quinta-feira, 31 de maio de 2012

BOMBA ! BOMBA ! VAZOU O VÍDEO DA ‘VEJA’ SOBRE GILMAR !

“Vazou no blog “O Cafezinho” o vídeo do encontro que deu origem à matéria da ‘Óia’ !! ['Veja']:



Servidor público pede impeachment de Gilmar Mendes

Publicado em 31/05/2012, 10:13
Última atualização às 10:21

Servidor público pede impeachment de Gilmar Mendes
O funcionário Público Cícero Rôla protocola na presidência do Senado pedido de impeachment do ministro do STF (Fábio R. Pozzebom/ABr)
São Paulo – O servidor público do Distrito Federal Cícero Batista Rôla protocolou ontem (30), na presidência do Senado, pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Rôla –  que é ligado ao PT e à CUT– disse que o magistrado precisa ser investigado. "Sou um cidadão indignado e não posso aceitar que, na mais alta Corte do país, um ministro esteja sob suspeição", disse.
Em entrevista à revista Veja, Gilmar Mendes disse que foi pressionado pelo ex-presidente Lula a deixar o julgamento do chamado mensalão para depois das eleições. As motivações para as declarações de Gilmar são questionadas por parte da imprensa do país, que indica possíveis ligações dele com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
É a segunda vez que Rôla protocola pedido de impeachment do ministro Gilmar Mendes. Na primeira, que foi arquivada pela Presidência do Senado, o servidor questionava o ministro pela concessão de habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas durante a Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
O Psol também quer esclarecimentos sobre a suposta conversa de Gilmar Mendes com Lula. O partido protocolou, no mesmo dia, representação na Procuradoria-Geral da República contra o ministro e classifica sua conduta no episódio como "bastante questionável". A sigla pede investigação  e medidas nos âmbitos administrativos, civil ou penal, caso seja comprovada a conduta indevida de Gilmar Mendes.
Os partidos de oposição – DEM, PSDB e PPS – protocolaram representação criminal na PGR contra o ex-presidente Lula. O documento pede instauração de inquérito polical para investigar as denúncias de Gilmar Mendes à Veja.
Com informações da Agência Brasil

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A corrupção da imprensa brasileira chegou a níveis de golpe de Estado


Blog de ghdobrasil :Geografia e História Mundial, Golpe de Estado no Brasil em 1964
A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República divulgou hoje (30) nota à imprensa sobre o encontro ocorrido nesta terça-feira (29) entre a presidenta Dilma Rousseff e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ayres Britto. Leia abaixo a íntegra da nota:
A Presidência da República informa que são no todo falsas as informações contidas na reportagem que, em uma de suas edições, apareceu com o título “Para Dilma, há risco de crise institucional”, publicada hoje no diário O Estado de S. Paulo. Em especial, a audiência de ontem da presidenta Dilma Rousseff com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, tratou do convite ao presidente do STF para participar da Rio+20 e de assuntos administrativos dos dois poderes. Reiteramos que o conjunto da matéria e, em especial, os comentários atribuídos à presidenta da República citados na reportagem são inteiramente falsos.
Contrariando a prática do bom jornalismo, o Estadão não procurou a Secretaria de Imprensa da Presidência para confirmar as informações inverídicas publicadas na edição de hoje. Procurada a respeito da audiência, a Secretaria de Imprensa da Presidência informou ao jornal Estado de S. Paulo e à toda a imprensa que, no encontro, foram tratados temas administrativos e o convite à Rio+20.
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República


terça-feira, 29 de maio de 2012

Jobim já desmentiu Gilmar. Lula desmentiu Gilmar. E agora Gilmar desmentiu Gilmar!

Gilmar Mendes gagueja, sua, se enrola e solta um ato falho sensacional. Confira
O ministro Gilmar Mendes, que acusou o presidente Lula de tê-lo constrangido com o objetivo de que adiasse o julgamento do mensalão, deu uma entrevista à Rede Globo, em que suou, gaguejou, se enrolou e acabou cometendo um ato falho incrível:

Gilmar dizia que o presidente teria insinuado que haveria alguma irregularidade numa viagem do ministro a Berlim...

(Parêntesis longuíssimus: Só rindo. Segundo Gilmar, Lula teria perguntado apenas o seguinte: - E Berlim?. A partir daí, ele começou a se justificar, porque corre um boato na internet de que Gilmar teria viajado com Demóstenes a Berlim às custas de Cachoeira, que teria se encontrado com os dois na Alemanha. Gilmar conta uma história engraçadíssima (suando, gaguejando), de que tudo seria fruto de uma incrível coincidência, porque ele e Demóstenes - por motivos diferentes - teriam uma agenda em Praga, combinaram se encontrar naquela cidade e depois foram para Berlim, onde mora uma filha do ministro.

Amigo leitor, leitora amiga ou perdida aqui no blog, qual será estatisticamente a possibilidade de duas pessoas terem compromisso numa mesma data em Praga? )

Voltando ao que dizia Gilmar na entrevista, ele negava que houvesse qualquer problema na viagem, mas, aí, o inconsciente escapou e Gilmar disse o oposto do que gostaria de dizer. Confira:
Ao invés de dizer que a suposta especulação do presidente Lula era inadequada, ele disse que era adequada e ainda mostrava motivações sub-reptícias, ou seja, fraudulentas:

- "O uso dessa informação por parte do presidente me pareceu absolutamente ADEQUADO e revelador de qualquer outra intenção sub-reptícia."

Então, ficamos assim: Jobim já desmentiu Gilmar. Lula desmentiu Gilmar. E agora Gilmar desmentiu Gilmar.

Do Blog do Mello

Gilmar Mendes & Veja: a pauta do desespero

A desfaçatez perpetrada desta vez só tem uma explicação: bateu o desespero; possivelmente, investigações da CPI tenham chegado perto demais de promover uma devassa em circuitos e métodos que remetem às entranhas da atuação de Mendes e VEJA nos últimos anos. Foram para o tudo ou nada.


- por Saul Leblon, no Blog da Frases

A revista que arrendou uma quadrilha para produzir 'flagrantes' que dessem sustentação a materias prontas contra o governo, o PT, os movimentos sociais e agendas progressistas teve a credibilidade ferida de morte com as revelações do caso Cachoeira. VEJA sangra em praça pública. Mas na edição desta semana tenta um golpe derradeiro naquela que é a sua especialidade editorial: um grande escândalo capaz de ofuscar a própria deriva. À falta dos auxilares de Cachoeira, recorreu ao ex-presidente do STF, Gilmar Mendes, que assumiu a vaga dos integrantes encarcerados do bando para oferecer um 'flagrante' à corneta do conservadorismo brasileiro. Desta vez, o alvo foi o presidente Lula.

A semanal transcreve diálogos narrados por Mendes de uma inexistente conversa entre ele e o ex-presidente da República, na cozinha do escritório do ex-ministro Nelson Jobim. Gilmar Mendes --sempre segundo a revista-- acusa Lula de tê-lo chantageado com ofertas de 'proteção' na CPI do Cachoeira. Em troca, o amigo do peito de Demóstenes Torres, com quem já simulou uma escuta inexistente da PF (divulgada pelo indefectível Policarpo Jr, de VEJA, a farsa derrubou o diretor da ABI, Paulo Lacerda), deveria operar para postergar o julgamento do chamado 'mensalão'.

Neste sábado, Nelson Jobim, insuspeito de qualquer fidelidade à esquerda, desmentiu cabalmente a versão da revista e a do magistrado. Literalmente, em entrevista ao Estadão, Jobim disse: 'O quê? De forma nenhuma, não se falou nada disso. O Lula fez uma visita para mim, o Gilmar estava lá. Não houve conversa sobre o mensalão; tomamos um café na minha sala. O tempo todo foi dentro da minha sala (não na cozinha); o Lula saiu antes; durante todo o tempo nós ficamos juntos", reiterou.

A desfaçatez perpetrada desta vez só tem uma explicação: bateu o desespero; possivelmente, investigações da CPI tenham chegado perto demais de promover uma devassa em circuitos e métodos que remetem às entranhas da atuação de Mendes e VEJA nos últimos anos. Foram para o tudo ou nada. No esforço para mudar o foco da agenda política e criar um fato consumado capaz de precipitar o julgamento do chamado 'mensalão', jogaram alto na fabricação de uma crise política e institucional. O desmentido de Jobim nivela-os à condição dos meliantes já encarcerados do esquema Cachoeira. A Justiça pode tardar. A sentença da opinião pública não.

