Políticos não gostam de brigar com a mídia. Inclusive os bons políticos – e eles existem. Isso ocorre porque, às vezes, uma eleição fica dependendo de um pequeno percentual de votos e, como a mídia atinge a muitos, uma simples reportagem pode acabar com uma carreira política ou resultar na perda de uma eleição.
Por outro lado, apesar de o poder de difusão da blogosfera ter aumentado bastante nos últimos anos, ainda não é capaz de enfrentar meios de comunicação de massa que facilmente atingem milhões em questões de horas enquanto que a mesma blogosfera não passa da casa dos milhares em períodos bem maiores, de dias ou semanas.
Há hoje, assim, um assunto que a mídia tenta ignorar: a acusação de seletividade ética em sua “fiscalização” do Estado, ou seja, a conduta de só “fiscalizar” políticos do PT ou aliados ao partido apesar de que acusações idênticas poderiam ser feitas a tucanos e aos seus aliados e não são feitas.
A seletividade ética da mídia é altamente danosa à democracia porque não pretende promover ética de verdade, mas os interesses de determinados grupos políticos. Para isso, Globo, Folha de São Paulo, Estadão e Veja publicam diariamente, há anos, denúncias contra um lado só, poupando o outro.
Já cansei de dizer aqui que o problema não é fiscalizar o PT e seus aliados, mas fiscalizar só a estes. E de dizer que as poucas matérias incômodas aos adversários do grupo político que governa o país não passam de cortina de fumaça, porque são pouquíssimas e sem destaque sequer parecido com o que é dado ao outro lado.
Apesar disso, a mídia tem militância. Inclusive na blogosfera. Por isso a chamam de Partido da Imprensa Golpista (PIG), porque, além de agir politicamente em benefício de alguns políticos e em prejuízo de outros, age como partido, organizando uma militância disposta a se equiparar à militância partidária assumida.
Basta abrir qualquer blog político que tenha bom volume de comentários para ver a militância midiática defendendo abertamente esses grandes veículos supracitados de uma acusação indefensável sob qualquer análise minimamente séria e aprofundada, de que omitem notícias desfavoráveis ao PSDB e aliados e destacam as desfavoráveis aos seus adversários.
Em 2007, foi fundado o Movimento dos Sem Mídia para lutar contra isso. Uma ONG sem recursos e que proibiu a si mesma de receber dinheiro público. Mas isso não a impediu de promover o primeiro ato público de relevo contra um meio de comunicação após o fim da ditadura militar. Foi diante da Folha de São Paulo, em 15 de setembro daquele ano.
Duas centenas de pessoas ouviram-me dizer ao megafone (comprado sob contribuições dos leitores deste blog) diante da sede da Folha, na Alamenda Barão de Limeira, em São Paulo, tudo aquilo que, agora, parece que há que ser dito de novo de uma forma que não se possa ignorar.
É difícil, hoje em dia, mobilizar grandes multidões para uma manifestação que não seja em prol de interesses restritos de grupos – interesses legítimos, diga-se – tais como a legalização da maconha, alguma campanha salarial, os direitos dos homossexuais etc. A exceção foi um ato público recente, o “Churrascão da Gente Diferenciada”, em maio, no bairro paulistano de Higienópolis, que atraiu uma pequena legião de manifestantes.
Não se pode ignorar, porém, que aquele foi um fenômeno, um raio que dificilmente cairá no mesmo lugar outra vez. Até porque, a conduta absurda de um grupo de moradores daquele bairro de quererem proibir ali a circulação de outras pessoas ganhou destaque na mídia e a própria seletividade ética dessa mesma mídia certamente não ganhará destaque algum.
Se não se fizer nada, então, continuaremos a ser esbofeteados por uma ética absolutamente falsa, seletiva, cínica de, por exemplo, acusarem a família de Lula de se beneficiar de sua influência para fazer negócios enquanto que as famílias de políticos influentes do PSDB como Fernando Henrique Cardoso ou José Serra fazem negócios esquisitos e a mídia ignora.
No fim de semana, a Folha acusou uma neta de Lula de se beneficiar da influência do avô e, nesta quarta-feira, O Globo acusa um filho do ex-presidente da mesma coisa. Ou melhor, não são acusações, são insinuações, porque, como não há um fato determinado a acusar, levanta-se suspeita sem dizer exatamente sobre o quê.
No último sábado, este blog noticiou que o filho legítimo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique Cardoso, o PHC, acaba de se associar ao maior grupo de mídia do planeta, a Walt Disney Company, em um empreendimento inusitado, uma grande rádio em São Paulo que pretende atingir cobertura nacional.
