terça-feira, 13 de julho de 2010

A LEI DAS GRANDES POTÊNCIAS.

Publicado por Flavio Tavares de Lyra
Para o turista, justificadamente deslumbrado com os monumentos, obras de arte, e eventos culturais de que pode desfrutar nos principais países do mundo, assim como, para os que se deixam enlevar pela beleza dos discursos bem intencionados de seus dirigentes e diplomatas, nunca fica bem evidenciada a natureza aética, agressiva, egoísta e verdadeiramente desumana de suas políticas externas.
Essas políticas, mesmo quando disfarçadas nas formas de proteção aos direitos humanos, assistência financeira e técnica, bem como para fins humanitários, sempre fazem parte de um contexto maior voltado para assegurar a maximização do poder de que dispõe em relação aos demais países. Para tanto, se valem de todos meios imagináveis para impedir os países menores de se capacitarem para diminuir as desigualdades na distribuição do poder e da riqueza.
Nessa busca permanente por mais poder, as grandes potências não hesitam em deflagrar guerras, patrocinar golpes de estado, realizar espionagem, assassinar lideres políticos, chantagear, subornar políticos e autoridades, realizar campanhas na mídia, aplicar sanções econômicas, desrespeitar tratados, etc.
As grandes potências, além de disporem de enormes arsenais de armas de alto poder destrutivo e de corpos militares altamente capacitados, valem-se de um enorme aparato de organismos internacionais, aparentemente multilaterais, com poder decisão nas esferas, política econômica e financeira em nível internacional, mas sob seu mais estrito controle, através do poder que dispõem de indicar seus dirigentes e de vetar decisões que contraírem seus interesses.
Vejam o caso da Organização das Nações Unidas-ONU, a instituição internacional mais abrangente, com 182 países membros, fundada em 1945, cujo objetivo principal é manter a paz internacional. Seu Conselho de Segurança tem apenas cinco membros permanentes, os quais possuem poder de veto na aprovação de suas resoluções. São eles: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Inglaterra. Todos os cinco países dispõem de grandes arsenais atômicos, com um volume conjunto que poderia destruir o mundo várias vezes.
Além disto, com os Estados Unidos à frente, o único país que foi capaz de lançar bombas atômicas sobre cidades (Hiroshima e Nagasaki, no Japão) matando centenas de milhares de pessoas, continuam investindo volumosos recursos na criação e aperfeiçoamentos de novos armamentos com poder de destruição cada vez maior.
No caso das armas atômicas apesar do objetivo do Tratado de Não Proliferação Nuclear- TNP, firmado pelos membros da ONU, novos países têm conseguido desenvolver armas atômicas (índia, Coréia do Norte, Paquistão e, segundo se supõe, Israel. O TNP implica o compromisso dos países que têm arsenais atômicos de eliminá-los e dos que ainda não dominam a aludida tecnologia, de não produzir tais armas.
Embora, vigorando há muitos anos o TNP não tem funcionado, pois os detentores mais antigos de arsenais atômicos não têm cumprido a cláusula de destruição de seus arsenais e novos países passaram a ter as condições de produzir artefatos atômicos.
O que mais chama a atenção é a hipocrisia com que se comportam os membros do chamado “clube atômico”, quando se mobilizam para adotar medidas contra os demais países que não dominam a tecnologia nuclear. Todos os países têm interesse em possuir tal tecnologia, pois além dos fins militares para que serve, tem também usos pacíficos de grande importância.
A recente resolução do Conselho de Segurança da ONU contra o IRAN, liderada pelos Estados Unidos é a demonstração mais clara dessa hipocrisia. A resolução estabelece uma série de sanções contra o IRAN porque este país, não vinha se submetendo à fiscalização da Agência Internacional de Energia Atômica-AIEA, no que respeita à atividade de enriquecimento de urânio, processo básico para desenvolver armas atômicas, mas também indispensável para vários usos civis.
O pior de tudo é que a resolução aprovada foi apresentada pelos Estados Unidos no mesmo dia em que Brasil, Turquia e IRAN firmavam um acordo no qual o IRAN se comprometia a atender às exigências que a AIEA vinha fazendo há algum tempo.
As gestões do Brasil, junto ao governo do IRAN, tinham sido anteriormente estimuladas, através de carta dirigida ao presidente do Brasil pelo atual presidente dos Estados Unidos. Logo em seguida, a aprovação da resolução do Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos estabeleceram um novo conjunto de sanções econômicas contra o IRAN.
O ocorrido evidencia três coisas: primeira, as grandes potências não querem competidores no “clube atômico” por causa do poder que possuir armas atômicas propícia; segunda, as preocupações demonstradas com o desenvolvimento de armas atômicas pelo IRAN funcionavam também como um meio para atingir outros propósitos, especialmente dos Estados Unidos; terceira, houve a nítida intenção de desmerecer os resultados obtidos nas negociações entre Brasil, Turquia e Iran.
Não estamos aqui para defender o desenvolvimento de armas nucleares por quem quer que seja, mas que direito têm os que monopolizam esse poder e que detêm imensos arsenais não apenas de armas atômicas, de proibir que outros sigam o mesmo nefasto caminho? A atuação das grandes potências é principalmente voltada para a manutenção de seu monopólio de armas altamente destrutivas, especialmente atômicas, e do poder que isso gera para dominar o resto do mundo e nunca para evitar a proliferação dessas armas terríveis.
Pode existir coisa mais absurda do que os Estados Unidos, o maior detentor de armas de alto poder de destruição, invadirem o Iraque, em atitude não aprovada pela ONU, sob o pretexto da existência de armas químicas naquele país, coisa que nunca foi comprovada?
Como sabemos, essas condutas arbitrárias das grandes potências não ficam apenas no campo do poder militar, elas se estendem a vários outras áreas. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, por exemplo, são controlados pelas grandes potências. As duas maiores instituições internacionais com atuação no campo da concessão de empréstimos, também operam dentro da mesma concepção de assegurar o aumento do poder das grandes potências. As chamadas “condicionalidades” (regras) que os países que firmam acordos com esses organismos são obrigados a cumprir, são meros pretextos para mantê-los acorrentados a doutrinas
econômicas, cujo propósito é favorecer o domínio dos mercados internacionais pelas grandes
corporações sediadas nos países centrais e facilitar seu controle econômico sobre o mundo.
Os países que se rebelam contra essa ordem internacional opressora e tentam se organizar para explorar suas potencialidades nacionais, em favor de seus povos, estão sempre correndo o risco de sanções econômicas e políticas de parte das grandes potências. Estão, frequentemente, sujeitos a serem invadidos, terem seus governantes submetidos a campanhas de desmoralização e serem vítimas de golpes de estado, patrocinados pelas grandes potências, além de outras agressões menores que violam sua soberania.
O que não deixa de ser surpreendente é que essas agressões contem com o apoio de segmentos importantes da elite política e econômica dos países vitimados, que assim agem pelo temor à perda de seus privilégios que poderia decorrer da mobilização de forças políticas internas que defendam a soberania nacional e impulsionem o desenvolvimento econômico em favor da maioria da população.
Este é, ainda, o mundo terrível em que vivemos, sob a Lei de “Maximização do Poder a Qualquer Custo” que rege a conduta das grandes potências em suas relações internacionais.

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