Miguel do Rosário: Versões impressas de Globo e Estadão omitem que Jobim negou chantagem de Lula

 Gilmar Mendes tem um passado de respeito ao Judiciário, Lula tem o oposto, e o ex-ministro Nelson Jobim acabou por piorar uma situação já insustentável.
por Miguel do Rosário, em O Cafezinho, sugestão de Adriano Rattes

Vamos direto às novidades do escândalo Gilmar-Lula. Para quem não sabe do que se trata, sugiro dar um giro por outros posts do blog depois voltar aqui.
O Globo simplesmente – e inacreditavelmente – escondeu Nelson Jobim. Logo ele, orgulho da mídia de oposição por sua orgulhosa e bem sucedida independência. Mesmo antipetista e mais ligado ao PSDB do que ao governo, Jobim conseguiu ser ministro de Lula e Dilma. Aliás, foi ministro justamente por essa característica. Ele era uma espécie de ponte entre o tucanato midiático e o governo. Durante o chamado “caos aéreo”, Lula nomeou Jobim para acalmar setores apavorados da classe média. Deu certo. Jobim deu meia dúzia de declarações em tom chauvinista e terminou a crise. Foi demitido em 2011 por Dilma Rousseff após começar a dar entrevistas dizendo que votara em José Serra.
Recentemente, Jobim voltou a ganhar destaque nos jornais por sua intervenção num evento do PMDB, no qual advogou que o partido assuma posições independentes do PT.
Ou seja, Jobim tem tudo para ser um queridinho da grande mídia.
Pois mesmo assim, O Globo impresso de hoje não dá a informação de que Jobim declarou, a um jornalista da própria empresa, Jorge Bastos Moreno, que a reportagem da Veja é inverídica, de que Lula não pressionou Gilmar Mendes a adiar o processo do mensalão, e que os dois não ficaram sozinhos.
Ao invés disso, o Globo traz matéria, estranhamente assinada pelo próprio Moreno (no site, ainda mais bizarramente, a matéria vem anônima), na qual o encontro entre Lula e Jobim é reconstruído através de um curioso método:
Convém esclarecer, também, que tudo isso e o que se segue foram reconstruídos seguindo os rastros das conversas que o ministro Gilmar Mendes passou a ter com vários interlocutores sobre o ocorrido.
Por que a versão impressa do Globo não publicou a entrevista de Jobim ao blog do Moreno, a única que de fato trazia novidades? Por que exigiu que Moreno escrevesse uma matéria contradizendo a própria fonte, e baseado em “rastros de conversas”?
Bem, a resposta é fácil. Basta ler a coluna de Noblat, publicada no mesmo dia. Ou conferir a incrível manipulação do jornal a partir de uma entrevista de Celso de Mello ao site Consultor Jurídico, notoriamente ligado a Gilmar Mendes.
O Conjur entrevistou Celso de Melloneste domingo, antes que Mello tomasse conhecimento de que a única testemunha da conversa entre Mendes e Lula havia negado veementemente seu conteúdo. Mello respondeu a partir de uma hipótese.
Mello deixa, porém, bem claro o condicionante de sua frase: “a conduta do ex-presidente da República, se confirmada, constituirá lamentável expressão de grave desconhecimento das instituições republicanas.”
A postura de Mello, de qualquer forma, nos lembra a lamentável influência que a Veja e órgãos da grande mídia ainda exercem sobre o espírito de magistrados. Esperemos que o ministro, vendo que sua fala foi manipulada, e constatando que a informação na qual se baseou estava equivocada, reflita sobre os danos que, apesar de involuntariamente, causou à estabilidade política, o que constitui uma irresponsabilidade e uma infração ética de sua missão como juiz da corte superior. Diante do histórico da revista, Mello deveria ter pedido tempo para se informar melhor. É absurdo que os ministros do Supremo ainda sejam manipulados tão facilmente.
Pois é, excelentíssimo Mello: a notícia não foi confirmada. Lula e a única testemunha, Nelson Jobim, negaram o teor da conversa. São dois contra um. O Conjur, ao menos, informa, ao final do texto, que Jobim rechaçou a matéria da Veja. O Globo, ao invés disso, optou pela seguinte chamada na capa (observe o subtítulo):

Além de pedir o “impeachment” de Lula na capa, o Globo dá o seguinte título à matéria (onde não informa, repito, que Jobim negou o conteúdo da conversa, nem que Mello falava hipoteticamente):

À Folha, o ex-ministro, além de negar a conversa, acrescentou uma informação nova (para assinantes do UOL):
O ex-ministro se diz surpreso também com o relato de que Gilmar teria ficado perplexo com a conversa.“Lula saiu antes dele e não houve indignação nenhuma do Gilmar. Isso só apareceu agora na revista”, argumenta Nelson Jobim.
Quem deu o furo sobre  a negativa de Jobim foi o Estadão, em matéria destemida. Uso o adjetivo destemida para diferenciá-la daquela escrita por Jorge Bastos Moreno (a primeira, com fatos; não a segunda, com “rastros de conversa”), repleta daquela covardia travestida de ironia, na qual ele procura atenuar a negativa, firme, do ex-ministro com a ridícula insinuação de que ele estaria com “voz estranha”.
Pena que o destemor do Estadão tenha se limitado a sua editoria virtual. A negativa de Jobim não consta da versão impressa.
É realmente incrível que, num caso dessa gravidade, os editores neguem ao leitor, na maior cara dura, uma informação fundamental para se entender a história em sua plenitude. E isso em tempos de internet, quando a grande maioria do público interessado no tema perceberá a manobra. Não precisavam acreditar em Jobim, mas bloquear a informação?
Voltando ao Globo, a coluna do Noblat aborda o caso igualmente sem uma mísera menção à negação de Jobim ou Lula. Discorre sobre caso baseando-se exclusivamente no relato de Jobim à Veja. O início é de um desrespeito estarrecedor:


Repare na citação sobre Dirceu, provavelmente mais uma invencionice. Há uma só palavra citada: “deseperado”, o resto são colchetes e parênteses. A palavra parece dizer mais sobre o estado de espírito do jornal do que do ex-deputado.
A baixeza de Noblat parece não ter limites. Iniciar uma análise atribuindo a postura de Lula ao efeito dos remédios contra o câncer me parece, este sim, um recurso desesperado.
Observe a afirmação: “Para chegar bem ao seu final, a CPI terá que dar em nada”. Noblat vocaliza a enésima ameaça da mídia à CPI. E mais uma vez atribui sua criação exclusivamente ao presidente Lula, quando ela foi criada a partir da assinatura de mais de 400 deputados e senadores.

Por essas e outras razões, os parlamentares não podem se acovardar perante a mídia,  e sobretudo jamais esquecer que o juiz final de sua atitude na CPI não será a mídia, nem a blogosfera, mas a história.
PS: Leia também esse post, com entrevista de Jobim ao Zero Hora, principal jornal do Rio Grande do Sul, onde o ex-ministro diz o seguinte:
ZH – Lula pediu ao ministro Gilmar Mendes o adiamento do julgamento do mensalão?Nelson Jobim – Não. Não houve nenhuma conversa nesse sentido. Eu estava junto, foi no meu escritório, e não houve nenhum diálogo nesse sentido.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O DIABO MORA NOS DETALHES - REDE DE INTRIGAS VISA SUBJUGAR O STF E MINAR A CPMI



A divulgação através da Revista Veja de uma pseudo pressão seguida de chantagem por parte de Lula em relação ao Ministro Gilmar Mendes é só mais um capítulo da Campanha orquestrada que vem sendo colocada em prática, querendo um julgamento político dos réus do chamado caso mensalão.

Através de veladas intrigas e de incompatibilização dos envolvidos no caso, sejam Ministros, réus ou pessoas próximas a eles, visa essa campanha sórdida, proporcionar um ambiente fabricado de clamor popular, em torno de "exigir" a condenação dos referidos réus, não dando outra alternativa como aceitável pela opinião pública.

Os Ministros do STF estão sendo gradativamente encostados na parede, pautados pela MÍDIA que todos os dias lembra que há urgência na entrega do processo revisado, para que o Presidente do STF marque o início do julgamento e esse se inicie ainda no primeiro semestre, a tempo de ser concluído antes das próximas eleições. Cobra a Mídia que o STF altere seu rito de julgamentos e funcionamento para acelerar e priorizar o caso do Mensalão. Nunca se viu tamanho interesse por parte da Mídia em um julgamento. Essa mesma Mídia  não tem em relação a tantos outros casos, tão ou mais graves do que esse, a mesma postura interessada e fiscalizadora. Do MENSALÃO MINEIRO não se houve nem falar.


Exercem essas forças da mídia e da política, uma pressão constante, e usam a argumentação sub-reptícia de que são os réus e seus aliados quem tentam pressionar o STF, invertendo assim a real fonte de onde vem a inaceitável tentativa de desmoralizar os membros do STF e a Justiça brasileira.

Há, ainda, uma segunda má intenção nessa campanha, que busca desmoralizar a CPMI ora em curso.


Da matéria veiculada pela Revista Veja, cujo teor foi confirmado pelo Ministro Gilmar Mendes, mas, com os vários desmentidos que já foram colocados, saltam aos olhos alguns tópicos bastante interessantes e reveladores.

O Ministro Joaquim Barbosa é gravemente ofendido, a Ministra Carmen Lúcia colocada sob suspeição, por ser, segundo a matéria, sujeita a influência do ex-ministro Sepúlveda Pertence que seria acionado para interferir junto a ela. O ministro Dias Toffoli seria instado a não se considerar impedido a votar no julgamento do mensalão, e votaria pela absolvição dos réus. O presidente do STF seria procurado para durante um copo de vinho ser pressionado e, o ex-presidente Lula, a quem a matéria atribui todas essas posições e falas numa conversa de 60 minutos na cozinha de um escritório, é quem controla a CPI, sendo todos os demais seus fantoches. Restou ainda para Lula a posição de quem fez chantagem com o Ministro Gilmar Mendes. 


