domingo, 18 de abril de 2010

Para que o Sul seja o norte do mundo.


O sistema capitalista mundial passou a se articular em torno de um centro e de uma periferia, conforme os países europeus foram conquistando – especialmente através da superioridade marítima, de que fizeram forte instrumento de conquista de colônias, de escravidão e de pirataria – a hegemonia do comércio internacional. Fizeram dela, no chamado processo de acumulação primitiva, a alavanca para se constituir como as grandes potências colonizadoras e, posteriormente, as maiores potências imperialistas.

Impuseram uma fratura estrutural entre as potências dominantes, - que se transformaram, ao mesmo tempo, em potências exploradores e belicamente opressoras – e as periféricas. A estas, submetidas a um profundo processo de intercâmbio desigual – em que exportavam produtores primários e importavam produtos industriais – estava reservada a consolidação na pobreza e na exclusão social e política.

A mais recente crise capitalista revela um quadro que começa a mudar, em escala mundial. Pela primeira vez uma crise global, que tem seu epicentro nos EUA e se propaga fortemente por quase todo o mundo, vê o Sul do mundo recuperar-se, enquanto o centro se encontra ainda em recessão. A China não entrou em crise, o comercio internacional com ela se incrementou, a ponto dela se transformar no primeiro parceiro comercial do Brasil, no lugar dos EUA. Isso revela já um forte processo de multipolaridade econômica.

No entanto, o Sul ainda está atrasado em propor suas próprias alternativas à crise. A incorporação de países emergentes ao G-8, transformando-o em G-20, não se traduz em posições substancialmente distintas, porque os países do Sul – China, India, Brasil, África do Sul, México, Argentina, entre outros – foram isolados, sem posições comuns às reuniões do G-20. Termina-se discutindo as propostas dos países que geram a crise, buscando aprofundar medidas, mas como se vê até agora, nem sequer regulamentações mínimas sobre o funcionamento do sistema bancário – detonante forte da crise – foram levadas à prática.

A recente reunião dos mandatários do BRIC no Brasil avançou algumas medidas, mais de intensificação da coordenação entre eles – como o acordo do Brasil com a China, o uso de moedas próprias e não o dólar nos intercâmbios bilaterais, a reiteração da necessidade de regulamentação do funcionamento dos bancos. Porém nenhuma proposta global, de redesenho das relações econômicas e de poder no mundo, foi adiantada.

Enquanto isso não ocorrer, a direção dos processos econômicos mundiais seguirá nas mãos dos países do G-8, que se auto-intitulam “8 grandes”, não porque trabalhem mais, não porque sejam mais solidários, mas porque foram países colonizadores e são imperialistas. São os triunfadores da globalização, mas ao mesmo tempo são o centro da crise mundial, gerada por eles e que não será superada enquanto o controle da situação econômica global seguir nas suas mãos.

Postado por Emir Sader

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