quinta-feira, 29 de julho de 2010

Glasberg: a BrOi é a nova Ambev: 2 brasileiros = 1 estrangeiro

Dantas contempla a metamorfose do dinheiro dos trabalhadores


O Conversa Afiada tem o prazer de publicar editorial escrito por Rubens Glasberg, três ano atrás, na indispensável publicação Teletime.

De lá para cá, como previa Glasberg, a BrOi foi para o saco.

Daniel Dantas não pagou o que devia.

E botou no bolso um cala-aboca de U$ 1 bilhão.

As duas gigantes tipicamente nacionais deram uma super-gigante portuguesa no Brasil.

Desde Cabral, nunca os portugueses ocuparam um espaço tão largo (de Banda Larga, claro) na economia brasileira.

E viva o Brasil (dirão os portugueses) !

E viva a clarividência do Glasberg:


EDITORIAL

O risco da “ambevização” e “opportunização”

segunda-feira, 9 de abril de 2007, 20h42

De repente, o assunto começou a ganhar espaço na grande imprensa: a mudança das regras vigentes há quase dez anos no setor de telecomunicações, permitindo fusões e incorporações das concessionárias fixas, particularmente de empresas como a Brasil Telecom e a Telemar. Nos feriados da Semana Santa, Folha, Estadão e um colunista da Veja destacaram o assunto. Todos, talvez inadvertidamente, trabalharam com a mesma pauta. Como conseqüência, hoje na Bovespa, Brasil Telecom e Telemar lideraram as altas com 6% em um único dia.

Deixando de lado, sob o beneplácito da CVM, mais uma forte especulação em bolsa com base em boatos sobre fusões e aquisições de empresas de telecomunicações no Brasil, vamos tentar entender as razões, pressões e possíveis conseqüências. Enfim, como se dizia já na antiga Roma, quem se beneficia ?

As razões para a fusão Brasil Telecom e Telemar até que são convincentes. As duas empresas têm presença predominante de capital público e semi-público nas ações com direito a voto. Na Telemar, por exemplo, BNDES, fundos de pensão e subsidiárias do Banco do Brasil chegam a deter mais de 50% das ordinárias da holding controladora, sem participar, no entanto, do grupo de controle que gerencia a operadora. Só o BNDES, com 25% das ordinárias, tem direito (nunca usado) a veto no conselho, onde as decisões são tomadas pelos representantes dos grupos GP, La Fonte e Andrade Gutierrez.

Na Brasil Telecom quem manda são os fundos juntamente com o Citi depois que ambos defenestraram o Opportunity, antigo gestor comum.

Essas duas operadoras enfrentam separadamente no País a concorrência das duas principais empresas multinacionais atuantes na América Latina – Telefônica e Grupo Carso, do empresário mexicano Carlos Slim. Ambas têm faturamento em torno de US$ 40 bilhões cada, com vantagens de escala e capacidade enorme de investimento com fácil acesso ao mercado internacional de capitais.

É razoável aceitar os argumentos dos gestores da Brasil Telecom e da Telemar, com faturamentos respectivamente em torno de US$ 7 bilhões e US$ 10 bilhões, de que isoladamente não conseguirão sobreviver e competir com os dois gigantes estrangeiros e de que seria importante ter pelo menos uma grande empresa de telecomunicações nacional. Juntas, ainda teriam alguma chance.

As decisões, porém, não são tão simples. Apesar do discurso patriótico/nacionalista, quem garante que a empresa resultante da fusão continuará nacional? Todos nós estamos lembrados do recente caso da Ambev. Permitiu-se a fusão entre a Brahma e a Antártica para formar uma grande multinacional brasileira. Durou pouco. As ações se valorizaram em bolsa por causa da fusão e os controladores aproveitaram a oportunidade para vender a Ambev para os belgas e foram viver na Europa. Triste fim do discurso nacionalista.

Mas esse não é o único risco envolvido. Por trás de tudo, mais uma vez, está ainda o Opportunity de Daniel Dantas, arregaçando as mangas e preparando-se (quem sabe?) para voltar ao controle das duas teles, já que ainda detém participações em ordinárias na Brasil Telecom e na própria Telemar. Quanto, exatamente, não se sabe, porque grande parte das ações foram compradas por meio de garimpagem ou são parte de litígio com o Citi e com os fundos de pensão. Com discurso patriótico, talvez usando consultorias de ex-ministros petistas ou dirigentes antigos da Anatel, Dantas não largará o osso. Continuará tentando convencer com seu time de advogados regiamente remunerados que é um injustiçado e que cabe a ele como predestinado ser uma espécie de Slim brasileiro. Já chegou a desenhar este projeto em entrevista ao jornal Valor, em 2001. Dantas quer gerir empresas, não vendê-las, e as conseqüências sabemos quais são. Depois de sete anos à frente da Brasil Telecom, Telemig e Amazônia Celular, o Citi cobra indenização na Justiça de Nova York de US$ 300 milhões, mais “punitive damages”, que podem chegar a US$ 1 bilhão. E a nova gestão da Brasil Telecom apresentou à CVM um conjunto de denúncias por fraudes em torno de R$ 600 milhões.

O Brasil e o setor de telecomunicações não merecem a repetição dessa história. Se a eventual fusão Brasil Telecom e Telemar for inexorável para garantir a competição e impedir uma eventual cartelização quando os dois gigantes internacionais não tiverem mais mercado a disputar, que ela ocorra de acordo com o interesse público e, portanto, de acordo com uma política pública estabelecida pelo governo. Preservar o interesse nacional é importante, mas nesse caso específico, vale sempre lembrar a frase de Samuel Johnson: “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.

Rubens Glasberg

Navalha
A BrOi é uma das ultimas vítimas da ideologia da “burguesia nacional”.

Durante um certo tempo, vigorou no Brasil uma peripécia ideológica que consistia em supor que o fortalecimento da “burguesia nacional” seria um obstáculo à expansão do “imperialismo yankee”.

Muitos intelectuais comunistas cairam nessa esparrela.

Marx não tinha nada com isso: ele que nunca imaginou que empresário fosse nacionalista.

Era coisa tipicamente soviética: criar embaraços ao “imperialismo yankee”, onde quer que fosse.

Aqui no Brasil se pensava (e pensa) assim: se você juntar um Matarazzo com um Klabin dá uma Esso.

Não deu.

Deu banha embrulhada em papelão.

A Ambev, concebida no cérebro privilegiado do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foi produto dessa quimera.

Duas empresas genuinamente nacionais – a Brahma, e a Antarctica – deram uma empresa belga.

Agora, a mesma concepção juntou a Oi à Brasil Telecom.

Deu Portugal Telecom.

Nos Estados Unidos se chama essa política de “pick the winner” – o Estado escolher quem vai ganhar a corrida.

O Luciano Coutinho é um especialista em “pick the loser”.

(Com o dinheiro do FAT.)

Em tempo: as ações da Telemar, da Oi, caíram hoje na Bolsa na proporção da perda de poder dos acionistas controladores.

Paulo Henrique Amorim

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