Todos esse "pequenos detalhes", intrigam, incompatibilizam e desmoralizam pessoas chave no futuro julgamento.

Tudo isso teria ocorrido no final do mês de abril, portanto, trinta dias se passaram, mas, só agora, e por intermédio da Revista Veja é que está sendo revelado. Gilmar Mendes teve todo o tempo do mundo para revelar a tal conversa e não o fez.

O problema é que o DIABO MORA NOS DETALHES, e os detalhes desse caso nos levam a ver que é simplesmente inaceitável um Ministro do STF se submeter a uma situação dessas, sem reagir, sem tomar nenhuma atitude oficial em relação ao caso. É totalmente fora de cabimento que um político experiente como Lula, fizesse tais inconfidências diante de um notório inimigo, passando inclusive para ele, o atual acusador, as alegadas formas de como pretendia agir para alcançar seus objetivos. Incrível ainda, é ver que o fato vem ao conhecimento público via uma Revista que se encontra sob forte suspeição de manipular matérias por ela publicadas, com fins de obter vantagens inconfessáveis, tratando a pão-de-ló um chefe de quadrilha como Carlos Cachoeira.

Por último, FICOU NO AR, uma forte suspeição com cheiro de enxofre. A matéria com a versão apresentada pelo ministro Gilmar Mendes para a "conversa" que teve com Lula não se sustenta, independente de todos os desmentidos já postos aos fatos ali apresentados, e deixa transparecer que algo muito grave pode estar para ser revelado, deixando pessoas prestes a queimar no caldeirão do descrédito e da desonra.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Assange entrevista – “Rafael Correa, presidente do Equador”

