Via Mauro Santayana
“Finalmente, e esta é uma decisão inadiável, o Brasil precisa
democratizar a produção de álcool, para que ela deixe de ser um negócio
exclusivo de grandes usineiros e de multinacionais. Há anos circulam no
Congresso, sem nenhum resultado, projetos voltados para a criação de um
Programa Nacional de Microdestilarias”.
Repercutiu,
esta semana, na imprensa internacional, a notícia de que o Governo
brasileiro estaria preparando um plano de contingência para assegurar o
abastecimento de combustíveis no fim do ano, quando aumenta o consumo de
etanol e gasolina. Esse é um fato que, se confirmado, nos serve de
alerta de como o aumento de consumo de combustíveis no Brasil, sem o
crescimento da produção, pode afetar a economia e agravar a
vulnerabilidade do país no futuro próximo.
Passamos
décadas sem investir em novas refinarias, e as planejadas e
construídas, a partir do governo Lula, ainda levarão alguns anos para
entrar em operação.
Por outro lado, a frota de
automóveis vem crescendo a ritmo chinês, devido à melhoria das condições
de renda e de crédito. O consumo de gasolina se elevou aos 30 bilhões
de litros neste ano.
Mas os nossos carros não são quase todos eles flex-fuel ? Então por que não produzir mais etanol para movê-los ?
Permitiu-se
a desnacionalização do setor que, hoje, não tem o mesmo compromisso com
o país e prefere produzir açúcar para exportação. Tivemos também
problemas climáticos e de financiamento para o plantio de cana. Muitas
usinas deixaram de funcionar ou são subutilizadas por falta de
matéria-prima.
Isso, em um país que vai gastar
mais de 15 bilhões de dólares com a importação de combustíveis neste ano
e está enfrentado uma queda de 30% no superávit comercial com relação
ao ano passado. E teve saldo cambial negativo de 3,823 bilhões de
dólares em outubro – situação que já ocorre pelo terceiro mês seguido.
Temos
o pré-sal e ele é uma grande conquista. Mas não nos esqueçamos do outro
pré-sal, o do etanol, que precisa ser urgentemente reativado – e não
apenas no chamado agronegócio - para gerar milhares de emprego.
O
que é mais barato, investir em reais aqui dentro, para produzir cana e
etanol, mesmo que com algum prejuízo, ou pagar em dólares, lá fora pela
gasolina estrangeira?
Finalmente, e esta é uma
decisão inadiável, o Brasil precisa democratizar a produção de álcool,
para que ela deixe de ser um negócio exclusivo de grandes usineiros e de
multinacionais. Há anos circulam no Congresso, sem nenhum resultado,
projetos voltados para a criação de um Programa Nacional de
Microdestilarias.
Existem linhas de crédito,
mas é preciso mais. A exemplo do Minha Casa, Minha Vida, ou do programa
de cisternas do semiárido nordestino, o governo precisa incentivar e
mobilizar a população, envolvendo-a em uma grande campanha nacional,
para que cada cidade pequena, por meio da agricultura familiar,
associações e cooperativas, se torne auto-suficiente e possa fabricar e
comercializar livremente seu combustível verde. O Proálcool, tal como o
projetou o grande mineiro Aureliano Chaves, previa a disseminação de
pequenas e médias destilarias em todo o Brasil – além das grandes – de
forma não só a produzir, mas também economizar a energia gasta no
transporte dos combustíveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
se não tem nada a contribuir não escreva!