domingo, 18 de abril de 2010

Um tucano com medo do crescimento ou saudades do neoliberalismo?


O jornal “Folha de São Paulo” publicou nesta sexta-feira (16) um artigo em que o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros se confessa assustado com a aceleração do crescimento da economia brasileira, que segundo algumas previsões recentes pode superar a marca dos 7%. No governo FHC, ele liderou o escandaloso processo de privatização das empresas de telecomunicações, atuando “no limite da irresponsabilidade”.

Por Umberto Martins

Barros aponta algumas estimativas e indicadores, como a expectativa de avanço de 10% da demanda doméstica neste ano, a geração de novos postos de trabalho no mercado formal e consequente redução da taxa de desemprego (que pode recuar para algo em torno de 10%), além da “pressão dos salários”. Destaca, neste caso, a conquista de aumentos reais (supostamente de “mais de 10% ao ano”) na construção civil.

Teoria reacionária

A valorização do trabalho, promovida pelo crescimento do nível de emprego e do valor dos salários, é um perigo pavoroso para o economista tucano. Pelo seu raciocínio, que neste aspecto não difere dos conservadores que dirigem o Banco Central, isto vai despertar o fantasma da inflação. O tucano condenou o que considera a “defesa de uma macroeconomia keynesiana utópica e muito perigosa” por parte do governo Lula.

Os argumentos de Mendonça de Barros partem do pressuposto de que o Brasil tem um potencial de crescimento baixo, que quando não é respeitado resulta invariavelmente em inflação. Mas esta teoria exótica e reacionária não tem respaldo na história da economia nacional, que manteve crescimento anual médio superior a 7% do pós-guerra ao final dos anos 70 do século passado, com direito a índices chineses (superiores a 10%) durante o chamado “milagre”.

Lições da história

Cabe lembrar que problemas sérios com a inflação nós tivemos ao longo da década perdida de 1980, quando o mercado interno foi artificialmente deprimido em função dos “ajustes internos” feitos sob monitoramento do FMI para viabilizar o pagamento da dívida interna. Experimentamos, então, o fenômeno designado de estagflação (combinação de inflação com estagnação da economia), que até por definição nada tem a ver com inflação de demanda.

A julgar por essas idéias conservadoras, nosso país estaria condenado a vegetar na estagnação e a ficar definitivamente para trás na corrida do desenvolvimento desigual pelo menos durante o século XXI, que promete ser menos breve do que o anterior. A China pode crescer a 10%, a Índia a 7% ou 8%, mas o Brasil deve se contentar com a média inferior a 2% verificada no segundo governo FHC.

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