 
JULIAN ASSANGE: Com Chávez e Lula já deixando os principais holofotes, vai surgindo uma nova geração de governantes na América Latina.
Esta semana, está comigo o presidente do Equador , Rafael Correa. Correa é líder popular de esquerda, que mudou a cara do Equador. Mas, diferente dos presidentes que o antecederam, é doutor em Economia. Segundo os telegramas diplomáticos dos EUA que WikiLeaks divulgou, Correa é o presidente mais popular na história democrática do Equador.
Mesmo assim, em 2010, foi preso e feito refém, numa tentativa de golpe de Estado. A culpa pela tentativa de depô-lo, segundo Correa, foram os meios de comunicação corruptos. Correa pôs em marcha uma polêmica contraofensiva. Na avaliação de Correa, os meios de comunicação definem as reformas que seriam as únicas possíveis... para os próprios meios.
Quero saber se essa conclusão está correta e como vê a América Latina.
RAFAEL CORREA: Está me ouvindo?
JULIAN ASSANGE: Sim, presidente Correa.
RAFAEL CORREA: Prazer em conhecê-lo. Você está na Inglaterra?
JULIAN ASSANGE: Sim, na Inglaterra, numa casa de campo, em prisão domiciliar já há 500 dias. E sem nenhuma acusação formal contra mim.
RAFAEL CORREA: 500 dias... OK. [Para alguém ao lado] Melhor traduzir. [Em ing. “Prefiro o espanhol, ok?”].
JULIAN ASSANGE: [para a equipe] Acho que é possível. Todos prontos? Ação!
JULIAN ASSANGE: O que pensa o Equador, dos EUA, sobre o envolvimento dos EUA? Não lhe peço que faça alguma caricatura dos EUA. Mas... O que pensam os equatorianos sobre os EUA e o envolvimento dos EUA no Equador e na América?
RAFAEL CORREA: Como disse Evo Morales [presidente da Bolívia], os EUA são o único país que pode ter certeza de lá jamais haverá golpes de Estado – porque não há embaixada dos EUA nos EUA. [Assange e equipe riem].
Seja como for, quero dizer que uma das razões do mal-estar é que nós cortamos todo o financiamento que a Embaixada dos EUA pagava à polícia no Equador. Era assim, antes do nosso governo e continuou ainda, por um ano e pouco. Demoramos a corrigir isso. Havia unidades inteiras, setores chaves da Polícia, que eram completamente financiadas pela Embaixada dos EUA. Os chefes policiais eram selecionados pelo Embaixador dos EUA e pagos pelos EUA. A tal ponto, que aumentamos muitíssimo os soldos dos policiais, mas quase ninguém percebeu, porque recebiam soldos do outro lado. Acabamos com tudo isso. E há alguns que sentem saudades daqueles tempos. Mas são tempos que não voltarão ao nosso país e aos nossos países.
Quanto aos EUA, nossa relação sempre foi de muita amizade e carinho, mas sob um marco de respeito mútuo e de soberania. Eu, pessoalmente, vivi quatro anos nos EUA, estudei e graduei-me lá, tenho dois títulos acadêmicos norte-americanos, amo e respeito muito, muito, o povo norte-americano. Acredite que eu, de modo algum, jamais seria antiamericano. Mas sempre chamarei as coisas pelo nome. E se há políticas norte-americanas que são perniciosas para o Equador e para nossa América Latina, sempre as denunciarei abertamente e não permitirei que agridam a soberania do meu país.
JULIAN ASSANGE: Seu Governo fechou a base militar dos EUA em Manta. Pode dizer-me por que decidiu fechar aquela base?
RAFAEL CORREA: Ora... Você aceitaria uma base militar estrangeira no seu país? Como eu disse naquela época. Se é assunto tão simples, se não há problema algum em os EUA manterem uma base militar no Equador, ok, tudo bem: permitiremos que a base de inteligência permaneça no Equador, se os EUA permitirem que estabeleçamos uma base militar do Equador em Miami. Nessas condições, ok, sem problema. [Assange ouve a tradução e ri]. Fico feliz que você esteja se divertindo com essa entrevista. Também estou me divertindo.
JULIAN ASSANGE: Achei engraçadas as suas frases, presidente Correa [os dois riem]. Presidente Correa, por que o senhor pediu que revelássemos [que WikiLeaks revelasse] todos os telegramas diplomáticos?
RAFAEL CORREA: Porque quem nada deve nada teme. Nós nada temos a ocultar. De fato, os [telegramas divulgados por] WikiLeaks nos fortaleceram. A Embaixada dos EUA nos acusava [como se fosse crime] de sermos excessivamente nacionalistas e defendermos a soberania do governo equatoriano [os dois riem]. E é claro que somos nacionalistas! E é claro que defendemos a soberania do Equador! E os WikiLeaks, como mostrei há pouco [exibe um livro], falavam de todos os interesses que os EUA haviam investido nos meios de comunicação no Equador, dos grupos de poder que pediam ajuda, que marcavam hora para pedir ajuda em embaixadas estrangeiras.
Nós não tememos nada. Que publiquem tudo o que tenham a publicar sobre o governo do Equador. Não se encontrará nada contra nós. E veremos aparecer muitas informações sobre entreguismos, traições, acertos, feitos por muitos supostos opositores da revolução cidadã no Equador…
JULIAN ASSANGE: Posteriormente, o senhor expulsou do Equador a embaixadora dos EUA, como consequência da publicação dos telegramas de WikiLeaks. Por que a expulsou? Sempre acho mais interessante dizer ao embaixador... “Tenho esses telegramas desse embaixador. Já sei o que você pensa.” Não seria melhor manter lá o diabo que o senhor já conhecia?
RAFAEL CORREA: Ora, mas dissemos tudo isso à embaixadora. E ela respondeu – e com que arrogância! – que não nos devia explicações. Era inimiga absoluta de nosso governo, mulher de extrema direita, que permaneceu estacionada no marco da Guerra Fria dos anos 60. A gota d’água que fez transbordar o jarro foi WikiLeaks, que provava que o contato dela no Equador havia dito que o Chefe de Polícia era corrupto completo. E que eu, diziam os telegramas, o teria nomeado, mesmo sabendo que era corrupto, para controlá-lo.
Intimamos a embaixadora, para que prestasse explicações. E ela, arrogante, cheia de soberba e prepotência, com os ares imperiais que a caracterizavam, respondeu que não nos devia explicações. Como aqui no Equador, nós nos respeitamos e respeitamos nosso país, expulsamos imediatamente a referida senhora.
Quero dizer que há um mês, poucos meses, depois de quase um ano de investigações, o Comandante Hurtado, que foi falsamente acusado nesse telegrama de WikiLeaks pela embaixadora, foi declarado inocente de todas aquelas acusações daquela embaixadora, saiu limpo de todas as investigações de que foi objeto, e que fizemos. É uma prova a mais de como funcionários incompetentes ou mal intencionados, do governo dos EUA, porque absolutamente não admitem e manifestam a mais flagrante má vontade contra governos progressistas, informam qualquer coisa ao governo dos EUA, sem procurar qualquer comprovação, sem qualquer investigação, sem qualquer prova, baseados, só, em boatos, intrigas dos seus ‘contatos’, muitas vezes, mentiras interessadas, que ouvem dos seus contatos, todos adversários de nosso governo. E esses contatos são, normalmente, escolhidos entre os opositores dos nossos governos.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa, como foi, para o senhor, tratar com os chineses? É um país grande e poderoso. Ao negociar com os chineses, o senhor não estaria trocando um demônio, por outro?
RAFAEL CORREA: Para começar, não trabalhamos com demônios. Se nos aparece algum demônio, agradecemos e despachamos: não, muito obrigado. [Assange ri] Em segundo lugar, você tem de ver aí um pouco do entreguismo, do esnobismo, e até do neocolonialismo que anima as elites, por aqui, e alguns veículos de comunicação.
Quando 60% de nosso comércio e grande parte de nossos investimentos estavam concentrados nos EUA, e não nos davam 20 centavos para financiar o desenvolvimento do país, ninguém reclamou de demônio algum, era como se não houvesse problema. Agora, quando somos o país que mais recebe investimentos chineses na região – e talvez porque os chineses não são altos, louros, de olhos azuis, viram demônios e tudo é problema. Chega disso!
Se a China já está financiando até os EUA! Que bom que financie o Equador! Que bom que nos ajude para fazer aqui uma extração responsável, de petróleo! Minas, hidroelétricas. Mas não recebemos financiamentos só da China. Recebemos financiamento russo, brasileiro, diversificamos nossos mercados e nossas fontes de financiamento. Mas há gente que nasceu acabrestado, com sela e rédea, e quer continuar com a dependência de sempre. É só isso.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa, como o senhor sabe, luto, há muitos anos, a favor da liberdade de expressão, pelo direito de as pessoas se comunicarem, pelo dever de publicar e dar aos públicos informação verdadeira. O que o senhor fará, para que suas reformas não acabem com a liberdade de expressão?
RAFAEL CORREA: Bem... Você mesmo é ótimo amostra, Julian, de como é a imprensa, essas associações como a Sociedade Interamericana de Imprensa, que nada é além de um clube de donos de jornais na América Latina. Sobre seu WikiLeaks, publicaram-se muitos livros, o mais recente dos quais é de dois autores argentinos, no qual analisam país por país, Wiki Midia Leaks [1] . No caso do Equador, demonstra como, desavergonhadamente, os veículos não publicaram os telegramas que os prejudicavam. Por exemplo, disputas entre empresas de comunicações. E todos, afinal, decidiram não publicar suas próprias sujeiras, para não prejudicar nenhum deles. Leio para você a tradução, em espanhol, de um dos telegramas WikiLeaks que a imprensa nunca publicou no Equador.
RAFAEL CORREA: [lendo] “…o fato de que a imprensa sinta-se livre para criticar o governo, mas não um banqueiro fugitivo e os negócios da família do banqueiro, mostra muito sobre onde está o poder no Equador…” [Mostra as páginas do livro] E esses são os telegramas que WikiLeaks divulgou e jamais foram publicados na imprensa do Equador. Para que você entenda um pouco o que enfrentamos no Equador e na América Latina.
Nós acreditamos, que os únicos limites que devem pesar sobre a informação e a liberdade de expressão são os que já existam nos tratados internacionais, na Convenção Interamericana de Direitos Humanos: a honra e a reputação das pessoas; e a segurança das pessoas e do estado. Quanto a todo o resto, quanto mais gente saiba de tudo, melhor.
Você manifestou seu temor – o mesmo que sentem todos os jornalistas, de boa fé –, mas que não passam de estereótipos do medo de que o poder do estado limite a liberdade de expressão. Isso praticamente não existe na América Latina, praticamente não há aqui nenhuma liberdade de expressão. Fala-se só de idealizações, de mitos.
Vocês precisam entender que, por aqui, o poder “midiático” foi, e provavelmente ainda é, muito maior que o poder político. De fato, o poder “midiático” tem imenso poder político, em função de seus interesses, poder econômico, poder social. E, sobretudo, têm poder monopolístico para informar.
Os veículos têm sido, aqui, os maiores eleitores, os maiores legisladores, os maiores juízes, os que criam a alimentam a ‘agenda’ da discussão social, os que sempre submeteram governos, presidentes, cortes de justiça, tribunais.
Temos de tirar da cabeça essa ideia de que, de um lado, só haveria jornalistas pobres e perseguidos, empresas jornalísticas angelicais, empresas e veículos dedicados a informar a verdade dos fatos; e, de outro lado, só haveria ditadores, autocratas, tiranos que vivem para tentar impedir que a verdade chegue ao povo.
Os governos que trabalhamos para fazer algo pelas maiorias, somos – nós – violentamente perseguidos por jornalistas que entendem que, por ter uma pena ou um microfone, ganhariam algum direito de vingar-se dos desafetos pessoais. Porque, muitas vezes, caluniam, mentem, injuriam exclusivamente por alguma inimizade pessoal. Os veículos de comunicação são, aqui, instrumentos dedicados a defender interesses privados.
É importante, por favor, que o mundo todo entenda o que se passa na América Latina.
Quando tomei posse na presidência, havia aqui sete canais de televisão nacionais. Nenhum público; todos privados. Cinco pertenciam a banqueiros. Imagine a situação: eu queria tomar uma medida contra os bancos, para evitar, por exemplo, a crise e os abusos que, hoje, todos estão vendo acontecer na Europa, sobretudo na Espanha. E houve uma campanha violentíssima, pela televisão, para defender os interesses dos banqueiros empresários donos das empresas, dos proprietários dessas cadeias de televisão, todos banqueiros.
Que ninguém se engane mais. Temos de esquecer essas mentiras e estereótipos de governos ‘do mal’, que vivem a perseguir valentes e angelicais jornalistas e empresas e veículos de comunicação. Com muita frequência, Julian, acontece exatamente o contrário.
Essa gente travestida de jornalista vive de fazer política, só se interessa em desestabilizar nossos governos democráticos, para impedir qualquer mudança na nossa região. Porque, com mudança democrática, eles perdem o poder que sempre tiveram e ostentaram.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa, estou de acordo com o que o senhor diz do mercado dos veículos e meios. Já aconteceu exatamente assim, também conosco, mais de uma vez: grandes organizações jornalísticas, com as quais trabalhamos – Guardian, El País, o New York Times e Der Spiegel – censuraram o nosso material ao publicar, por motivos políticos, ou para proteger oligarcas como Tymoshenko da Ucrânia (que escondia sua fortuna em Londres); ou grandes empresas petroleiras italianas corruptas, que operavam no Cazaquistão. Temos provas disso tudo, porque sabemos o que há no documento original e o que publicaram, e o que foi omitido. Mas entendo que o melhor modo para enfrentar os monopólios e os duopólios e os cartéis num mercado é separá-los; ou criando melhores condições para que novas empresas entrem no mercado.
O senhor não tem interesse em criar um sistema que permita o fácil acesso ao mercado editorial, de modo a que empresas jornalísticas editoriais pequenas e indivíduos sejam protegidos (não regulados) e as grandes empresas editorais e grupos ‘midiáticos’ sejam separadas e reguladas?
RAFAEL CORREA: Julian, estamos tentando fazer exatamente isso. Há mais de dois anos discute-se uma nova lei de comunicação, para dividir o espectro radioelétrico, quer dizer, o espectro para TV e rádio, para que só 1/3 seja privado com finalidades comerciais; 1/3 para propriedade comunitária, sem finalidades comerciais; e 1/3 de propriedade do Estado – não só o governo nacional; também os governos locais, municipais, departamentais.
Mas a lei não avança. Há dois anos, apesar de haver ordem constitucional aprovada nas urnas em 2008, ratificada pelo povo equatoriano por consulta popular ano passado. Pois, apesar de tudo isso, a nova lei foi e continua a ser sistematicamente bloqueada pelas grandes empresas, nos grandes veículos. Para eles, é “lei da mordaça”. Para eles e pelos deputados e senadores assalariados que as empresas mantêm, a soldo, na Assembleia Nacional, e que lá estão para defender aqueles interesses.
O que estamos fazendo é claro: democratizar a informação, a comunicação social, a propriedade dos veículos e meios de comunicação. Por isso mesmo, obviamente, enfrentamos a acérrima oposição que nos fazem os proprietários dos veículos e meios de comunicação e dos seus corifeus alugados, que atuam em todo o espectro político no Equador.
JULIAN ASSANGE: Recentemente, nesse programa, entrevistei o presidente da Tunísia, e perguntei a ele, se o surpreendera o pouco poder que os presidentes têm, para mudar as coisas. O senhor também observou isso?
RAFAEL CORREA: Olhe... Muitos trabalham para satanizar os líderes políticos, porque uma das grandes crises pelas quais a América Latina passou nos anos 90, até o começo desse século, durante a longa e triste noite neoliberal, foi a crise de lideranças políticas.
Afinal, o que significa “ter liderança”, “ser líder”? Significa capacidade para influir sobre os demais. É claro que pode haver boas lideranças políticas, pessoas que usam a capacidade que têm para liderar, para servir a causa dos outros. E claro que também há maus líderes – dos quais, lamentavelmente, houve muitos na América Latina –, que utilizam a capacidade que têm, mas apenas para servir-se dos demais.
Entendo que os líderes são importantes sempre, mais ainda em processos de mudança.
É possível imaginar a independência dos EUA, sem os comandantes que houve lá? Sem aqueles líderes? É possível imaginar a reconstrução da Europa depois da IIa. Guerra Mundial, sem os grandes líderes que houve lá? Contudo... Quando se trata de fazer oposição às mudanças na América Latina, onde há líderes fortes, mas líderes democráticos e democratizantes, inventam logo que a liderança é caudilhista, populista, sempre má liderança, nunca boa liderança.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa…
RAFAEL CORREA: Essa liderança é ainda mais importante... (Julian, permita-me concluir a ideia, por favor)... quando não se está administrando um sistema.
Na América Latina, no Equador, hoje, não estamos administrando um sistema: estamos mudando um sistema. Porque o sistema que nos acompanhou ao longo de séculos foi fracasso total. Fez de nós a região de maior desigualdade no mundo, onde só a miséria é muita, a pobreza, e numa região que tem tudo para ser a região mais próspera do mundo. As coisas aqui não são como nos EUA.
Que diferença há entre Republicanos e Democratas, nos EUA? Há mais diferença entre o que eu penso pela manhã e o que eu penso à noite, do que entre um Republicano e um Democrata norte-americano [Assange ri]. Isso acontece porque, lá, estão administrando um sistema.
Nós, aqui, estamos mudando um sistema. Aqui as lideranças são necessárias e importantes. Aqui, é indispensável o poder ser legítimo e democrático, para que a mudança seja legítima e democrática, para que se mudem as estruturas e a instituições e a institucionalidade nos nossos países, agora em função das grandes maiorias.
JULIAN ASSANGE: Minha impressão é que o presidente Obama não é capaz de controlar as enormes forças que se movem à volta dele. Será sempre assim, com todos os tipos de líderes? Como o senhor conseguiu introduzir tantas mudanças no Equador? Será sinal dos tempos que vivemos? Será resultado de sua liderança pessoal? Da força de seu partido? Que força, afinal – é o que quero saber – é essa, que permite que o senhor faça algo, no Equador, que Obama não consegue fazer, nos EUA?
RAFAEL CORREA: Permita-me começar pelo fim. O compromisso, as concessões, o consenso é desejável, mais não é um fim em si. Para mim, mais fácil seria conseguir algum consenso; chegaria mancando, cedendo, e satisfaria muita gente. Mas não mudaria coisa alguma. Satisfaria, principalmente, os poderes de fato nesse país. E tudo continuaria como antes. Há momentos em que o consenso é impossível. Às vezes, é necessário o confronto. Com a corrupção, por exemplo, não há consenso possível. A corrupção tem de ser enfrentada. O abuso do poder? Tem de ser enfrentando. Não há consenso possível, com a mentira; a mentira tem de ser desmascarada. Absolutamente não se pode fazer concessões a esses vícios sociais, tão graves para nossos países.
É erro imaginar que o que está sendo feito no Equador esteja sendo feito por mim. É erro. Os povos mudam, os países mudam. Não precisam de liderança para mudar. Talvez precisem de algum tipo de líder para coordenar. Mas se o país muda, é por vontade de todo o povo. Nosso governo foi levado ao poder pela indignação de todo o povo equatoriano.
Talvez aí esteja o que ainda falta, um pouquinho, ao povo norte-americano, para que o presidente Obama obtenha capacidade para promover mudanças reais no país. Que a indignação que já está nas ruas, esse “Occupy Wall Street”, esse protesto de cidadãos comuns, normais, contra o sistema, que ganhe impulso, que se torne mais orgânico, mais permanente. E que, nesse caso, dê forças ao presidente Obama para que possa fazer as mudanças pelas quais o sistema terá de passar, nos EUA.
JULIAN ASSANGE: Quero saber até que ponto o senhor acredita que o Equador irá, no longo prazo, até onde irá a América Latina. Acho que, até certo ponto, há boas coisas, como se sabe, a integração continental na América Latina, a melhoria nas condições de vida, e o fato de que os EUA e outros países têm, a cada dia, menos influência na América Latina. Mas... Onde o senhor acredita que estará, dentro de dez, vinte anos?
RAFAEL CORREA: Você disse bem: a influência dos EUA na América Latina está diminuindo – isso é bom. Por isso, precisamente, dizemos que a América Latina está passando, do “consenso de Washington”, para o consenso sem Washington.
JULIAN ASSANGE: [ri] Talvez venha a ser o Consenso de São Paulo.
RAFAEL CORREA: Um consenso sem Washington. Exatamente. E é bom, porque essas políticas que nos mandavam do norte não eram feitas em função das necessidades da nossa América, mas em função dos interesses daqueles países, e, sobretudo, dos capitais daqueles países. Se você analisa a política econômica – e, modéstia à parte, disso entendo um pouco –, até talvez tenham sido boas, em algum momento. Mas, tenham sido boas ou más, em certos momentos, todas tiveram o mesmo denominador comum: interessavam, primeiro de tudo, ao grande capital, e, sobretudo, ao capital financeiro. E isso, finalmente, está mudando.
Tenho muitas esperanças. Sou muito realista. Sei que avançamos muito, mas muito ainda temos de andar. Sei que o que já andamos não é irreversível, que podemos perder tudo, se os mesmos de sempre voltarem a dominar nossos países. Mas estamos muito otimistas.
Acreditamos que a América Latina está mudando e, se continuarmos por essa rota de mudança, a mudança será definitiva. Nossa América não está passando por uma época de mudança, mas por uma mudança de época. Se mantivermos nossas políticas de defesa da soberania, com políticas econômicas nas quais a sociedade controla o mercado, não que o mercado domina a sociedade e converte a própria sociedade, as pessoas, a vida, em mercadoria. Se mantivermos essas políticas de justiça e igualdade social, superando imensas injustiças, de séculos, sobretudo no que tenham a ver com os grupos nativos, os afrodescendientes, etc., a América Latina terá um grande futuro. É a região do futuro. Temos tudo para sermos a região mais próspera do mundo. Se temos conseguido pouco, foi pelas políticas más, pelos maus dirigentes, maus governos. E isso está mudando nessa nossa América.
JULIAN ASSANGE: Obrigado, presidente Correa...
RAFAEL CORREA: Foi um prazer conhecê-lo, Julian, pelo menos por esse meio. E ¡Ánimo! ¡Ánimo! Seja bem-vindo ao clube dos perseguidos.
JULIAN ASSANGE: Obrigado. [risos] E cuide-se. Não deixe que o matem.
RAFAEL CORREA: Ah, sim. [risos] Evitar isso é trabalho de todos os dias. Gracias.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A urgência da união sul-americana

