segunda-feira, 15 de março de 2010

Adriano e Haiti.(leia na íntegra)


No Haiti, mais além da imagem que a imprensa tratou de passar, do último circulo do inferno, a população se mobilizou, se organizou, demonstrou uma valentia e uma coragem moral que poucos países e povos demonstraram. Assim como o povo chileno resistiu aos duros sofrimentos do terremoto, às perdas, ás destruições. Claro que o nível atual de desenvolvimento do Chile é superior ao do Haiti, por razões históricas muito claras – em que as potências capitalistas têm responsabilidades gravíssimas, basta dizer que somente agora decidiram cancelar a dívida externa do Haiti.

Dá para fazer comparação com o Adriano. Quando ele desistiu de seguir jogando na Inter de Milão, renunciou a um contrato milionário, associado à fama e ao exibicionsmo midiático, porque “não estava feliz”, vozes similares não demoraram a dizer que havia algo muito mais complicado com ele, “álcool, drogas ou até algo pior”. Ele tinha que estar se comportando sob os efeitos da bebida, da droga ou “de algo pior”, para renunciar a dinheiro pelo sentimento de felicidade, de estar na favela da sua infância brincando com pipa com seus amigos, a quem mandava comprar sanduíches.

Agora, bastou o Adriano aparecer envolvido em uma festa noturna, um conflito com a namorada, faltar a treinos, para essas mesmas vozes – que consideram que Kaká, Ronaldinho, etc., se comportam como se deveria comportar um ser humano “normal” -, para pregar que Adriano não seja mais convocado para a seleção, que não vá ao Mundial – talvez com esperança que o Ronaldo corintiano, aquele que deixou de vir para o Flamento, seu time do coração, para ir ao Corinthians, por dinheiro – o substitua.

Essa atitude preconceituosa, a mesma que quis condenar o Haiti e absolver o Chile, se volta contra o Adriano, como a dizer que “quem nasceu nesse meio, quem prefere esse meio a Milão, um tipo com esses valores, acaba recaindo sempre no vício, não é pessoa confiavel”, etc., etc.

Os pobres – os países e as pessoas - nasceram pobres e assim morrerão. Como se tivessem um destino de ser pobres, não fossem produto histórico de processos que os produziram como pobres, sofrendo as pressões para seguirem assim. O Haiti não tem jeito, Adriano não tem jeito. Os pobres não têm jeito, quem nasceu pobre, morrerá pobre.

É intolerável para os preconceituosos, que Adriano tenha tomado essas atitudes, torcem para que naufrague diante do alcoolismo, para vituperar seu famoso: “Eu sabia, eu não disse, essa cara nao presta, etc., etc. Da mesma forma que desconhecem que o Haiti foi a vanguarda das lutas de independência na América Latina, que derrotou a Franca de Napoleão, antes de ser massacrada e pagar até hoje o preco dessa audácia.

Os pobres teriam que se conformar em ser pobres. Evo Morales, Lula, Mujica, Hugo Chavez teriam que dar errado; FHC, Sanchez de Losada, Carlos Andres Perez, Lacalle – teriam que ter dado certo. Mas a realidade é outra.

Postado por Emir Sader

Nenhum comentário:

Postar um comentário

se não tem nada a contribuir não escreva!