornalista (ou "ex-jornalista e consultor político", como é descrito) em reuniões de brasileiros [?] com representantes da administração ianque: um membro do Departamento de Estado, um senador, o cônsul-geral no Brasil e um secretário para assuntos do hemisfério ocidental. Na pauta, o repasse de informações sobre os partidos no Brasil e sobre a exploração de petróleo na camada pré-sal.

CAI TAMBÉM A MÁSCARA DE FERNANDO RODRIGUES, DA FOLHA



Fernando Rodrigues, repórter especial de política da Folha de S.Paulo, chegou a dar explicações aos ianques sobre o funcionamento do Tribunal de Contas da União.

INTERESSES NORTE-AMERICANOS NO PIAUÍ

Outro assunto que veio à tona com documentos revelados pelo WikiLeaks são os interesses do imperialismo ianque no estado brasileiro do Piauí. Um documento datado de 2 de fevereiro de 2010 mostra que representantes dos USA participaram de uma conferência organizada pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), na capital Teresina, a fim de requisitar a implementação de obras de infraestrutura que poderiam favorecer a exploração, pelos monopólios ianques, das imensas riquezas em matérias-primas do segundo estado mais pobre do Nordeste.

A representante do WikiLeaks no Brasil, a jornalista Natália Viana, adiantou que a organização divulgará em breve milhares de documentos inéditos da diplomacia ianque sobre o Brasil produzidos durante o gerenciamento Lula, incluindo alguns que desnudam a estreita relação dos USA com o treinamento do aparato repressivo do velho Estado brasileiro. A ver.”

FONTE: transcrito no portal do jornalista Luis Nassif

sábado, 13 de agosto de 2011

Um homem que não se ajoelha, cria asas

O tempo, aos seres humanos, vai nos substituindo de presença para memória.

Na equação entre passado e presente que resulta no futuro, vamos nos tornando o primeiro, em lugar do segundo.

E aí, quando as décadas nos encolhem e encurvam, o valor dos atos humanos, dependendo do que fomos e fizemos, mingua ou reluz.

Há muito tempo, Victor Hugo escreveu, em seu magnífico “Os trabalhadores do Mar”, que diante do desconhecido e do medo trazido pela noite, “um homem abate-se, ajoelha-se, prosterna-se, roja-se, arrasta-se para um buraco, ou então procura asas.”

Sim, porque homens têm asas, e essas asas se chamam sonho, e este sonho, se vira luta, torna-os gigantes, ainda quando o tempo apequena e fragiliza seus corpos.

Tão grandes que a grandeza os sublima, e os faz seguir, teimosamente, dando aos sonhos que encarnaram as últimas gotas de suas vidas, seus pensamentos, as lições que aprenderam e que seus nomes espalham ainda.

Fidel Castro faz, hoje, 85 anos.

Aquele a quem tantas vezes se tentou matar enfrenta o tempo com a serenidade de quem sabe que seguirá vivendo. Um pouco mais, como homem. Muito e muito mais, como um grande pássaro, ao qual o sonho e a luta deram - ele deu a uma geração inteira – asas para voar e vencer o medo.

Longa vida a Fidel e vida eterna a seus sonhos!

post do tijolaço

Tijolaço: os professores não fizeram o “dever de casa”

Os “professores” erraram e não têm a dignidade de chamar os “alunos” para refazerem, eles próprios, as lições que determinavam

Extraído no Tijolaço:

Os professores não fizeram o “dever de casa”


Os países ricos, o FMI e a mídia conservadora (ou isso é pleonasmo?) vivem dizendo que o Brasil precisa cortar gastos públicos, que não pode gastar mais do que arrecada e que sua dívida é astronômica.


Por isso, é irônico ver o que traz hoje O Globo, vejam só:



“Pelos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida média dos (países) emergentes em relação a seu PIB é de 33,6%, já a do G-7 (grupo que reúne EUA, Japão, Alemanha, Itália, França, Canadá e Reino Unido) é o triplo (118,2% do PIB). Pelas projeções do Fundo, a diferença será de quatro vezes em 2016.”



