segunda-feira, 21 de julho de 2014
O aeroporto de Aécio e o comportamento da mídia
14 milhões de reais foram gastos na obra, segundo a Folha.
A euforia que me chama a atenção não é a dos petistas. Esta é previsível, dadas as circunstâncias.
É a de pessoas para as quais o furo da Folha é a prova definitiva de que a mídia não favorece o PSDB e nem, muito menos, se esmera nas denúncias contra o PT.
Cada um fique com sua crença, mas quem acredita nisso – na demonstração de neutralidade apartidária por conta do aeroporto denunciado – acredita em tudo, conforme disse Wellington.
Observe.
Primeiro, entra aí uma espécie de cota da Folha de notícias negativas para o PSDB. Assim como tem uma cota de colunistas de pensamento independente – para cada Janio de Freitas há vários Magnollis – a Folha tem também uma para notícias.
Faz parte do esforço em manter de pé o slogan com o qual ela conquistou, no passado, a liderança entre os jornais: aquele que afirma que a Folha não tem rabo preso com ninguém.
Muito mais por razões de marketing do que propriamente por razões jornalísticas, a Folha é entre as publicações das grandes companhias jornalísticas a que mais parece se preocupar com a imagem de imparcialidade.
É por isso que, de vez em quando, você vai ler lá coisas como o aeroporto de Minas. É uma característica da Folha, e só da Folha.
Saia da árvores e analise a floresta.
A grande diferença entre uma denúncia contra o PT e uma denúncia contra o PSDB está na repercussão dada pelas demais empresas de jornalismo.
Num caso, quando a vítima das acusações é o PSDB, o assunto vai morrendo, à falta de interesse de jornais e revistas. No outro, quando contra o muro está o PT, são manchetes incessantes, e desdobramentos se multiplicam.
Compare a cobertura dada, algum tempo atrás, à Petrobras, depois da compra de uma refinaria em Pasadena, com o noticiário relativo ao escândalo das propinas do metrô de São Paulo.
O episódio que melhor mostra a distinção no tratamento de temas assemelhados diz respeito à compra de votos no Congresso para que fosse aprovada a emenda que permitia a reeleição de FHC.
Como agora, a denúncia partiu da Folha.
Como o Jornal Nacional, por exemplo, repercutiu a compra? Nos últimos anos, o JN se habituou a pegar denúncias anti-PT da Veja e, na edição de sábado, dá-las com extremo alarido.
Eram amplificados assim, com o mesmo expediente, ataques ao governo petista. O espaço dado pelo JN às acusações levava depois, durante a semana, o resto da mídia – jornais, sobretudo – a se engajar na exploração dos “furos” da Veja.
Este comportamento padrão, repetido metodicamente ao longo de tanto tempo, acabou minando a credibilidade da grande mídia perante a parcela mais esclarecida do público – e não apenas entre petistas.
Alguns detalhes mudaram: a radicalização progressiva da Veja levou os editores do Jornal Nacional a tomarem mais cuidado com o noticiário da revista. Acabou a repetição mecânica.
Mas o processo, em si, continua o mesmo. Notícia ruim contra o PT é, para a mídia, notícia boa. Notícia ruim contra o PSDB é, para a mídia, notícia ruim.
O aeroporto de Aécio, por tudo isso, rapidamente vai sumir do noticiário da mídia nesta semana.
Não porque o assunto não seja importante, mas pelas preferências ideológicas e partidárias das grandes empresas de jornalismo, para as quais notícia é algo definitivamente subjetivo.
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