Não há mais espaço para a dúvida: a América do Sul terá que unir-se com urgência, para que não se torne território aberto à disputa feroz pelos seus recursos naturais, no futuro que se apressa a chegar. Ao lado da África, a América Latina sempre foi vista como um território de todos, menos de seus próprios habitantes. Em nome da Fé e da Civilização, espanhóis e portugueses, holandeses e franceses, aqui chegaram para ocupar e dominar as civilizações existentes, como as andinas.

Nesse aspecto, o Brasil é uma exceção importante: os indígenas brasileiros ainda se encontravam no neolítico, ao contrário dos habitantes da cordilheira, senhores de uma cultura respeitável. Isso parece pouco, mas não é. Dos europeus que tentaram a conquista, os ibéricos tiveram mais êxito, não só na América do Sul, mas também em grande parte da América do Norte, até a chegada em massa dos seus rivais britânicos. O que nos interessa, no entanto, é esse continente em suas razões geográficas, políticas, econômicas e culturais. E não “subcontinente”, como muitos insistem em nos considerar.

Geograficamente, nós constituímos uma realidade própria. Ainda que o istmo do Canadá una o Hemisfério Ocidental, e que grande parte da América do Sul política se encontre ao norte do Equador, e nela considerável parcela do Brasil, da Colômbia à Terra do Fogo somos uma realidade geográfica e histórica bem identificada. Sempre foi do interesse dos colonizadores que vivêssemos, brasileiros e hispano-americanos, bem separados uns dos outros.

Mesmo durante os 60 anos em que as coroas de Portugal e da Espanha estiveram unidas, a administração colonial se manteve separada e os contatos se limitavam às autoridades. Nossos povos não se conheciam, a não ser nos raros pontos fronteiriços.

Ao desdenhar os nossos povos, o arrogante Kissinger disse que nada de importante ocorreu no Hemisfério Sul. Ele, em sua visão preconceituosa e imperialista, se esqueceu de que a descoberta e conquista da América foram o fato mais importante de toda a História do Ocidente.

Essa importância começa com a viagem de Colombo, em 1492, mais arriscada do que a ida do homem à Lua. Os astronautas que desceram no satélite da Terra foram precedidos de sondas e exaustivos cálculos matemáticos; da metalurgia de novas ligas metálicas para as aeronaves, de todos os cuidados. Os navegantes do fim do século XV só contavam com sua coragem a fim de vencer o Mar Oceano em frágeis caravelas.

Devemos a Napoleão o surgimento da América do Sul como realidade política. Antes dele e da invasão da Península Ibérica por suas tropas, a América do Sul era assunto britânico, por intermédio de Lisboa e de Madri. A vitória de Waterloo confirmou a presença britânica no continente até a Primeira Guerra Mundial.

Éramos, segundo Hegel, em seu Curso de Filosofia da História, entre 1818 e 1822, uma região em constantes rebeliões chefiadas por caudilhos militares, enquanto a América do Norte, sob a razão protestante, anunciava uma nova civilização. Mas insinuava certo otimismo:

“A América é, portanto, a terra do porvir, onde, nos tempos futuros se manifestará, talvez, no antagonismo da América do Norte com a América do Sul, o ponto de gravidade da História Universal. É uma terra de sonho para todos aqueles que se encontram cansados do bric-à-brac da Velha Europa. Napoleão teria dito: Esta velha Europa me entedia.”

