sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O chororô da indústria canavieira

Richard Jakubaszko

Marketing da terra 

Carece de inteligência e bom senso o chororô estimulado pela cadeia do etanol de acusar o Governo Federal de praticar uma política de preços populista para a gasolina, com ameaças de “quebrar a Petrobrás”, ao mesmo tempo em que
reclama desses mesmos governantes de que não há uma política de preços para o etanol. É a política do bate-e-assopra.
Vejamos quais são os problemas, os paradoxos, incoerências e inconvenientes:

1º- Um concorrente nunca deve pedir ao seu principal opositor, que “aumente os seus preços”, o que é óbvio e elementar.

2º- O setor idealiza um faz de conta, na medida em que deseja o Governo Federal praticando preços “não populistas” para a gasolina ao mesmo tempo em que incentivaria preços remuneradores para o etanol. Faz sentido isso, quando sabemos que na cultura popular brasileira o preço dos combustíveis é um balizador da inflação? E que o Governo nesse momento luta para segurar a inflação ao mesmo tempo em que estimula a economia a crescer.

3º- Se o setor sucroalcooleiro imagina que isso possa acontecer, e que depois poderá produzir ainda mais açúcar para exportar, é porque tem gente desfocada na liderança do setor.

4º- O segmento parece precisar de um espelho, para perceber que multinacionais já dominam as agroindústrias de açúcar e álcool. Isto obriga ao segmento a ter uma nova postura.

5º- O chororô não convence. Reclamam as lideranças que, com os atuais preços do etanol, a indústria canavieira não tem capacidade para investir no aumento de produção industrial e muito menos na expansão das lavouras. Lembremos outro choramingo recente, de que não tinham como financiar estoques para a entressafra. O Governo Federal liberou dinheiro para financiar os estoques, e eles não foram suficientes, pois tivemos de importar etanol de milho dos EUA, uma vergonha nacional.

6º- Há uma briga de egos e de interesses divergentes entre as lideranças da cadeia do açúcar e etanol, prova maior disso foi a queda no início deste ano do presidente da União das Indústrias Canavieiras, Unica, Marcos Jank.

7º- Esquecem as lideranças do segmento que o etanol continua sendo subsidiado, na forma de garantia e reserva de mercado por participar com 20% na mistura da gasolina. É, portanto, um setor que já tem generosos benefícios do Governo Federal e da sociedade, mas deseja mais, almeja soluções amigas resolvidas nos tapetões do poder.

8º- Imaginam que os seus prospects futuros, o consumidor europeu, especialmente, não percebam essas manobras políticas. E sonham em exportar o etanol para a Europa, e também aos EUA, quando nem o mercado nacional conseguem abastecer. Desejam que os europeus saiam debaixo do chicote do mundo árabe, no fornecimento de petróleo e gasolina, para vir sorrir debaixo do chicote dos usineiros brasileiros.

9º- O setor sucroalcooleiro, com esse chororô, imagina pressionar o Governo Federal e os consumidores, com a possível ameaça do “pode faltar”, como fez na década de 1980, quando os automóveis tinham motores de usos exclusivos, ou gasolina ou etanol. Fingem esquecer, mas hoje os carros são flex fuel, e o consumidor tem a palavra final, conforme publicamos nesta seção, na edição anterior. Bastou os preços do etanol chegarem aos 70% da equiparação com os preços da gasolina, devido à desvantagem do poder calorífero do etanol e maior consumo por km rodado, o consumidor desprezou a questão ambiental da poluição nas áreas urbanas.

10º- As usinas deveriam investir parte de seus lucros, nesse momento, deveriam pensar em reduzir custos e aumentar a eficiência nas lavouras e nas indústrias, na fermentação mais eficiente, para produzir mais etanol por hectare, já que começou a melhorar a imagem do segmento por ser fornecedor de energia elétrica, por poluir menos os rios ao não jogar a vinhaça nos mesmos, e por não mais queimar a cana, praticando a colheita mecânica.
Ganham dinheiro queimando palha, usam menos fertilizantes e reduziram custos com a mão-de--obra. Estes três elementos por si só melhoraram as margens de lucros das usinas.

Talvez isso fosse bom negócio para os usineiros de antigamente, mas hoje em dia o que predominam são as multinacionais, e a sede de lucros com esses é muito maior.
Por isso, o chororô não convence.
E esse marketing, definitivamente, não funciona mais.

Publicado originalmente na revista Agro DBO

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