segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O trágico destino da presa geológica chamada Haiti*


by F. William Engdahl

As organizações de salvamento da Venezuela, Nicarágua, Bolívia, França e Suíça acusam os militares dos Estados Unidos de recusarem direitos de aterrissagem para aviões com medicamentos e água potável de uma necessidade urgente para milhões de pessoas afetadas pelo desastre em Haiti.

Outro drama ergue se atrás da tragédia haitiana. É o drama para o controle do que os geólogos acreditam seja uma das zonas mais ricas do mundo em hydrocarbons- óleo e gás para além do Oriente Médio, e possivelmente com uma magnitude maior do que a da Venezuela.

Haiti tem o destino de estar exatamente numa das zonas geológicas mais ativas do mundo, onde as placas submersas de três enormes estruturas, sem descanso, implacavelmente friccionam-se umas as outras o que se dá na interseção das placas tectônicas da América do Norte, América do Sul e da Caríbica.

Nas profundidades do Caribe, essas placas formam uma crosta oceânica de três a seis milhas – flutuando no manto geológico. Haiti fica nas orlas da região conhecida como o Triangulo de Bermudas, a vasta área do Caribe submetida à estranhas e inesplicadas disturbâncias.

Essa grande massa de placas submersas estão em constante movimento, em atrito entre si, ao longo de linhas de rachaduras como por ex. por analogia se pode ver num vaso de porcelana que depois de quebrado é colado e reconstruído.

As placas tectônicas da terra se movem de 50 a 100 mm por ano em relação a si mesmas e dão dessa maneira origem à terremotos, tremores de terra assim como à vulcões. As regiões onde essas placas convergem são áreas onde grandes volumes de óleo e gás podem ser ejetados das profundezas geológicas da terra.

A geofísica ao redor da área de convergência das três placas que estão em baixo de Port-au-Prince faz com que a região tenha uma predisposição para tremores de terra ou terremotos como os que atacaram Haiti numa devastação feroz no 12 de janeiro.


TEXAS- UM PROJETO GEOLÓGICO RELEVANTE
Deixando se de lado a importante questão sobre o quanto os cientistas americanos e o Pentágono sabiam – em antecedência – sobre o terremoto que estava prestes a acontecer e quais os planos que então já tinham em mente antes do 12 de janeiro, uma outra questão permanece. Essa se relaciona com acontecimentos que poderiam explicar o estranho comportamento de alguns dos maiores resgatadores em Haiti, ou seja, os Estados Unidos, a França e o Canadá.

Além de ser predisposto à terremotos Haiti também está numa zona que pela rara interseção geológica das três placas tectônicas pode muito bem estar numa das maiores zonas – inexploradas – de óleo e gás do mundo, assim como de valiosos e raros minerais de significância estratégica.

As vastas reservas de óleo do Golfo Pérsico e da região do Mar Vermelho à caminho do Golfo de “Aden” estão numa zona de convergência [de grandes placas tectônicas] similar as da que estão na Indonésia e nas águas das costas da Califórnia. Em resumo: em termos de física são exatamente essas interseções de massas tectônicas como as que se encontram abaixo de Haiti que tem a notável tendência de ser lugares de vastos tesouros assim como de óleo gás e minerais.

Constata-se que em 2005, um ano depois da Administração Bush-Cheney de fato depor o Presidente eleito do Haiti, Jean Baptiste Aristide, um time de geólogos do Instituto de Geofísica da Universidade do Texas (The Institute for Geophysics at the University of Texas) começou um ambicioso trabalho- em duas fases - de cartear todos os fatos geológicos (mapping of all geological data) da bacia do Caribe.

Dr. Paul Mann é o diretor do projeto “Caribbean Basins, Tectonics and Hydrocarbons”, projeto esse que deve determinar tão exatamente quanto possível a relação entre as placas tectônicas no Caribe e o potencial para hydrocarbons-óleo e gás.

Os financiadores desse “multi-million dollar” projeto de investigação geológica pertencem às maiores companias de óleo do mundo: - Chevron, Exxon Mobil, the Anglo-Dutch and BHP Billiton. [1]

Constata-se que o projeto é o primeiro realmente amplo carteamento (mapping) da região. Se poderia pensar que isso deveria ter sido prioridade-a mais de dezenas de anos – para “as maiores” dos Estados Unidos. Levando-se em conta as imensas produções de óleo do México, da Louisiana e do inteiro Caribe, assim como a vizinhança dos Estados Unidos – não se mencionando os Estados Unidos focalização na própria segurança energética - é surpreendente que a região ainda não tenha sido carteada ou “mapped”.

