quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O que importa para a maioria dos eleitores e o que interessa aos jornais

por Luiz Carlos Azenha

A distância entre os jornalões brasileiros e a realidade da maioria do povo é imensa. Tão imensa quanto a distância entre o topo da pirâmide social, que se vê representado nos jornais, e a base que não assina nem se interessa pelos veículos da elite (a não ser quando, com dinheiro público, os tucanos promovem assinaturas em massa para ‘formar’ a garotada nas escolas). No passado os jornalistas eram remediados. Ascendiam socialmente para servir aos Frias, Marinho e Civita. Mas mantinham suas relações de classe. Eram do contra. Brigavam pelo contraditório, inclusive internamente.

Hoje os jornalistas dos jornalões são de classe média. Sentem-se à vontade reproduzindo os mesmos preconceitos de classe e ideológicos dos patrões. Para aprofundar o fosso, depois de 2006 os jornalões promoveram os neocons brasileiros ao status de “intelectuais”, com seu pensamento raso e raciocínio esquemático. Na TV Globo houve, pura e simplesmente, limpeza ideológica.

Ao contrário do que se imagina, isso não melhorou, piorou a capacidade da mídia brasileira de perceber a realidade. Afastou ainda mais as redações das ruas. O exemplo mais caricato do fenômeno se vê na cobertura de manifestações reivindicatórias como algo que atrapalha o trânsito em São Paulo. Ou na avaliação quase unânime dos colunistas de que José Serra seria eleito presidente, era apenas uma questão de tempo, afinal era o mais “preparado”.

Eu já disse, aqui, que a relação do povo brasileiro com a política é de desprezo. O povão não se vê representado mesmo pelos que elege. Isso explica o Tiririca, por exemplo. Portanto, quando aparece alguém que influi diretamente na vida de alguns milhões de brasileiros, ainda que indiretamente, torna-se o “pai dos pobres”. Aconteceu com Lula.

Não é um fenômeno difícil de perceber, mas o autismo das Organizações Globo, da Folha, do Estadão e da Abril resulta não apenas do preconceito de classe, da falta dos jornalistas remediados nas redações e da promoção dos neocons. É desonestidade intelectual, mesmo, a serviço de uma campanha.

É olhar toda e qualquer notícia sob o pior ângulo para o governo Lula e, por conseguinte, para a candidata Dilma Rousseff.

O curioso é que eles se enganam, acreditam nas próprias manchetes que produzem e depois saem se perguntando: como é que o mais “preparado” não ganha a eleição?

Notem a manchete que o Estadão “achou”, por exemplo, para o recorde de carteiras assinadas na economia brasileira.

É ou não é uma piada?


08/09/2010 – 10h00
Emprego com carteira assinada bate recorde e atinge 60%, estima IBGE

CIRILO JUNIOR
JANAINA LAGE
DO RIO

Na Folha

Apesar da variação recorde no volume de desempregados em 2009, o emprego com carteira assinada segue em alta no país, segundo informações da Pnad 2009 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No ano passado, 483 mil trabalhadores foram formalizados, o que significou alta de 1,5% em relação a 2008. Ao todo, 32,4 milhões de empregados tinham carteira assinada em 2009, 59,6% do total, excluídos os trabalhadores domésticos. O número é recorde.

Outros 28,2% não tinham carteira assinada, e 12,2% eram militares e funcionários públicos.

Se comparado a 2004, o contingente de pessoas empregadas com carteira cresceu 26,6%. No mesmo período, o total de trabalhadores aumentou 16,7%.

A Pnad mostra ainda que 53,5% dos trabalhadores contribuíam para a previdência em 2009. Cinco anos antes, essa proporção era de 46,4%.

O IBGE identificou 7,2 milhões de trabalhadores domésticos no ano passado, acréscimo de 9% frente a 2008. Ao mesmo tempo, o número de trabalhadores da categoria, com carteira assinada, apresentou expansão de 12,4%, ou 221 mil empregados a mais.

De 2004 a 2009, houve aumento de 11,9% no contingente de trabalhadores domésticos. Em igual período, avançou 20% o total de empregados domésticos com carteira.

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