segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O jegue, as motos e os chineses

Como é legal ver boas reportagens e como elas nos fazem pensar em coisas que estão diante dos nossos narizes e a gente, quase sempre, não reflete sobre elas.

Falo da excelente reportagem de Letícia Lins, publicada em O Globo, hoje: Em Serra Talhada, as motos já somam a maior frota do sertão pernambucano e quase aposentam jegues .

Parece só uma curiosidade, não é? Mas olhem a importância social e econômica do fenômeno, muito bem narrada pela repórter logo na abertura da matéria, com grifos meus:

“Em vez de quatro patas, duas rodas. Já chamado de “volkswagen do sertanejo”, o jumento começa a dividir a paisagem do semiárido com o colorido reluzente das motos que levantam a poeira no meio da caatinga. São tantas que já superam até o número de automóveis no agreste e nos sertões: 23.221 motocicletas foram licenciadas pelo Detran no primeiro semestre deste ano contra 12.502 carros naquelas regiões, a grande maioria destes concentrada em áreas urbanas.”

Não vou narrar a matéria toda porque, certamente, ela está mais bem escrita pela repórter do que eu conseguiria fazer aqui. Recomendo firmemente a leitura. Ela dá uma visão ampla do problema, desde a importância nas atividades econômicas, a mudança de hábitos e os problemas de acidentes e mortalidade que isso traz.

Quero, porém, escrever o que fiquei pensando a partir daí.

Fiquei lembrando dos filmes italianos antigos, onde as pequenas motonetas eram comuns entre as classes populares nos anos 50, depois pensei na origem do poderio de montadoras japonesas como a Honda, na mesma época, produzindo motocicletas e depois pequenos carros, para o povo japonês arruinado pela guerra. O mesmo na Índia e na China, onde estes veículos são popularíssimos

E pensando como se poderia, no próximo Governo, criar um sistema de transporte alternativo aos automóveis, que permitisse os deslocamentos nos meios rurais e nos bairros até os eixos viários de transporte coletivos.

E acabei me deparando com esta reportagem superinteressante da Time sobre a experiência chinesa com bicicletas elétricas, que para mim e -imagino – para a maioria, era uma coisa completamente desconhecida.

Ali, fiquei sabendo que, para uma produção de 9,4 milhões e veículos em 2008, foram produzidas 21 milhões de bicicletas elétricas, nada menos que 90% do total deste tipo de veículos produzidos no mundo. E que a frota de automóveis chinesa, de 25 milhões de veículos é apenas um quarto da de bicicletas elétricas, de 100 milhões de unidades. O Governo chinês subsidia a produção destes veículos e as administrações locais cuidam de criar locais seguros de parada para as e-bikes. A velocidade é legalmente limitada a 36 km por hora, o que reduz muitíssimo a gravidade dos acidentes.

Elas têm autonomia entre 40 e 100 km por recarga, dependendo do peso transportado e do uso auxiliar dos pedais.

O que custaria, nos novos projetos de rodovias, aumentar um pouco os acostamentos e isolá-los com tachões, para permitir o tráfego local de bicicletas deste tipo?

Claro que o transporte de massa é o mais importante para o funcionamento dos grandes centros, mas todo mundo quer ter a oportunidade do deslocamento individual. E, nas áreas rurais e periféricas aos grandes centros, o adensamento não permite soluções de massa econômicas.

Se entrou a moto no lugar do jegue, é que houve demanda real e condições de compra, principalmente com o financiamento mais barato e a isenção de IPI.

As bicicletas chinesas são uma ótima experiência. Quem sabe, com criatividade, interesse de servir a população e ação do governo federal não seja algo para a gente tentar, ao menos em vias secundárias?

Mas, estranhamente, aqui o que virou sinal de progresso é importação de carro de luxo.

post do tijolaço

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