Ah, mas vocês pensam que eles dão o braço a torcer? Não, de jeito nenhum. Logo a seguir dizem que estamos nesta situação por termos seguido a cartilha do FMI e praticado a austeridade nos gastos públicos.



Só que o FMI é controlado justamente por aqueles países que nos deram tão bons conselhos.


Nós não estamos muito endividados e nunca estivemos. O que nós fomos e ainda somos é submetidos a um processo de endividamento extorsivo, com juros que não existem nesse mundo desenvolvido e que os “sabidos” do FMI sempre aplaudiram.



O mundo desenvolvido acumula déficits e reclama do alto preço das commodities – os produtos minerais e agrícolas que eles exauriram e acham que devemos entregar-lhes barato, agora. Reclamam, como faz hoje a The Economist, que estamos usando esses recursos para gastar mais com importações e fomentar o aumento do consumo, em vez de investir dinheiro na economia, mas são os primeiros, através de seus agentes financeiros, torcer o nariz para investimentos na base da economia e a medidas protecionistas para nossa indústria.


E a receita que nos deram não serve para eles próprios: continuam subsidiando o capital com seus juros públicos bem baixinhos, favorecendo um fluxo que nos obriga a mantê-los altos aqui.



Os “professores” erraram e não têm a dignidade de chamar aqueles “alunos” que tratavam com dureza e palmatória para refazerem, eles próprios, as lições que determinavam.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A onda anticorrupção


De repente, o país se deu conta que a corrupção centenária que grassa em todos os órgãos de administração pública, em todos os níveis e em todas as esferas, pode ser combatida - e punida.
O exemplo vem da mais alta autoridade, a presidenta Dilma Rousseff, que tem um estilo de agir inteiramente oposto ao de seus antecessores.
Ela não contemporiza, não tergiversa, não titubeia. Ela simplesmente corta o mal pela raiz.
Por agir dessa maneira, tem chocado seus aliados, essa miríade de políticos e parlamentares abrigados num leque de partidos que vão desde o mais nanico dos nanicos até o robusto e esfomeado PMDB.
Eles parecem ter perdido o rumo ao ver alguns de seus integrantes serem pegos com a boca na botija - ou a mão no cofre.
Não sabem o que fazer a não ser exprimir, publicamente, de modo vacilante, o apoio às ações de faxina, e, privadamente, tramar represálias que não escondem todo o tormento em que vivem nestes dias de caça aos corruptos.
Por ser uma prática absolutamente arraigada nos costumes da nação, a corrupção é vista como a coisa mais comum para muitas pessoas. Por isso mesmo é muito difícil prever o que acontecerá com o governo Dilma se a limpeza continuar no ritmo atual.
O cenário mais improvável é que a presidenta sofra retaliações de todos os lados atingidos e acabe praticamente sozinha. Isso não deve ocorrer pela simples razão de que toda a opinião pública apoia o seu trabalho para exterminar do corpo administrativo esses sanguessugas.
O mais provável é que a sua base de apoio resolva frear a voracidade com que avança ao dinheiro público, num pacto velado para preservar a moralidade e o decoro.
De todo modo, o que se vê no país é algo inédito, de simbologia tão forte que é capaz, de por si só, mudar esses usos e costumes que tanto mal fazem à sociedade.
Está mais que na hora de aqueles que se dizem patriotas, que vivem apontando o dedo a tudo o que julgam ser contra o interesse do país, se manifestarem a favor dessa onda anticorrupção que se levanta no Brasil.
Esta é uma oportunidade única que não pode ser perdida por meros interesses eleitorais.

post do cronicas do mota

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PF já prendeu quase 400 corruptores, mais que o dobro de corruptos

Operações da Polícia Federal (PF) em 2011 já levaram à cadeia 392 empresários e seus comparsas por corrupção ativa e participação em esquemas de desvio de dinheiro estatal. Nas mesmas ações, foram algemados 143 funcionários públicos. Última leva de detenções, feita nesta terça-feira, desbaratou fraude no ministério do Turismo, prendeu número dois da pasta e pode custar problemas políticos à presidenta Dilma Rousseff.

