Publicado
em 16/10/2012 por Mário Augusto
Jakobskind*
É
incrível, o resultado da eleição presidencial venezuelana continua levando os
colunistas de sempre a destilar ódio contra o Presidente Hugo Chávez. Geralmente
estes senhores apresentam argumentos mentirosos ou de meias verdades e se
recusam a apresentar fatos que ajudem a opinião pública a formar um juízo sobre
as transformações em curso na Venezuela.
Um
destes analistas, prestigiado pelo Instituto Millenium, de nome Demétrio
Magnoli, afirmou equivocadamente que os chavistas controlam os meios de
comunicação. Tal argumento não se sustenta, até porque, dos 111 canais de
televisão existentes na Venezuela, 13 são públicos com uma audiência de apenas
5,4%. É o que informam Jean-Luc Mélenchon, ex-candidato presidencial da esquerda
francesa e Ignácio Ramonet, um dos editores do Le Monde Diplomatique.
.
Em
termos de mídia impressa, o panorama é ainda mais avassalador. Oitenta por cento
dos jornais têm o controle da oposição, radicalmente opositora do governo
bolivariano, como El Universal e outros.
Os
jornais e os telejornalões brasileiros não informam isso e se limitam a repetir
que o Presidente Hugo Chávez controla os meios de comunicação. Utilizam os
associados da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que acabaram de se
reunir em São Paulo, a técnica de Goebels, o responsável pela propaganda nazista
na 2ª Guerra Mundial de que mentiras repetidas acabam se transformando em
verdades.
Em
O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, bem como nas revistas Veja e
Época, entre outras publicações, só existe a verdade do pensamento único.
É
realmente de fazer espécie a parcialidade da mídia de mercado brasileira e
latino-americana em relação aos acontecimentos na Venezuela. Os veículos não
conseguiram absorver o resultado das urnas, quando até o candidato oposicionista
derrotado, Henrique Capriles Radonski aceitou e disse que continuará fazendo
oposição. Já anunciou que se candidatará ao governo de Miranda, Estado em que se
projetou.
A
mídia de mercado na Venezuela cansou de apresentar pesquisas, repetidas em todo
o continente, anunciando a vitória de Capriles. É visível que a vitória de
Chávez por mais de um milhão e 300 mil votos de diferença deixou os veículos sem
saber o que fazer.
Não
tiveram outra alternativa a não ser ter de informar o resultado. Mas se os
leitores pensam que os articulistas e o noticiário de um modo geral mudaram de
tom, enganam-se. Nem bem saíram os resultados já começaram a aventar a
possibilidade de Chávez não completar o mandato devido à doença que o
acometeu.
Os
colunistas de sempre não escondem o desejo de ver Chávez morto o mais rápido
possível e ainda se valem da Constituição para afirmar que, se em dois anos ele
não poder mais governar, serão convocadas novas eleições.
Para
se ter uma ideia do fanatismo antibolivariano da mídia de mercado venezuelana,
vale a pena mencionar um programa de televisão em que participou o jornalista
argentino Jorge Lanata. Este “visionário” previu uma vitória de Capriles com uma
diferença de 500 mil votos. Quando começaram a aparecer os resultados, o mesmo
Lanata falou em “empate”.
Algumas
horas depois do ridículo que fez, o mesmo jornalista “informou” que foi
“sequestrado” no aeroporto de Caracas e teve “roubada as imagens do registro do
enriquecimento de Hugo Chávez”.
Mas
o auge do ridículo ficou por conta do site estadunidense de notícias Huffington Post, que colocou um vídeo na
internet de uma criança de seis anos chorando ao ser informada da derrota de
Capriles. A direita está divulgando o choro como se fosse um grande
acontecimento político.
É
este o tipo de jornalismo que tenta incutir na opinião pública que a Venezuela
vive uma “ditadura” etc. e tal. Os papagaios de pirata por aqui, inconformados
com o resultado das eleições, vão repetindo as baboseiras que não se
sustentam.
Capriles
teve total liberdade de apresentar suas propostas. Andou dizendo até que
pretendia continuar as ações sociais executadas pela revolução bolivariana
capitaneada por Chávez, chegando até a procurar envolver Lula, que não caiu em
seu conto, quando na verdade tentava esconder o seu verdadeiro projeto de fazer
o jogo das elites que perderam as rédeas do país desde a ascensão do atual
presidente.
Por
estas e muitas outras vale acompanhar o noticiário e se prevenir em relação ao
que será apresentado de agora em diante sobre o “inferno” venezuelano.
Dificilmente os leitores, telespectadores e ouvintes serão informados sobre um
fato reconhecido por organismos internacionais, o de que o IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano), que mede a qualidade de vida da população, da Venezuela
é o melhor da América Latina e se desenvolveu com a política de distribuição de
renda colocada em prática desde a ascensão de Chávez em 1998.
Claro
que a Venezuela enfrenta desafios, um deles o da industrialização, que é uma das
metas atuais da revolução bolivariana. Quando os opositores de Chávez
controlavam a Venezuela através do revezamento entre dois partidos, o da social
democracia (AD) e o social-cristão (Copei), a burguesia que faz compras e passa
os fins de semana em Miami perdeu a hegemonia política. Nunca se conformou e já
tentou tirar Chávez por um golpe de estado em abril de 2002 e outras tentativas
de desestabilização. Como não conseguiu o intento decidiu mudar de estratégia
apostando em Henrique Capriles
Radonski.
Mário Augusto
Jakobskind* é correspondente no Brasil
do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de
São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho
Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América
que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE
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