E continua: “A América deve se separar do solo sobre o qual se passou, até agora, a história universal”.

Estamos no momento exato de separar-nos da velha Europa, coisa que os Estados Unidos só serão capazes de fazer quando os hispano-americanos se tornarem a etnia predominante naquele país. A hora é, portanto, da América do Sul. E o primeiro movimento necessário nessa direção é o fortalecimento do Mercosul.

Essa constatação foi a tônica do primeiro encontro sobre “Crise, Estado e Desenvolvimento: Desafios e Perspectivas para a América do Sul”, promovido pela Representação Brasileira no Parlasul, por iniciativa do Senador Roberto Requião, sexta-feira passada, no Senado, de que participaram o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, Alto Representante Brasileiro no Mercosul, o Professor Carlos Lessa e este colunista. Temos que nos apressar, e negociar com o espírito de solidariedade efetiva, a quebra de barreiras internas no continente, base necessária aos acordos políticos.

Nesse sentido, é interessante a proposta ousada da Argentina, de estabelecimento de uma tarifa comum, de 35% por cento, para a entrada de produtos estrangeiros no Mercosul, e abolição total das tarifas no espaço do acordo aduaneiro.

A História mostra – e o exemplo mais importante é o da Alemanha – que a união política necessita de uma união aduaneira prévia. Ainda em 1834, a Prússia iniciou esse processo de união aduaneira (Zollverein) com os numerosos estados alemães, o que possibilitou a união política quase 50 anos depois.

Mas uma união aduaneira exige mais do que interesses econômicos, para se tornar uma união política. Exige certa identidade étnica, espírito de solidariedade e semelhante visão do mundo, o que ocorria na Alemanha, antes e depois de Bismarck, e que não existe na Europa de hoje. Temos, na América do Sul, não obstante a identidade cultural própria de nossos povos, certa identidade étnica, história mais ou menos comum de países que foram colônias, continuidade geográfica e espírito de solidariedade.

Pressionados pela crise que provocaram, os governantes dos países nórdicos sentem-se tentados a nova aventura de conquista, econômica, política e, se for preciso, militar, da América do Sul. Pelo que fizeram e estão fazendo nos países produtores de petróleo, podemos prever o que se encontram dispostos a fazer em busca das matérias primas e dos nossos territórios que cobiçam. Para que não sejamos dominados neste século, como advertia Perón em 1945, temos que nos unir, logo, sem tergiversações menores, e respeitando-nos como povos rigorosamente iguais.

O problema, mais do que ideológico, é geopolítico. É o do nosso espaço, que eles consideram vital para eles. Nosso dever, na História, é o de resistir e construir nova forma de convívio, criador e solidário, no espaço que ocupamos há meio milênio.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

sábado, 19 de maio de 2012

Mídia e crise: os conselheiros da servidão

A sociedade grega vive uma das escolhas mais difíceis da história:agarrar-se às migalhas da servidão ou lutar contra ela com o risco de perder? De um lado o abismo conhecido, de outro o escuro sem nome. Seu povo foi levado ao corredor da morte pela endogamia entre uma elite dissociada dos interesses da população e uma matilha de espoliadores financeiros que reduziu o país a um simulacro de Nação soberana.

O PIB da Grécia despenca desde 2008; deve fechar em 2012 1/5 menor que o nível pré-crise. Os aposentados foram 'convidados' a viver com pensões entre 20% a 30% menores;o salário mínimo foi cortado em 20% e o desemprego lambe a borda dos 25%. Todo o país está sendo extirpado nessa proporção.

Macrodados não conseguem traduzir o que se passa nas vísceras de uma agonia quando ela atinge esse padrão. São os detalhes que exprimem a brutalidade quando as taxas de suicídio dão um salto de 40%. O orçamento grego da educação sofreu um corte de 60% este ano. Nenhum organismo subsiste ceifado em 60% do seu todo: nem a merenda foi poupada do arrocho imposto pelos credores. Das periferias mais pobres chegam relatos de desfalecimentos em sala de aula: fome.

A tragédia miúda funciona como uma endoscopia das consequências sociais e éticas de se preservar a riqueza financeira quando o mecanismo que a sustenta colapsou nos seus próprios termos. A riqueza financeira é o grande cadáver desta crise que resiste insepulto. Exercer seu direito de saque sobre a riqueza material da sociedade implica a partir de agora cortar a merenda das crianças que desmaiam de fome nas periferias da Grécia. É preciso desinflar o poder leonino da banca mas não será o mercado a fazê-lo. Talvez as urnas; quem sabe as ruas. Sempre a política.Nunca as leis da autossuficiência mercadista.

A camada de gelo fino trinca na primavera sombria da Europa.Mas é o lago todo que se revolve por baixo. As engrenagens vitais do mecanismo econômico colapsaram; em vez de emprestar à produção e ao consumo os bancos mantém mais de 600 bilhões de euros no BCE depois de receberem dele um socorro de liquidez de valor equivalente. A cobra come o próprio rabo.

A rigor a zona do euro já não dispõe de um sistema bancário no sentido estrito termo; a banca tornou-se aqui o termômetro e a febre da crise. Não empresta e já não consegue captar; suas reservas começam a ser corroídas pelo saque.

A corrida teve início na Grécia. Primeiro, os estrangeiros impuseram um acordo de ajuste pelo qual seu ressarcimento precede as urgências da Nação. Todos os empréstimos de socorro fornecidos ao país servem, de fato, para retornar aos bolsos dos credores.

Agora os residentes engrossam a revoada. Ela ainda não atravessou a fronteira que separa o medo do pânico, mas já ultrapassou a ponte do contágio. Nesta 5ª feira, os espanhóis começaram a sacar suas poupanças.

As ações de bancos puxam o mergulho das Bolsas na 4ª maior economia do euro. Se a Grécia tombar, a Espanha ocupará sua vaga na fila do vazio. O país está sendo picado, como se pica um touro na arena antes de matá-lo.Os especuladores sangram o corpo espanhol de um lado; a direita no governo lhes oferece mais carne humana do outro.

Nesta 5ª feira , Rajoy -- o semblante aterradoramente imperturbável da direita que trincha a nação num cepo de açougue-- aprovou mais cortes na saúde e na educação. É um massacre. A exemplo do que se vê na Grécia, pode ser inútil. O dinheiro arisco só aceita financiar o Estado espanhol cobrando juros cinco pontos acima dos pagos por papéis alemães. E só a curto prazo. Quem ainda tem emprego perde poder aquisitivo de forma devastadora. A direita é aplicada e não erra o corte no nevoeiro da crise. Está há apenas cinco meses no poder, mas entregou o prometido: a distribuição da renda nacional já se inverteu a favor dos patrões.Em 2010 os assalariados espanhóis tinham 48,5% da renda; os patrões 43%; hoje as fatias são respectivamente de 45,5% e 46,5%.

O cemitério social enfileira seus cortejos na Europa.Mas a mídia conservadora não arreda pé. A inércia dos aparatos ideológicos bate continência nas colunas, manchetes, na hierarquização do noticiário, nos editoriais explícitos e nos tantos quantos implícitos. 'Não há alternativa', advertem em jogral macabro. Pior que sangrar nas mãos dos mercados é a hemorragia de quem tenta enfrentá-los. Não há salvação fora do ajuste. É a hora da verdade depois da 'gastança'; a cada um o que é seu: a liquidez garantida aos credores; o ocaso ao resto.

Uma palavra, porém, desconcerta a esférica ordem unida da servidão comandada pela mídia: Argentina. Em 2003, quando começou o ciclo Kirchner, a Argentina era uma espécie de Grécia da América do Sul. Desacreditada aos olhos de seu próprio povo, balançava nas mãos dos mercados especulativos. Nestor Kirchner herdou do extremismo neoliberal uma taxa de pobreza que afetava 60% dos 37 milhões de argentinos.

A dívida impagável de US$ 145 bilhões comprometia a geração presente, seus filhos, os filhos e netos que um dia eles teriam. A moratória desesperada de 2001 terminara por entupir os mecanismos de crédito e financiamento, sem os quais nenhuma economia funciona. Os credores sobrevoavam a nação argentina como urubus. O cerco contra o país era brutal. A mesma mídia que hoje diz aos gregos não há alternativa interditava o debate de qualquer política que não fosse a da rendição. Poucos listavam-se entre os aliados.

Mesmo no Brasil, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, impunha distância sanitária entre Kirchner e Lula, em sintonia com a pressão internacional.

Para se ter a dimensão do cerco vivido então pela Casa Rosada, basta multiplicar por dez a pressão que a liderança do euro, a mídia, os banqueiros e o FMI fazem hoje contra o povo grego.

Nestor Kirchner não se dobrou: deu sentido estratégico à moratória; impôs um desconto de 70% da dívida aos credores; destinou a receita crescente a programas sociais e de fomento. A taxa de pobreza recuou a 10% da população. A economia argentina foi a que mais cresceu no hemisfério ocidental na última década.

