sexta-feira, 29 de abril de 2016

O Império Vitorioso e o Jeca Periférico

 

Ontem, o magistrado municipal Sérgio Moro, com a sua senhora (para parecer confiável é necessário se mostrar familial), compareceu a uma festa da revista Time, em Nova York.

A fotografia distribuída (via Twitter, portanto deve ser iniciativa unipessoal do juiz) mostra-o "avec" e banhado por luzes rosas.

Um amor!

Vê-se que se trata de um jeca subalterno e periférico em busca de reconhecimento na corte imperial.

Uma autorreferência (autopoiese) demagógica e kitsch, própria dos impostores sociais.

O que era para ser auspicioso e meritório, no contexto maior do cenário conjuntural brasileiro, se transforma em algo impregnado de significados que precisam ser revelados e discutidos

Isso tudo reforça um fato inegável nesta sucessão de pequenos golpes até o iminente Temer-Putsch final (ver o Kapp-Putsch alemão, de 1920): o fato de os Estados Unidos estarem emergindo como os grandes vencedores deste conflito brasileiro - que não é só brasileiro.

O Brasil dos reformistas-suaves (Lula e Dilma) estava incomodando muita gente, seja no plano político-social interno, quanto no plano econômico externo, sobretudo na geopolítica, que insiste em revisitar a velha Guerra Fria.

O Brasil dos reformistas-suaves estava fazendo tecnologia nuclear por via da Nuclebras/Nuclep (submarino atômico, etc).

Estava fazendo tecnologia aviônica, por via de transferência de conhecimento com a Suécia (com vetor positivo para os nossos centros de pesquisa e ensino).

Estava tirando 20% da população (quase 100% dos miseráveis) para a condição de pobreza decente/consumidora.

Estava enfatizando o ensino público superior e incorporando pobres nesta faixa do conhecimento horizontal.

Estava se organizando em um novo circuito financeiro, fora do mainstream oficial, através dos BRICS, e novas alianças não-retóricas e meramente diplomáticas.

Estava organizando, com os vizinhos latinos, uma nova relação autônoma com as economias centrais.

Estava ditando uma nova semântica nas relações Norte-Sul.

Estava se apropriando do próprio subsolo, em autonomia tecnológica e distância econômico-financeira das eternas exploradoras mundiais do óleo e do gás mundial.

Estava excluindo da mesa de poder aqueles políticos profissionais que representam os 1% dos ricos do País e seus interesses internacionais associados, subalternos e dependentes.

Estava dando um novo sentido à noção de nacionalidade e brasilidade, embora faltasse muito para o pleno cumprimento desta primeira fase reformista.

Ora, os Estados Unidos já estavam preocupados com essa mobilidade política silenciosa e subversiva do Brasil.

Algo precisava ser feito.

E foi.

O Temer-Putsch é apenas um biombo de marionetes-lúmpens que esconde o verdadeiro vitorioso deste soturno episódio histórico, onde provisoriamente fomos derrotados.


A homenagem ao provinciano Moro é uma prova subliminar, mas incontestável, de que ele fez a coisa certa para os patrões (dele) certos.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

As instituições brasileiras são uma desgraça e isso tem que ser dito

Como respeitar o STF deste cidadão?
Como respeitar o STF deste cidadão?


