Rodrigo Vianna
“Vampiros!
Miseráveis!”, esbraveja o homem de meia-idade que aparece na TV em
mangas de camisa e com um boné vermelho. Não é um manifestante na rua.
Trata-se de um dos mais importantes líderes do chavismo. Ele fala em
rede nacional. Os “vampiros” são os líderes da oposição. E o homem que
fala alto na TV é Jorge Rodriguez, ex-alcaide (espécie de governador) de
Caracas.
Rodriguez responde aos líderes da
oposição, que transformam a doença de Chavez em mote político. O lider
da oposição devolve: chama Nicolas Maduro (o vice que comanda o governo,
na ausência do presidente) de “usurpador.
Estou
há cinco dias na Venezuela, onde acompanho para a TV Record a crise
provocada pela doença de Chavez, e pela impossibilidade de o presidente
(eleito para mais um mandato) tomar posse nessa quinta-feira.
Mario Silva faz o contraponto, na TV, à midia comercial
É
a terceira vez que venho a Caracas. E sempre me impressiono com o grau
de politização e de acirramento nos debates. Aquilo que no Brasil nós só
vemos nos blogs (a pancadaria verbal e o debate duro quase sempre ficam
restritos à internet), aqui na Venezuela se dá nas ruas e nas telas da
TV aberta.
Caminho pelo centro de Caracas,
acompanhado pelo cinegrafista Josias Erdei. Um militante chavista nos
observa, e provoca: “olha aí mais dois mercenários da informação,
manipulando as notícias sobre a Venezuela”. Paro pra conversar. O
discurso é agressivo, mas eles são simpáticos quando percebem que somos
do Brasil; “Lula, Lula, grande companheiro”… Explico minhas opiniões
pessoais, e o chavista se acalma um pouco. Ainda assim, completa: “nosso
companheiro Mario Silva explica muito bem como funcionam os meios de
comunicação internacionais.”
À noite, vejo Mario
Silva na tela da VTV (a TV estatal). É pau puro. Ele usa a tribuna na
TV para criticar o noticiário dos canais privados (a “matriz informativa
que tentam impor ao povo”, como dizem os chavistas). Isso é o
interessante. Mario Silva é um apresentador com barba por fazer,
agressivo, e que fala em socialismo às 11 da noite na TV. Ele tem um
público amplíssimo. O chavismo politiza o povo.
Termina
o programa de Mario Silva, e entra um rapaz mais jovem, com roupa e
visual mais modernos. Na tela, ao fundo do estúdio, aparecem manchetes
da imprensa internacional. O jovem apresentador, numa linguagem leve e
provocadora, analisa como as redes sociais e os sites dão notícias sobre
a Venezuela. Analisa, pontua, critica. É uma espécie de contra-pauta.
Aquilo que tentamos fazer nos blogs, aqui na Venezuela se faz na TV
aberta, em horário nobre.
Ah, dirão alguns: a
correlação de forças na Venezuela é outra. Claro. Mas a correlação é
outra, também, porque o chavismo não fugiu dessa questão central: a
comunicação. A mãe de todas as batalhas.
Programas
como os que vejo na VTV põem a nu a produção jornalística clássica. O
jornalismo deixa de ser vista pelo grande público como o detentor da
“verdade”, e passa a ser compreendido como aquilo que realmente é: uma
arena onde se disputam idéias, valores.
Apresentadores
e programas desse tipo no Brasil fariam Merval Pereira e Otavinho, de
um lado, e a turma da “mídia técnica” do governo Dilma, de outro, terem
um ataque apoplético.
Mídia “técnica”, sei. O chavismo não acredita nessa bobagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
se não tem nada a contribuir não escreva!