A rebelião não foi impune. Nenhuma rebelião é impune. Falseiam os que vendem passagens para algum paraíso histórico desconhecido. Rupturas envolvem custos e a Argentina pagou e paga os seus. A banca ergueu um cerco internacional obstruindo o acesso do país ao crédito em dólares. Uma parte da população sofreu adicionalmente na travessia entre a velha e a nova ordem. Mas hoje o país nem de longe lembra o campo de concentração da esperança que o asfixiava antes de optar por um caminho próprio

As circunstâncias desse braço de ferro são espertamente omitidas pela crítica conservadora, que desdenha dos êxitos inegáveis registrados; é preciso a qualquer custo depreciá-los como um ponto fora da curva, um fogo fátuo de populismo anacrônico, inflação maquiada e boom passageiro de commodities.

Com todas as vulnerabilidades, o dissenso argentino faísca no imaginário da crise como uma opção de reerguimento histórico face ao martírio do moedor ortodoxo em ação na Grécia, Espanha, Portugal e outros. Diante do catastrófico funeral em curso seu exemplo ecoa como um ruído intolerável a arguir a narrativa midiática com o vírus da dúvida: o que é pior, sucumbir pela asfixia ortodoxa ou lutar como fez a nação argentina, na busca de um recomeço com soberania e dignidade?
Postado por Saul Leblon carta maior

O ANTINACIONALISMO NOS JORNAIS

Os grandes jornais sempre se opuseram ao nacional e ao popular, e assim combateram a campanha do “Petróleo é nosso” e ainda hoje rejeitam a Petrobrás. Foto: José Vieira Trovão / Ag. Petrobras

Na CartaCapital

NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA

Por Roberto Amaral,

“Leitor da seção “O Globo há cinquenta anos”, recomendo sua leitura por alunos e professores em sala de aula. Ali, quase diariamente, encontra-se um repositório notável do atraso de nossa vida republicana, o que nos possibilita conhecer o papel de nossa imprensa corporativa como eficiente correia de transmissão da ideologia da Guerra Fria (importando um embate que não nos dizia respeito e trazendo para cá a visão estadunidense), invariavelmente de costas para os interesses nacionais, avessa aos interesses populares e sempre atenta aos negócios do grande capital, principalmente o capital internacional.

Escrevo “nossa imprensa” de forma proposital, pois “O Globo” não era, não foi e não é uma exceção nesse servilismo aos interesses antinacionais e, sobretudo, contrários ao desenvolvimento do país e a tudo que diga respeito ao povo. O cheiro dos marmiteiros sempre ofendeu ao olfato sensível dos comensais dos “Le bec fin”.

Por coerência, os grandes jornais sempre se opuseram ao nacional e ao popular, e assim combateram a campanha do “Petróleo é nosso” e ainda hoje rejeitam a Petrobrás e se arrepiam, irritadiços, sobressaltados, diante de qualquer movimento que lhes possa sugerir o menor sintoma de nacionalismo (ou defesa dos interesses nacionais) que possa pôr em risco o projeto do grande Império. Ou de defesa do Estado. E sempre que este submerge, quem paga o pato são os interesses da Nação e dos mais pobres.

demotucanos e mídia rejeitam o sucesso da Petrobras estatal
Exemplar do que afirmo é a primeira página da edição do “Globo” do dia 26 de abril de 1962. Depois de anunciar com alegria a “Primeira explosão nuclear no Pacífico”, "sem danos ambientais" (embora também diga que “o engenho lançado de um avião, que voava a grande altitude, desencadeou uma força explosiva calculada entre 20.000 e um milhão de toneladas de TNT”), o jornal condenava a ameaça de aprovação do projeto do deputado Aarão Steinbruch que instituía o 13º salário: “Os meios financeiros consideram altamente inflacionária e de consequências desastrosas para a economia nacional a implantação de um 13º salário”.

A previsão catastrofista vem no discurso do oráculo do conservadorismo de então: “Deixando de lado a agricultura, para a qual faltam dados positivos, o economista Eugênio Gudin calcula em cerca de Cr$ 80 bilhões a sobrecarga que o aumento representaria no orçamento das empresas”.

Contam os fatos que o projeto foi aprovado e que sua aplicação acumula, hoje, 50 anos de sucesso. Nenhuma empresa faliu por conta dele, o comércio ganhou (e ainda hoje festeja a iniciativa) e começávamos ali a investir no que até os ortodoxos reconhecem ser a alternativa de nossa economia, a saber, o fortalecimento do mercado interno.

Na contramão da História, a mesma imprensa combatia, desde sua instituição, tanto o salário mínimo (Decreto-Lei nº 22.162 , de 12 de maio de 1940), quanto seus reajustes anuais, sempre apontados como inflacionários. Assim, em 1954, o anúncio de um reajuste de 100%, afinal concedido, provocou grande campanha de imprensa, a edição de um famoso e subversivo “Memorial dos Coronéis” e, afinal, a demissão do Ministro do Trabalho, João Goulart.

Ministro do Trabalho João Goulart, demitido por sua luta por melhores saláarios para os trabalhadores
Jamais aumentar salários, jamais regular a remessa de lucros para o exterior, taxar as grandes fortunas e as grandes heranças. Jamais estabelecer alíquotas crescentes do Imposto sobre a Renda. Derrubar a CPMF e assim desfalcar o orçamento de nada menos que o ministério da Saúde, ah! isso, sim… Para “destravar a economia”? Não. Seu objetivo era reduzir o controle das movimentações financeiras.

Lembremo-nos de que um dos primeiros atos dos golpistas de 1964 foi a revogação da lei de remessa de lucros…

Agora, já começa a mesma imprensa a dizer que o combate aos juros altos, aumentando o crédito ao consumidor, pode constituir-se em agente inflacionário. Todos os países do mundo podem ter juros mais baixos que o nosso e muitos deles crescer em índices superiores ao nosso. Mas o Brasil, não. Esquecem-se os catastrofistas, e esquecem propositalmente, que nosso país sempre cresceu por força da expansão de seu mercado interno, responsável, ademais, pela resistência de nossa economia ao abalos exógenos, de que é exemplo esta última (no sentido de a mais recente) crise do capitalismo financeiro.

O panorama internacional é de desaceleração (e sabemos hoje que as potências europeias não conhecem vacina para a crise, cenário persistente ainda por muitos anos), principalmente na medida em que insistem na suicida política recessiva, imposta unilateralmente (contra os países e suas populações) por uma Alemanha governada pelos interesses dos banqueiros.

A desaceleração das grandes economias, seja qual for o comportamento da China, cuja taxa de crescimento tende a decair sob controle (felizmente), indica, para países como o Brasil, uma queda de suas exportações, principalmente em setores como a exportação de produtos primários, ‘commodities’ e minérios.

Esse panorama, que assim se descreve desde a aceleração da crise, cobra da economia brasileira o fortalecimento do mercado consumidor interno. Consumidor, bem entendido, na medida em que tiver trabalho e renda.

O fortalecimento desse mercado interno – antigo e permanente pleito da esquerda brasileira – é uma das mais significativas conquistas do governo Lula. Para tal objetivo foi importante o ‘Bolsa Família’, foram importantíssimas as políticas de transferências previdenciárias e de assistência social e o apoio à agricultura familiar. Mas fundamental foi o aumento de algo como 60% do salário mínimo. Essas medidas foram responsáveis, em seu conjunto, pela criação do que se chama de Classe C (ou de uma nova classe C), cujo poder de compra é equivalente a 12% do PIB.

Essa política é aprofundada pela presidente Dilma quando, corajosamente, decide enfrentar a ganância do sistema financeiro insaciável e irresponsável, impondo uma política de juros consentânea com nossa realidade e as necessidades de nosso mercado, a saber, aumentando o acesso ao crédito, de que decorre o aumento do poder de compra do mercado interno, a reativação do comércio e da indústria, transformando em virtuoso o círculo vicioso da recessão que aumentaria a recessão.

Nesse ponto, identificamos um salto de qualidade da atual política, na medida em que se livra dos grilhões do sistema financeiro (parasita por definição) e se associa ao capital produtivo, construindo novas perspectivas de vida para as grandes massas, sempre marginalizadas pelos monetaristas de plantão.

Sabe-se, porém, que a nova política de Dilma, nada obstante sua decisão pessoal, não seria exequível se o governo não dispusesse do tripé Banco do Brasil-Caixa Econômica Federal-BNDES, quase privatizados pela insânia neoliberal.

O neoliberal FHC, famoso (e idolatrado pela mídia) pelo seu governo antinacionalista
A política Lula-Dilma, assim, incorpora ao desenvolvimento sua fundamental dimensão social, o acesso à cidadania das populações mais pobres.

Enquanto isso, do outro lado do Equador, as economias classicamente desenvolvidas (EUA, Inglaterra e Japão, para não lembrar Grécia, Irlanda, Espanha e Itália…) convivem com altas taxas de desemprego, baixíssimas taxas de crescimento (tendendo para a estagnação) e no limiar da recessão, com seu perverso custo político, as restrições ao Estado do bem-estar, a xenofobia, as restrições ao livre-trânsito dos nacionais em suas fronteiras, e, mesmo, a realimentação da direita, na França com o fortalecimento da herdeira de Le Pen e na Grécia com o reaparecimento de um arremedo de nazismo, e como tal tanto abjeto quanto grotesco.