O eminente juiz Dias Toffoli disse uma das maiores asneiras desta semana.
Numa entrevista ao Globo, ele afirmou que falar em golpe é ofender as instituições.
Ora, ora, ora.
Toffoli, desde que se tornou um juiz plutocrático nos mesmos moldes de Gilmar Mendes, aparece repetidamente na mídia.
É assim que as coisas funcionam: jornais e revistas dão amplo espaço a quem defende as causas dos barões da mídia, e escondem os demais.
Na estranha lógica de Toffoli, falar em golpe é ofender as instituições. Mas dar um golpe, como este em curso, não é.
A melhor reação a esta sandice veio de Marcelo Rubens Paiva, no Twitter. “Sim, está havendo um golpe, e nossas instituições são uma merda. Pronto: ofendemos.”
As instituições não devem ser objeto de veneração automaticamente. Elas devem merecer o respeito da sociedade.
É impossível respeitar o STF de Toffoli depois de ele não fazer nada em relação a Eduardo Cunha meses depois de haver recebido de Janot um pedido de afastamento por variados crimes de corrupção.
O STF deixou um gângster como Cunha comandar e manipular, com completa tranquilidade, o processo de impeachment presidencial na Câmara.
Numa sessão extraordinária em que poderia pelo menos limitar as manobras sujas de Cunha, os ministros da Suprema Corte falaram interminavelmente de coisas como “latitudes”, e em sua omissão acabaram favorecendo um processo viciado desde a origem.
Uma coisa dá na outra. A imobilidade chocante do STF de Toffoli foi dar na grotesca sessão da Câmara em que bufões corruptos disseram sim ao golpe com razões estapafúrdias, como a paz em Jerusalém ou a família quadrangular.
No meio da semana, a Folha publicou uma reportagem em que garotas de programa de Brasília falavam de seus clientes que tinham citado no voto as esposas e suas digníssimas famílias.
A Câmara, como o STF e qualquer instituição, não deve ser louvada apenas porque existe. Ela tem que merecer eventuais aplausos.
E a Câmara que temos, esta de Eduardo Cunha e comparsas, deve ser vaiada por toda a eternidade.
Que instituição deve ser tratada com deferência? A imprensa “livre”? (Aspas e pausa para uma gargalhada.)
Ora, é uma imprensa atrelada ao que há de mais atrasado na sociedade brasileira. O diagnóstico definitivo dela veio de um grande jornalista americano que vive no Brasil, Glenn Greenwald. Greenwald, ao entrevistar Lula, se disse “chocado” com a parcialidade da imprensa brasileira. Ela não faz jornalismo, mas propaganda em defesa da plutocracia.
São estas instituições que não podem ser ofendidas, segundo Toffoli?
Um homem que não se dê ao respeito jamais será respeitado. Da mesma forma, instituições que não se dão ao respeito jamais serão respeitadas.
É rigorosamente o mesmo caso.
É uma desgraça, mas Marcelo Rubens Paiva definiu magistralmente as instituições brasileiras.
E elas só melhorarão quando admitirmos claramente que são – não existe palavra mais precisa, infelizmente – uma merda.

Frente Brasil Popular convoca 1º de maio contra o golpe

A Frente Brasil Popular reafirmou em reunião realizada nesta segunda-feira (25), na sede do Sindicato dos Bancários, no centro de São Paulo, que não aceitará o golpe tramado por forças antidemocráticas, antipopulares e antinacionais e conclamou os movimentos civis organizados a se incorporarem aos atos do 1º de Maio, Dia do Trabalhador e da Trabalhadora.  Na pauta, a defesa da democracia, contra o golpe e pela preservação dos direitos sociais e trabalhistas conquistados nas últimas décadas.


Centenas de pessoas estiveram na plenária desta segunda-feira (25) Centenas de pessoas estiveram na plenária desta segunda-feira (25)
A manifestação do dia 1º de maio terá o caráter de assembleia popular da classe trabalhadora e acontecerá no Vale do Anhangabaú, no centro da capital paulista, a partir das 10h. O roteiro do ato prevê um momento inter-religioso, seguido pelo político, com a presença de lideranças partidárias e dos movimentos sociais e sindical, e ainda shows e atrações culturais.

Estão confirmadas as participações de Beth Carvalho, Martinho da Vila, Detonautas, Chico César e Luana Hansen. Também haverá feira gastronômica, unidades móveis de atendimento, atrações para as crianças e outros serviços à população.

Movimentos sociais mobilizados

Integraram a mesa da plenária realizada nesta segunda Flavia Stefanny, presidenta da UEE-SP ; Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares; Orlando Silva, deputado federal pelo PCdoB-SP; representante da Marcha Mundial das Mulheres, e Emídio de Souza, presidente do PT-SP.
 