BRASÍLIA – A Polícia Federal (PF) prendeu, de janeiro a agosto, 392 corruptores, entre empresários, seus intermediários e laranjas, todos por montagem de esquemas de desvio de dinheiro estatal ou aliciamento de funcionários públicos em troca de favorecimento em licitações, por exemplo. A quantidade de corruptores algemados, segundo dados da própria PF, é mais do que o dobro de servidores detidos (143) nas mesmas 27 operações.

A última leva de corruptores (29) foi encarcerada nesta terça-feira (09/08), durante operação que prendeu o número dois do ministério do Turismo e pode causar problemas políticos à presidenta Dilma Rousseff. Este e outros casos de corrupção envolvendo pessoas ligadas a partidos devem ser discutidos por Dilma com dirigentes aliados nesta quarta-feira (10/08).

A nova operação da PF, batizada de Voucher, desbaratou esquema operado a partir do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi). Sediada em São Paulo, a entidade assinou com o ministério do Turismo, em 2009, convênio de R$ 4,4 milhões para treinar trabalhadores no Amapá. Segundo a PF, o Ibrasi recebeu R$ 4 milhões e teria desviado cerca de um terço, em vez de destinar à qualificação de trabalhadores.

“O Ibrasi criou um esquema e fraudava licitações”, disse o diretor-executivo da PF, Paulo de Tarso Teixeira. “Tem empresários envolvidos”, completou o delegado, relatando que foram apreendidos R$ 610 mil em dinheiro vivo na casa do dirigente principal do Ibrasi, em São Paulo.

Impacto político
A operação começou em abril, a partir de um comunicado feito à PF pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Em três processos em curso no TCU, foram identificados indícios de irregularidades. A origem delas seriam “emendas parlamentares”, dinheiro separado no orçamento de órgões públicos a pedido de um deputado ou um senador. O convênio com o Ibrasi seria objeto de uma emenda ao caixa do ministério do Turismo.

O ministério informou que, nesta quarta-feira (10/08), vai publicar no Diário Oficial da União portaria que impõe uma auditoria a todos os convênios com prestação de contas pendentes e a suspensão da assinatura de novos convênios. E que pediu à Controladoria Geral da União que abra processos para apurar o envolvimento de servidores nos desvios.

A PF prendeu seis funcionários públicos, entre eles, o secretário-executivo do ministério, Frederico Silva Costa, e o secretário nacional de Desenvolvimento de Programas de Turismo, Colbert Martins. Os dois foram nomeados pelo ministro Pedro Novais, que foi indicado para o cargo pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB). Sarney é eleito pelo Amapá, onde deveria ter havido treinamento de trabalhadores com dinheiro público desviado.

Também foi encarcerado o ex-presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), Mário Moysés. Ele deixou o cargo em junho para ser substituído pelo deputado federal Flavio Dino (PcdoB-MA), que é inimigo da família Sarney no Maranhão e foi escolhido por Dilma Rousseff.

Moysés era chefe de gabinete do ministério na época em que o convênio com o Ibrasi foi celebrado. Foi levado à pasta pela ex-ministra Marta Suplicy (PT).

Para a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, Ideli Salvatti, que é encarregada da coordenação política do governo, por ora, não há nada contra o ministro Pedro Novais, já que a origem da operação da PF é um convênio anterior à nomeação do peemedebista.

Ela disse que é preciso esperar a conclusão das investigação da PF, que promete fazê-lo em duas semanas. “Vamos aguardar. Quem cometeu qualquer ato ilegal deverá ser punido, por isso nós estamos acompanhando a investigação”, disse.

Apesar da implicação de políticos e servidores graúdos, o delegado Paulo de Tarso disse que a Presidência não foi previamente comunicada da operação.