segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mídia: entre a paranóia e o surrealismo



Se seguíssemos a mídia ao pé da letra, talvez não pudéssemos mais morar em apartamentos sem redes, andarmos de avião, morar perto de encostas, ficarmos gripados - e quem sabe - não pudéssemos mais namorar e nem sermos pais e mães.

Por Douglas Yamagata

Não é que não seja importante dar a noticia. Mas a forma como a mídia massifica a noticia de assassinatos e catástrofes parece mais uma motivação pelo Ibope do que pela questão social.

A mídia, capitaneada pelos grandes meios de comunicação, sempre colocam a sua audiência em primeiro lugar. Esconde-se por trás de uma informação o poder de influência sobre massas. Por vezes, chegam ao ponto de criar paranóias e terrorismos generalizados para a sociedade.

Muitas notícias viram “novela” e criam animosidades exacerbadas sobre as massas.

O que muitas vezes são fatalidades ou fatos isolados, acabam se transformando em um “caos nacional”. Logicamente, que a imprensa golpista quando tem a oportunidade aproveita também para dar seus disparos, voltando os canhões e as responsabilidades aos seus adversários.

As notícias catastróficas e assassinatos são as preferidas da mídia, numa verdadeira recriação de “Notícias Populares” generalizada. Veicula-se durante semanas a mesma informação, temperando com novidades macabras a cada momento. É uma verdadeira novela de terror.

Criam-se programas especiais para o assunto, chamam especialistas, ouvem vítimas e familiares. Enfim, a notícia vira um verdadeiro espetáculo midiático que criam paranóias generalizadas, fazendo que o surrealismo seja pulverizado para a sociedade.

Desta forma, coloco algumas reflexões sobre a influência da mídia sobre alguns casos:

Caso Nardoni
Certamente o caso foi uma crueldade sem escrúpulos. No entanto, criou-se uma paranóia generalizada em que muitos começaram a acreditar que crianças começariam a ser jogadas ou despencar pela janela a esmo. Vejo que a cobertura midiática só foi ampla por se tratar de uma família de classe média alta. Me recordo de um caso semelhante com uma família pobre no nordeste do país, mas que gerou pouca repercussão. Bom mesmo foi para os comerciantes de redes para apartamentos, que devem ter tido faturamento ampliado.

Caso Richthofen
Outro caso de repercussão nacional e com todos os requintes de crueldade injustificáveis. Acredito também que a ampla cobertura midiática foi motivada por se tratar de família rica, cujo crime recheado de detalhes macabros era um prato cheio para a mídia. Me pergunto: quantos não são os casos de familiares que se matam? E por que não há tanta repercussão assim?

Caso Eloá
Vários canais de televisão “acamparam” em frente aos conjuntos habitacionais, aguardando pela conclusão do seqüestro. A divulgação deste caso rendeu ao seqüestrador o que ele mais queria: gerar repercussão. Vejo que essa tal repercussão tornou-se uma pressão de toda sociedade sobre a polícia para resolver logo o caso. Pergunto: esta repercussão feita pela imprensa influenciou na ação frustrante da polícia que resultou na morte de Eloá? A polícia teria se precipitado devido à pressão?

Desastre aéreo em Congonhas
Este foi um prato cheio para a imprensa golpista, ao ponto de cada brasileiro virar especialista em aviação. Foram colocados conceitos como “ranhuras na pista”, “trem de pouso”, “arremeter”, etc...; onde cada leigo virou um verdadeiro piloto de avião. A imprensa golpista, além de tudo, tratou de julgar com antecedência os culpados (governo federal), mesmo sem as comprovações e laudos técnicos - e que por fim mostrou ser falha humana. Durante o mês posterior, trataram de desqualificar o sistema, ilustrando seus noticiários com filas, pessoas chingando em aeroportos etc... Quantos não foram aqueles que ficaram com o medo paranóico de andar de avião, mesmo sabendo que é mais seguro que andar de carro? E responsabilizou quase que exclusivamente o governo federal, apesar de todas as precauções e investimentos realizados no setor.

Gripe Suína
Neste episódio, a imprensa golpista parecia torcer para que a gripe se disseminasse pelo país, com a tentativa conjunta de responsabilizar o governo federal. Para muitos, foi a verdadeira política do quanto pior, melhor. Foi um terror generalizado - mesmo com os técnicos dizendo que a gripe suína matava em mesma proporção que a gripe comum. A paranóia e medo percorreram todos os estabelecimentos públicos. Instalaram-se álcool gel, utilizaram-se máscaras – era o verdadeiro fim do mundo. E mesmo assim, vemos que o mundo não se acabou como gostaria a imprensa golpista.

Os deslizamentos de terra em Angra dos Reis
Colocou-se em questão a construção de imóveis em encostas. Concordo que regras ambientais e ao zoneamento urbano tenham que ser respeitados (e que não é). Mas devemos considerar que moradias irregulares são problemas generalizados e que vem de décadas atrás. Devemos considerar também, que as chuvas que despencaram em Angra foram atípicas, chovendo em horas o que deveria chover em dias. Portanto, as moradias em encostas de morros não são problemas de fácil solução. No entanto, a imprensa golpista trata tal problema cobrando soluções emergenciais como se fossem fáceis de resolver, numa atitude um tanto covarde em se tratando de palpites sobre administração pública.

Estes são alguns exemplos como a mídia acaba criando terror e paranóia em todos. Ampliam e massificam as notícias, distorcem informações, embute na cabeça do cidadão o caos.

Se seguíssemos a mídia ao pé da letra, talvez não pudéssemos mais morar em apartamentos sem redes, andarmos de avião, morar perto de encostas, ficarmos gripados - e quem sabe - não pudéssemos mais namorar e nem sermos pais e mães.

Enfim, seguir a mídia como ela diz, é o mesmo que nos privarmos de viver.

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