Mas agora vem à superfície que as relevantes companhias já estavam pelo menos de uma maneira geral conscientes do grande potencial da região e isso à já bastante tempo. Ao que parece elas decidiram “baixar a surdina” a respeito.


SERÁ HAITI A NOVA ARABIA SAUDITA?
A remarcável geografia do Haiti talvez possa explicar porque o enviado das duas Administrações Bush e agora enviado especial das Nações Unidas – Bill Clinton faz de Haiti tamanha prioridade. A remarcável geografia poderia também explicar porque Washington e seus NGOs (Organizações Não Governamentais) foram tão ágeis em depor –por duas vezes – o democraticamente eleito Presidente Aristide, o qual tinha um programa econômico que incluía entre outros itens, proposições para o desenvolvimento dos recursos naturais do país para o benefício do próprio povo de Haiti.

Os minerais em Haiti incluem entre outros o ouro, o metal estratégico iridium de muito valor estratégico e óleo, aparentemente muito óleo. [ouro, iridium, óleo, cobre, urânio entre outros e outras]. *1

OS PLANOS DE DESENVOLVIMENTO DE ARISTIDE
Marguerite Laurent, presidente da associação de advogados de Haiti (Haitian Lawyers´leadership Network – HLLN), serviu como procuradora legal/promotora pública (attorney) para o deposto Aristide. Ela conta que - quando o Sr. Aristide ainda era Presidente, antes de ser deposto através dos esforços dos Estados Unidos durante a era de Bush em 2004 – ele tinha desenvolvido e publicado em forma de livro, os seus planos para o desenvolvimento nacional. Esses planos incluíam pela primeira vez uma detalhada lista das localizações dos recursos do Haiti. [2]

A publicação do plano ocasionou um debate nacional a respeito do futuro do país. O plano de Aristide era concretizar uma sociedade mista (pública/particular) para garantir que o desenvolvimento do óleo, ouro e dos outros valiosos recursos do país viesse a beneficiar a economia nacional e o povo, não somente as elites.

Desde a deposição de Aristide, em 2004, Haiti tem sido um país ocupado, com um Presidente dubiosamente eleito, René Preval, sendo ele um seguidor das privatizações do Fundo Monetário Internacional (International Monetary Fund –IMF). René Preval é ligado às elites do país, elites essas que apoiaram a remoção de Aristide. Constata-se que o Departamento de Estado dos Estados Unidos (the U.S. State Department) recusa a permitir o retorno de Aristide do exílio sul africano.

Nas águas do terremoto devastador, em 12 de janeiro, os militares americanos tomaram o controle dos quatro aeroportos de Haiti e têm avaliadamente 20 000 tropas no país. Jornalistas e organizações de socorro têm acusado os militares americanos de estarem mais preocupados em impor um controle militar do que em trazer a muito necessitada água potável, a comida e os remédios dos aeroportos para a população necessitada.

Uma ocupação de Haiti pelos militares americanos – disfarçada em assistência social para o alívio das conseqüências do desastre – dá a Washington e aos interesses particulares ligados a ele uma presa [ou diga-se uma captura] geopolítica de enorme valor.

Antes do desastre de 12 de janeiro, a Embaixada Americana em Port-au-Prince era a quinta no mundo, comparável com suas embaixadas de alto valor geopolítico e estratégico. Por ex. em lugares como Berlin e Peking. [3]

Um retorno de Aristide ou qualquer outro líder popular trabalhando para o desenvolvimento dos recursos de Haiti – a mais pobre nação das Américas – constituiria um golpe devastador para o “grande poder americano”. O fato de que nas águas do terremoto, o especial enviado das Nações Unidas, Bill Clinton, juntou forças com Bush – o inimigo de Aristide – para criar o chamado Clinton –Bush Haiti Fundo, pode requerer uma pausa para se pensar.

Marguerite Laurent [da organização dos advogados em Haiti] diz que embaixo do disfarce de “Socorro de Emergência” os Estados Unidos, a França e o Canadá estão trabalhando para conseguir o controle dos recursos. Ela constata rumores de que o Canadá “quer” o norte de Haiti, onde os interesses de mineração do Canadá já estão presentes e que os Estados Unidos “quer” Port-au-Prince e a ilha da Gonaive localizada próximo à costa, numa área identificada por Aristide como tendo grandes recursos. Essa ilha está sendo encarniçadamente contestada pela França.

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