A combinação de recessão, miséria e desemprego foram sempre o caminho mais curto para a instauração das tiranias.

De outra parte, os países que se afastaram do monetarismo e do catecismo neoliberal, como o Brasil, retomaram o crescimento, aumentaram suas taxas de emprego e até aqui mantêm sob controle a ameaça da recidiva inflacionária, e, assim, em situação melhor que os “ricos” a enfrentar a crise global, uma crise do sistema privado que estourou no colo do setor público.

Por isso mesmo, cada vez mais consolidamos a opção democrática e começamos a transitar da democracia formal (política), para o que, num amanhã ainda distante, poderemos chamar de democracia real (à falta de denominação mais adequada), aquela que realizará a justiça social.”

FONTE: escrito por Roberto Amaral, na revista CartaCapital.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Investigar “outro lado” na ditadura: seria igualar nazistas à Resistência Francesa




No Brasil, tentariam igualar Aubrac a nazistas?

por Rodrigo Vianna

Raymond Aubrac morreu no mês passado. Tinha 97 anos, viúvo. Na França, era tratado como herói. Lutou de armas na mão contra os nazistas e contra os franceses colaboracionistas, que aceitaram manter um regime fantoche em apoio a Hitler.

Aubrac e a mulher, morta há uma década, foram líderes da Resistência Francesa. Se morassem no Brasil, parte dos comentaristas e colunistas da direita brazuca certamente diriam que eles tinham sido ”terroristas”. Sim, Aubrac lançou bombas, deu tiros. Foi preso, escapou milagrosamente dos nazistas. Tinha inimigos. E lutou. E não deixou de lutar. Depois da Guerra, tornou-se amigo de Ho-Chi-Min. E na última campanha eleitoral, declarou apoio a Hollande, do Partido Socialista. Ele tinha um lado.

Um homem precisa ser “neutro” pra lutar por Justiça? Tolice. Mais que tolice. Argumento falacioso a proteger criminosos de guerra. Seja na Europa ou na América do Sul. Aqui, às vezes cola. Lá, não cola…

No Brasil, Aubrac e a mulher talvez fossem chamados de “petralhas”. Mais que isso. Talvez aparecesse um ex-ministro tucano dizendo que “os dois lados” precisam ser investigados. Sim! Não é justo julgar (ou relatar os crimes, que seja) apenas dos pobres nazistas. E as “vítimas inocentes” do “outro lado”? Essa Resistência Francesa era “criminosa”…

Aubrac seria exercrado, ofendido. Pela internet, circulariam e-mails idiotas chamando o sujeito de “terrorista”, talvez achassem uma foto dele com fuzil pra dizer: olha só, o “outro lado” era adepto da força bruta, não era bonzinho, também precisa ser investigado…

Isso me lembra o título daquele livro: “Falta Alguém em Nuremberg!” Sim, para a direita brasileira (e os apavorados que se acham de esquerda e têm medo de enfrentá-la) seria preciso enviar a Resistência Francesa a julgamento! Afinal, a Resistência pegou em armas, cometeu “crimes”.

No Brasil, por hora, nem se fala em julgamento. Mas numa simples Comissão a relatar os crimes cometidos por agentes do Estado. Crimes contra a Humanidade. Não se fala em execrar soldados, sargentos ou oficiais que, eventualmente, tenham matado guerrilheiros em combate. Da mesma forma, nunca ninguém se atreveu a “condenar” soldados alemães que lutaram nas trincheiras ou nas ruas.

O que se pretende é relatar crimes de tortura, desaparecimento, assassinatos cometidos a sangue frio… Ah, mas estávamos numa “guerra”, dizem militares brasileiros (secundados por civis perversos, e até por gente de boa fé mas desinformada) que atacam a Comissão. Há controvérsias se aquilo que ocorreu no Brasil foi uma “guerra”…

De todo jeito, na Europa houve “guerra”. Pra valer. Nem por isso, crimes contra a Humanidade deixaram de ser julgados. Nazistas e seus colaboradores que torturaram, assassinaram e incineraram gente indefesa foram a julgamento. A Resistência Francesa não foi a julgamento. Nem irá.

O resto é invenção do conservadorismo mais matreiro do mundo, porque dissimulado: o conservadorismo brasileiro. Nesse debate sobre a Comissão da Verdade, é preciso derrotá-lo. Com inteligência, moderação. Mas com firmeza.

Copiado do Blog Escrevinhador

Arquivo vivo da Ditadura Militar, delegado Cláudio Guerra sofre atentado na última madrugada

Sanguessugado do Pragmatismo Político
Senador Paulo Paim pede proteção ao delegado Cláudio Guerra, que confessou assassinatos e a incineração de presos políticos durante a ditadura em ‘Memórias de Uma Guerra Suja’. Ele teve a casa cercada por 3 homens. Um deles ameaçou atirar. Guerra é um arquivo vivo da ditadura e quer depor na Comissão da Verdade
delegado cláudio guerra suja ditadura
Delegado Cláudio Guerra é um dos principais arquivos vivos da ditadura militar e dos raros dispostos a contribuir com a Comissão da Verdade
O senador Paulo Paim (PT-RS) subiu à tribuna da tarde desta quarta-feira 16 para denunciar um atentado ocorrido nesta madrugada contra o ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) Cláudio Guerra. Segundo Paim, três homens cercaram a casa de idosos no interior do Espírito Santo, onde o delegado estava, e um deles ameaçou atirar.
O ataque ocorre no mesmo dia em que foram empossados os sete membros da Comissão da Verdade, instalada para investigar os crimes contra os direitos humanos cometidos durante a ditadura militar, e semanas depois do lançamento do livro “Memórias de uma guerra suja”, dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, no qual Guerra confessa o assassinato e a incineração de presos políticos – e a participação em atentados a bomba como o do Riocentro, denunciando, inclusive, os nomes de comparsas.
Ao Portal IG, Paim destacou a “tentativa de homicídio” (assista ao vídeo abaixo). “Achei da maior gravidade. Ele tinha sido convocado para fazer um depoimento na Comissão de Direitos Humanos amanhã (quinta-feira) pela manhã, assim como os autores do livro. Provavelmente eles não virão amanhã”, disse.
“Fiz o registro na tribuna do Senado para que o Ministério da Justiça e o nosso ministro deem toda a segurança. Os crimes cometidos são fatos, são reais, ele reconhece. Agora, ele pode ser um instrumento fundamental para a Comissão da Verdade, que foi instalada hoje. No livro ele diz que se dispõe a depor na Comissão da Verdade. É um arquivo vivo dos crimes da ditadura, por isso tem de haver segurança”, completou.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Sábias palavras...

Catastroika (legendado em português)



segunda-feira, 14 de maio de 2012


Este é o novo documentário da equipe responsável por Dividocracia. 

Chama-se Castastroika e faz um relato avassalador sobre o impacto da privatização massiva de bens materiais e serviços públicos e sobre toda a ideologia neoliberal que está por detrás.
Catastroika denuncia exemplos concretos na Rússia, Brasil, Chile, Inglaterra, França, Estados Unidos e, obviamente, na Grécia, em setores como os transportes, a água ou a energia. Produzido através de contribuições do público, conta com o testemunho de nomes como Slavoj Žižek, Naomi Klein, Luis Sepúlveda, Ken Loach, Dean Baker e Aditya Chakrabortyy.
De forma deliberada e com uma motivação ideológica clara, os governos daqueles países estrangulam ou estrangularam serviços públicos fundamentais, repassaram emrepassam bens materiais a preço vil, alienaram e alienam riquezas do subssolo e “off-shore” com contrapartida ínfima e criminosamente elegeram os funcionários públicos como bodes expiatórios, para apresentarem, em seguida, a privatização como solução óbvia e inevitável.
Sacrifica-se e sacrificaram a qualidade, a segurança e a sustentabilidade, provocando, invariavelmente, uma deterioração generalizada da qualidade de vida dos cidadãos.
As consequências mais devastadores registam-se nos países obrigados, por credores e instituições internacionais (como a Troika – FMI, BCE e CE), a proceder a privatizações massivas, como contrapartida dos planos de «resgate».
Catastroika evidencia, por exemplo, que o endividamento consiste numa estratégia para acabar com a democracia e implementar medidas que nunca nenhum regime democrático ousou sequer propor antes de serem testadas nas ditaduras do Chile e da Turquia.
O objetivo é a transferência para mãos privadas da riqueza gerada, ao longo dos tempos, pelos cidadãos.
Nada disto seria possível, num país democrático, sem a implementação de medidas de austeridade que deixem a economia refém dos mecanismos da especulação e da chantagem — o que implica, como está se vendo na Grécia, Espanha, Portugal, Itália e outros a tentativa e prática do total aniquilamento das estruturas basilares da sociedade, notadamente as que garantem a sustentabilidade, a coesão do tecido social e níveis de vida condignos.
Se a Grécia é o melhor exemplo da relação entre a dividocracia e a catastroika, ela é também, nestes dias, a prova de que as pessoas não abdicaram da responsabilidade de exigir um futuro.
Cá e lá, é importante saber o que está em jogo — e Catastroika rompe com o discurso hegemônico omnipresente na mídia-de-mercado, tornando bem claro que o desafio que temos pela frente é optar entre a luta pela democracia ou a barbárie neoliberal.