Via Diario Liberdade
“E não é que para atenuar esse discurso da destruição das bases naturais criadora de crescimento econômico falacioso, os economistas modernos, ditos tradicionais, rapidamente criaram a expressão "desenvolvimento sustentável"?
No
entanto, não são poucos os que cometem crasso equívoco na vã esperança
de que essa palavra mágica (sustentável) seja algo de fato aplicável e
benéfico. Em relação a isso, resta indagar: sustentável para quem? Como?
Quando? Onde?”
- Marcus Eduardo de Oliveira
As
consequências para a natureza de toda e qualquer economia que prioriza e
faz de tudo para atender aos ditames do mercado que clama cada vez mais
por excedentes na produção e no consumo (20% da humanidade consomem
cerca de 80% dos recursos), atingindo picos de crescimentos
inimagináveis (nos últimos 50 anos a economia aumentou em cinco vezes
seu tamanho) é previamente conhecido: irreversível destruição ambiental,
desmatamento em larga escala, poluição acentuada, queimadas constantes,
escassez ecológica, extinção das espécies, emissão de gases de efeito
estufa, entre outros. Quem paga o preço é a natureza; mas quem sofre as
consequências somos nós.
O mercado é abastecido
em nome desse modelo econômico-produtivo perverso e criminalmente
responsável pela degradação ambiental - os mesmos 20% da humanidade mais
consumistas produzem 80% da poluição total do planeta –
descapitalizando assim a biodiversidade, colocando a vida em sério
risco.
Uma hora qualquer – espera-se que não
seja tarde demais - alguém irá perceber que as palavras do cacique
Seatlle ditas em 1854 ao governante norte-americano estavam pontualmente
certas: "(...) Depois que a última árvore for abatida, eles vão
perceber que não dá para comer dinheiro".
Nunca é
demasiado aludir que não se pode medir crescimento de uma economia
quando, por exemplo, se derruba uma árvore, se põe ao chão um Jequitibá
de 200 anos, quando se polui um rio ou se contamina uma nascente. Se
isso tudo contribui para fazer o PIB subir, e de fato contribui, o nome
disso só pode ser insanidade e estupidez econômica.
O
certo é que não há economia que prospere e se mantenha ao longo do
tempo nas bases dessa patologia que enaltece a destruição em prol de
excedentes mercadológicos.
E não é que para
atenuar esse discurso da destruição das bases naturais criadora de
crescimento econômico falacioso, os economistas modernos, ditos
tradicionais, rapidamente criaram a expressão "desenvolvimento
sustentável"?
No entanto, não são poucos os que
cometem crasso equívoco na vã esperança de que essa palavra mágica
(sustentável) seja algo de fato aplicável e benéfico. Em relação a isso,
resta indagar: sustentável para quem? Como? Quando? Onde?
Ora,
continuando a exploração desenfreada de recursos naturais para o
atendimento às solicitações vindas do mercado, como se a razão precípua
do viver fosse unicamente frequentar as prateleiras dos supermercados e
shopping-centers, não só se torna impossível sustentar esse crescimento
como o mesmo é, na verdade, uma bomba-relógio potencialmente
destruidora.
Desse modo, essa expressão
sustentável é então, por si, falaciosa e de pouco valia. Num projeto de
desenvolvimento econômico que se pretende ser sério e equilibrado,
pautado pelas linhas mestras da competição, não é factível buscar a
condição de sustentável uma vez que essa competição feita pelos
mecanismos previamente conhecidos do modo capitalista de produção e
consumo, apenas faz produzir mais exclusão à medida que uns poucos
ganham e triunfam sobre a derrota de centenas de milhões de pessoas. Que
fique bem claro: exclusão é conceito que não combina com a abrangência
do termo sustentável.
Ademais, pelo lado da
economia tradicional, argumenta-se insistentemente que o desenvolvimento
sustentável é exeqüível, pois, um belo dia, a natureza irá responder
pelas demandas dos recursos renováveis. Aqueles que defendem esse
argumento se esquecem de que o universo é finito e não aumentará de
tamanho.
A escala de valores que deve predominar
então, caso queiramos priorizar a vida e o respeito às coisas da
natureza, deve incluir a cooperação, a partilha, a solidariedade, a
comunhão, o compartilhamento, o respeito aos limites da natureza e,
antes e acima de qualquer outra coisa, às pessoas.
Definitivamente,
o projeto econômico precisa estar à serviço da vida em todas suas
dimensões, incluindo, principalmente, a perspectiva ecológica,
incorporando assim, por exemplo, à ideia da economia verde, definida
pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (PNUMA) como "uma economia que
resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao
mesmo tempo em que reduz significativamente riscos ambientais e escassez
ecológica".
Urge condenarmos o modelo
capitalista espoliador aí posto, visto que esse é criminalmente
responsável pelos danos ora vivenciados. Já passou da hora de
vivenciarmos um novo modelo de economia que seja capaz de incorporar à
dimensão ambiental e valorizar definitivamente a perspectiva social. A
vida tem pressa e o relógio do tempo passa rápido demais. Não nos
esqueçamos disso!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
se não tem nada a contribuir não escreva!