"Coisa que passa, qual é o teu nome"?
Setembro de 2012:
1) A 'Falange', organização de extrema direita, criada em 1933 por Primo
de Rivera, uma milícia que serviu como capanga do franquismo, está de
volta às ruas naquela que é a sua especialidade histórica: provocar a
violência contra os movimento sociais. Os fascismo espanhol programou
uma manifestação para este sábado, em Madrid, no mesmo dia em que
organizações sociais e sindicatos fazem um ato público contra o 'ajuste'
imposto pelo governo do PP. A palavra de ordem da Falange é: 'O nome da
crise é Democracia'.
2) Inspetores do comissariado do euro e do FMI desembarcam em Atenas
para exigir do governo grego a adoção da semana de trabalho de seis
dias, com liberalidade para o patronato impor uma carga diária de 11
horas.
3) A direita no poder em Portugal corta a contribuição previdenciária
dos patrões e eleva a dos empregado de 11% para 18%, em média; a manobra
equivale, na prática, à expropriação do 13º salário dos trabalhadores.
4) O Banco Central Europeu não mede recursos e malabarismos para
garantir liquidez à banca ,mas o facão da austeridade na zona do euro
ameaça os 204 bancos de alimentos que garantem comida de 19 milhões de
europeus em pleno século XXI.
5) 116 milhões de europeus vivem atualmente na ante-sala da pobreza: 2 milhões mais que em 2010.
6) A democracia no pós-guerra, ao contrário do que diz a palavra de
ordem macabra da Falange, deu a solução para a crise ao disciplinar os
mercados para abrir espaço aos direitos sociais. O desmonte progressivo
do Estado do Bem-Estar Social, a partir dos anos 70, com Tatcher , e a
rendição socialdemocrata generalizada (indagada sobre a sua maior obra, a
dama-de-ferro respondia: 'Tony Blair'), terceirizou o destino da
economia e da sociedade à lógica rentista, origem da crise atual.
7) A Falange, como acontece às vezes com o fascismo e o nazismo, acerta
na problemática, mas erra na causalidade e na solução. A democracia, de
fato, é a questão central da crise. Mas não porque seja a origem dos
problemas gerados pelo capitalismo. Ela é o núcleo do impasse exatamente
por ter se enfraquecido a ponto de não servir mais como contrapeso aos
impulsos suicidas dos ditos livres mercados.
8) Desarmada pelo conluio entre o conservadorismo político, a ganância
financista e a socialdemocracia adestrada no chicote neoliberal, a
democracia representativa deixou de ser o canal de transmissão da
vontade popular no interior do aparelho de Estado e, sobretudo, na
condução da política econômica.
9) As sucessivas rupturas entre os programas sufragados nas urnas e o
emparedamento dos eleitos pela 'governabilidade financeira' anularam o
poder soberano da democracia representativa, sequestrado pelos bancos,
os acionistas, os fundos especulativos, as tesourarias das grandes
corporações; enfim, endinheirados em geral que orbitam em torno do
capital a juro.
10) O esfarelamento da Falange e dos partidos fascistas no ciclo de alta
da financeirização, dos anos 70 até a crise de 2008, decorre justamente
dessa substituição do papel coercitivo exercido pelas milícias pela
institucionalização do golpe de Estado branco do capital financeiro
contra governos, urnas, direitos econômicos e sociais.
11) O ressurgimento da extrema direita agora --e, num certo sentido, a
retomada do discurso udenista extremado em terras tropicais-- evidencia o
movimento inverso: a implosão desse arranjo que já não consegue
subordinar a sociedade aos seus desígnios sem conflitos recorrentes,
quase diários,cada vez mais externos a parlamentos obsequiosos,
congestionado ruas e praças do mundo.
12) A volta da Falange em provocação aberta ao protesto massivo marcado
pelos sindicatos e movimentos sociais para este sábado, em Madrid,
certamente não tem o peso e o significado observado nos anos 30. Da
mesma forma, o lacerdismo júnior em ação na campanha municipal de São
Paulo não se nivela ao titular e ao que ele representou nos anos 50/60.
Mas são vapores de um cargueiro que já cruzou alinha do horizonte e
apita para se anunciar.
13) O nome da crise é Democracia; mas o sobrenome é capitalismo,
turbinado pela intrínseca hegemonia financeira que distingue a sua
particularidade universal em nosso tempo; e cuja 'reprodução consensual'
entrou em parafuso.
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