Operações da Polícia Federal (PF) em 2011 já levaram à cadeia 392 empresários e seus comparsas por corrupção ativa e participação em esquemas de desvio de dinheiro estatal. Nas mesmas ações, foram algemados 143 funcionários públicos. Última leva de detenções, feita nesta terça-feira, desbaratou fraude no ministério do Turismo, prendeu número dois da pasta e pode custar problemas políticos à presidenta Dilma Rousseff.
André Barrocal
BRASÍLIA – A Polícia Federal (PF) prendeu, de janeiro a agosto, 392 corruptores, entre empresários, seus intermediários e laranjas, todos por montagem de esquemas de desvio de dinheiro estatal ou aliciamento de funcionários públicos em troca de favorecimento em licitações, por exemplo. A quantidade de corruptores algemados, segundo dados da própria PF, é mais do que o dobro de servidores detidos (143) nas mesmas 27 operações.
A última leva de corruptores (29) foi encarcerada nesta terça-feira (09/08), durante operação que prendeu o número dois do ministério do Turismo e pode causar problemas políticos à presidenta Dilma Rousseff. Este e outros casos de corrupção envolvendo pessoas ligadas a partidos devem ser discutidos por Dilma com dirigentes aliados nesta quarta-feira (10/08).
A nova operação da PF, batizada de Voucher, desbaratou esquema operado a partir do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi). Sediada em São Paulo, a entidade assinou com o ministério do Turismo, em 2009, convênio de R$ 4,4 milhões para treinar trabalhadores no Amapá. Segundo a PF, o Ibrasi recebeu R$ 4 milhões e teria desviado cerca de um terço, em vez de destinar à qualificação de trabalhadores.
“O Ibrasi criou um esquema e fraudava licitações”, disse o diretor-executivo da PF, Paulo de Tarso Teixeira. “Tem empresários envolvidos”, completou o delegado, relatando que foram apreendidos R$ 610 mil em dinheiro vivo na casa do dirigente principal do Ibrasi, em São Paulo.
Impacto político
A operação começou em abril, a partir de um comunicado feito à PF pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Em três processos em curso no TCU, foram identificados indícios de irregularidades. A origem delas seriam “emendas parlamentares”, dinheiro separado no orçamento de órgões públicos a pedido de um deputado ou um senador. O convênio com o Ibrasi seria objeto de uma emenda ao caixa do ministério do Turismo.
O ministério informou que, nesta quarta-feira (10/08), vai publicar no Diário Oficial da União portaria que impõe uma auditoria a todos os convênios com prestação de contas pendentes e a suspensão da assinatura de novos convênios. E que pediu à Controladoria Geral da União que abra processos para apurar o envolvimento de servidores nos desvios.
A PF prendeu seis funcionários públicos, entre eles, o secretário-executivo do ministério, Frederico Silva Costa, e o secretário nacional de Desenvolvimento de Programas de Turismo, Colbert Martins. Os dois foram nomeados pelo ministro Pedro Novais, que foi indicado para o cargo pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB). Sarney é eleito pelo Amapá, onde deveria ter havido treinamento de trabalhadores com dinheiro público desviado.
Também foi encarcerado o ex-presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), Mário Moysés. Ele deixou o cargo em junho para ser substituído pelo deputado federal Flavio Dino (PcdoB-MA), que é inimigo da família Sarney no Maranhão e foi escolhido por Dilma Rousseff.
Moysés era chefe de gabinete do ministério na época em que o convênio com o Ibrasi foi celebrado. Foi levado à pasta pela ex-ministra Marta Suplicy (PT).
Para a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, Ideli Salvatti, que é encarregada da coordenação política do governo, por ora, não há nada contra o ministro Pedro Novais, já que a origem da operação da PF é um convênio anterior à nomeação do peemedebista.
Ela disse que é preciso esperar a conclusão das investigação da PF, que promete fazê-lo em duas semanas. “Vamos aguardar. Quem cometeu qualquer ato ilegal deverá ser punido, por isso nós estamos acompanhando a investigação”, disse.
Apesar da implicação de políticos e servidores graúdos, o delegado Paulo de Tarso disse que a Presidência não foi previamente comunicada da operação.
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