A mídia, porém, apesar de FHC ser o maior líder da oposição demo-tucana e de um partido que controla o segundo maior orçamento da República, o do Estado de São Paulo, não noticiou nada, não investigou nada, não insinuou nada. Ignorou solenemente. Ou melhor: escondeu, porque isso é notícia, sim. E “quente”.
Por que, com tantos empreendedores tradicionais de mídia neste país, o maior grupo de mídia do mundo foi procurar justamente o filho de um político que durante o governo do pai se beneficiou de dinheiro público sem que a mídia, então, fizesse barulho sequer parecido com o que faz hoje quando Lula ou sua família ganham dinheiro privado?
Esse é só um exemplo da seletividade ética da mídia. Num momento em que o DNIT, órgão de um governo petista, não sai da mídia um só dia, a Dersa, órgão do governo tucano de São Paulo, tem o mesmo tipo de problema que seu congênere federal e a mídia não cobre, não denuncia, não pressiona, não fiscaliza. Por quê?
Peço aos militantes mais fervorosos do PT e aos apoiadores mais convictos do governo Dilma que não se zanguem com o que direi, pois a janela não tem culpa pela paisagem que mostra: este governo não promoverá democratização da comunicação através da propositura de uma lei como a que a Argentina tem hoje, a “ley de médios”.
Sobretudo: não será enviado ao Congresso, pelo governo, qualquer projeto de lei que vete propriedade cruzada de meios de comunicação – uma lei igual às que existem em países “marxistas” como Estados Unidos, Inglaterra, França, Bélgica, Suíça, enfim, nas sociedades mais avançadas e democráticas do planeta.
É definitivo, meus caros. Tenho informações, de fontes seguras, de que o governo Dilma não tem a menor intenção de mexer com aquilo que impede a democratização da comunicação, a concentração de propriedade de meios. Não se tentará proibir que um mesmo grupo tenha tevê, rádio, jornal, revista, portal de internet, tudo ao mesmo tempo e no mesmo lugar.
Não tenho culpa disso, não fui eu que tomei essa decisão e ela já é discutida abertamente no governo e entre a classe política. Não estou inventando nada. Aliás, a mera conduta conciliadora do governo federal deixa claro que não será feito nada contra os barões da mídia que lhes contrarie o interesse de hegemonia nas comunicações.
Muitos não acreditarão em mim e quererão pagar para ver. Entendo, aceito e respeito esse direito democrático de divergir daquilo que é, somente, o ponto de vista deste blogueiro, apesar de que, entre os mais informados e que têm interlocução com o governo, todos sabem que o que digo é fato.
Todavia, faço uma proposta àqueles que não estão entre os que pretendem ficar sentados esperando que o governo faça aquilo que compete à sociedade fazer, ou seja, pressionar para que tenhamos uma regulação dos meios de comunicação nem maior nem menor do que a que vige em TODOS os países verdadeiramente democráticos.
Neste mês de agosto, tenho compromissos com a minha atividade remunerada – que nada tem que ver com as questões de que este blog trata, pois sou representante comercial. Contudo, em setembro terei condições de doar uma parcela maior do meu tempo à causa da democratização (de verdade) da comunicação de massas no Brasil.
Sei que é difícil mobilizar as pessoas para saírem da militância virtual e irem para a militância real, nas ruas, aquela que, aqui ou em qualquer parte, é a que produz efeitos verdadeiros e profundos, ainda. Pode ser que um dia alguém consiga mudar alguma coisa só através da internet. Hoje, contudo, só ações concretas têm esse poder.
Não vou esperar que o governo faça o que é de interesse da sociedade sem ser pressionado. O escândalo na imprensa britânica, que já se espalha por outros países, mostra como é danoso para a sociedade uma imprensa que mente sobre seus métodos e objetivos e que se converte em partido político representante de grupos de interesse.
Pegarei o megafone que os leitores deste blog ajudaram a comprar em 2007, portanto, e irei para diante da mesma Folha. Irei várias vezes em um período de semanas. Na primeira vez, poderei ir sozinho ou com um grupo pequeno. Contudo, voltarei outra e outra vez. Gritarei, lá na frente, que quero que a mídia fiscalize todos os políticos e não só os do PT e aliados.
Em alguns dias, quem sabe mais gente decida ir protestar junto comigo. E, quem sabe, em outras partes do país surjam outros Eduardos que façam a mesma coisa diante de outros tentáculos do PIG até que a nossa voz se torne ensurdecedora e a mídia tenha que acusar o golpe e se explicar. E o governo tenha que agir.
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