O deputado Orlando Silva foi o primeiro a falar e destacou a importância estratégica da frente de resistência ao impeachment."O que nós construímos nesta semana é um indicativo forte de que nós não vamos desistir, da mesma forma como não desistimos na luta pelas escolas. Não é a primeira vez na história do Brasil que as elites afastam a Constituição para atender seus interesses. Em um dos casos, levaram o Getúlio Vargas, no outro, afastaram pelas armas um presidente democraticamente eleito. Não é um golpe contra o PT, é um golpe contra todo o nosso projeto", disse Orlando.

Na opinião dele, é preciso mostrar ao povo que o impeachment é golpe e revelar quais as consequências se Michel Temer assumir a presidência.  "Eles se utilizam de uma enorme máquina midiática, que tenta iludir o povo contra aqueles que o querem defender. Eles escreveram o que querem implementar no Brasil, é a Ponte Para o Futuro! É aquele projeto dos anos 90, cujo Estado tem pouquíssimas funções e privatiza tudo o que existe de estrutura pública", lembrou.

Orlando falou sobre o impacto dos acontecimentos do Brasil na América Latina e no mundo. "Quero lembrar a todos aqui que o que acontece no Brasil não é algo exclusivo do nosso país, mas de toda a América Latina. Essa luta não é apenas brasileira, mas dos trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo".
 
Por fim, falou das batalhas a serem travadas num possível governo Temer: "Muitos deputados já estão, desde o ano passado, tentando reduzir os programas de proteção social como o Bolsa Família, que é uma conquista e uma proteção fundamental para o desenvolvimento do Brasil. Eles querem universalizar também a terceirização e a flexibilização dos direitos trabalhistas, que será um imenso ataque aos trabalhadores. Mas esses aí que abraçaram o capeta conhecem agora o inferno da resistência popular, porque aqui no Brasil existem os movimentos organizados dos trabalhadores, dos estudantes, dos aposentados, das mulheres. Vamos lutar, e com muita energia, porque o que eles querem é criminalizar também os movimentos populares - no dia seguinte da votação do impeachment, já pediram uma CPI da Une e uma nova lei que flexibilize a contribuição sindical", denunciou o deputado.

Diálogo com a população
 
O presidente do PT-SP falou sobre a estratégia de corpo-a-corpo que adotarão nas próximas semanas: "Nós precisamos cercar os golpistas até a votação no Senado, cobrar de cada um deles a postura de defesa da democracia. O Temer não aguentou um único dia de pressão, botou aqueles seguranças. Nós temos que cobrar especialmente a senadora Marta Suplicy, porque ela foi eleita por muitos dos que estão aqui, com o devido compromisso com a democracia. A nossa ação nas ruas, nos aeroportos, nas redes sociais tem que ser ainda mais intensa. A nossa unidade é o que tem encorajado as pessoas a irem às ruas e enfrentar a discussão", discursou Emídio.

"Nós temos que valorizar o papel dos artistas, dos intelectuais. Temos que reconhecer o público que se levantou durante a peça com músicas de Chico Buarque reagindo contra declaração do ator/diretor desqualificando a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula; reconhecer o que o Zé de Abreu fez no Faustão. Porque o que vem depois disso, companheiros, é o ataque aos direitos individuais e civis e um ataque direto aos direitos dos trabalhadores", completou.

Emídio também elogiou o papel da Frente na defesa da democracia: "Estou satisfeito em dizer que o PT reconhece o papel da Frente Brasil Popular. Foram vocês que nos deram fôlego e capacidade de reação. Não tem preço o que está acontecendo aqui, e nós vamos enfrentar essa luta!".

Serviço


1º de Maio – Assembleia Popular da Classe Trabalhadora contra o Golpe, na Defesa da Democracia e Por Nossos Direitos

Quando: Domingo (1º de Maio), a partir das 10h

Onde: Vale do Anhangabaú, em São Paulo (metrô Anhangabaú ou São Bento)


Do Portal Vermelho, com informações do Portal CTB