Via Rebelión
A
Rússia proibiu completamente os OGM; o primeiro ministro Dmitry
Medvedev advertiu: “se os norte-americanos gostam dos produtos OGM, que
os comam. Nós não precisamos deles; temos espaço e oportunidades
suficientes para produzir comida orgânica”. A China proibiu os OGM em
produtos alimentícios militares. A Itália acaba de promulgar uma lei, a
Campo Livre, que castiga com prisão de um a três anos e multa de 10 mil a
30 mil euros a semeadura de cultivos OGM. A ministra italiana da
Agricultura, Nunzia de Girolamo, assinalou em um comunicado: “Nossa
agricultura se baseia na biodiversidade e na qualidade, e devemos
continuar a elas sem aventuras que, sob o ponto de vista econômico, não
nos tornariam mais competitivos”.
Vandana Shiva(*)
Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti
A
Monsanto e seus amigos na indústria biotecnológica, seus lobistas e
seus representantes pagos nos meios de comunicação continuam
incentivando o controle monopólico dos alimentos no mundo mediante sua
oferta de sementes.
Esse império é construído
sobre argumentos falsos: que a Monsanto é a criadora/inventora da vida, e
portanto pode ser a proprietária das sementes através de patentes, e
que a vida pode ser produzida com engenharia e máquinas, como um iPhone.
Pela
ecologia e pela nova biologia sabemos que a vida é uma complexidade
organizada por si mesma: ela se constrói sozinha, e não é possível
manufatura-la. Isso se aplica também à produção de alimentos mediante a
nova ciência da agroecologia, a qual nos brinda com um conhecimento
científico mais profundo sobre os processos ecológicos a nível do solo,
as sementes vivas. As promessas da indústria biotecnológica – maiores
rendimentos, redução do uso de agrotóxicos e controle de ervas daninhas e
pragas – não se cumpriram. No mês passado, um fundo de investimentos
processou a DuPont em um bilhão de dólares por promover cultivos
resistentes a herbicidas sabendo que não poderiam controlar as ervas
daninhas, que por sua vez contribuíram para o surgimento de
“super-ervas-daninhas”.
Ao criar a propriedade das
sementes mediante patentes e direitos de propriedade intelectual, e
impô-la ao planeta através da Organização Mundial do Comércio, a
indústria biotecnológica estabeleceu um império monopólico sobre as
sementes e os alimentos. Além de reclamar a propriedade das sementes que
vende e cobrar royalities, em matérias de controles e equilíbrios sobre
a segurança a indústria biotecnológica destrói sistematicamente leis
nacionais e internacionais relativas à biosegurança, afirmando que “seus
produtos são como a natureza os criou”. É esquizofrenia ontológica!
A
biosegurança é a avaliação multidisciplinar do impacto da engenharia
genética sobre o ambiente, a saúde pública e as condições
sócioeconômicas. No âmbito internacional, a biosegurança é direito
internacional consagrado pelo Protocolo de Cartagena sobre Biosegurança.
Eu fui designada por um grupo de especialistas para elaborar a base do
programa ambiental das Nações Unidas, com a finalidade de por em vigor o
artigo 19.3 da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica
(CDB).
A Monsanto e seus amigos têm tentado
negar aos cidadãos o direito à alimentação saudável opondo-se ao artigo
19.3 desde a Cume da Terra no Riod e Janeiro, em 1992. Nestes dias, eles
tentam desmantelar as leis nacionais sobre biosegurança na Índia,
Paquistão, União Européia e em toda a África e América Latina. Nos
Estados Unidos, distorcem a Constituição ao entrar com demandas contra
governos estaduais que tem promulgado leis para etiquetar os alimentos
geneticamente modificados, alegando que o direito dos cidadãos de saber o
que consomem está abaixo do direito da indústria biotecnológica de
impor alimentos perigosos para os consumidores desinformados, o que
manejam como liberdade de expressão da empresa, como se esta fosse
pessoa física. Deslocam sua maquinaria de propaganda para atacar com
argumentos não científicos os pesquisadores que trabalham com
biosegurança, como Árpad Pusztai, Ignácio Chapela, Irina Ermakova, Eric
Séralini e eu.
Muitos jornalistas sem
conhecimentos científicos se alinharam como soldados nesse assalto
propagandístico. Homens brancos privilegiados, como Mark Lynas, Jon
Entine e Michael Specter, sem experiência prática em agricultura,
munidos somente com graus de bacharelado e vinculados a meios
controlados pelos consórcios são usados para solapar as verdadeiras
descobertas científicas sobre os impactos dos OGM em nossa saúde e
ecossistemas.
A indústria biotecnológica usa
seus títeres propagandistas para sustentar a falácia de que os OGM são a
solução para a fome no mundo. Essa negativa a um autêntico debate
científico sobre como os sistemas vivos evoluem é respaldada por um
assalto intensivo e maciço de propaganda, que incluem a utilização de
agências de inteligência como a Blackwater.
Em 2010, a Forbes citou-me como uma das sete mulheres mais poderosas do planeta, “por colocar as mulheres à frente e no centro da solução do assunto da segurança alimentar no mundo em desenvolvimento”.
Em 2014, o jornalista Jon Entine escreveu um artigo de opinião, no qual
sustentava que eu não tinha estudado física. Além de ter feito um
pós-graduação em física e realizado meu doutorado sobre os fundamentos
da teoria quântica, passei 40 anos estudando ecologia em granjas e
florestas da Índia, onde a natureza e os sábios camponeses foram meus
mestres. Essa é a base da minha experiência e agroecologia e segurança
alimentar.
A boa ciência e as tecnologias
aprovadas não necessitam propaganda, agências de inteligência e governos
corruptos para demonstrar fatos. Se os ataques infundados de um não
cientista a uma cientista de um país em desenvolvimento são um de seus
instrumentos de dar forma ao futuro, erraram completamente. Eles não se
dão conta da crescente indignação cidadã contra o monopólio da Monsanto.
Em
nações soberanas, onde o poder da Monsanto e de seus amigos é limitado,
o povo e os governos rechaçam seu monopólio e sua tecnologia
fracassada, mas a máquina de propaganda suprime essa notícia.
A
Rússia proibiu completamente os OGM; o primeiro ministro Dmitry
Medvedev advertiu: “se os norte-americanos gostam dos produtos OGM, que
os comam. Nós não precisamos deles; temos espaço e oportunidades
suficientes para produzir comida orgânica”. A China proibiu os OGM em
produtos alimentícios militares. A Itália acaba de promulgar uma lei, a
Campo Livre, que castiga com prisão de um a três anos e multa de 10 mil a
30 mil euros a semeadura de cultivos OGM. A ministra italiana da
Agricultura, Nunzia de Girolamo, assinalou em um comunicado: “Nossa
agricultura se baseia na biodiversidade e na qualidade, e devemos
continuar a elas sem aventuras que, sob o ponto de vista econômico, não
nos tornariam mais competitivos”.
As peças de propaganda na Forbes e no New Yorker
não podem deter o despertar de milhões de agricultores e consumidores
sobre os verdadeiros perigos dos organismos geneticamente modificados em
nossa comida, e as desvantagens e defeitos do sistema de alimentos
industriais que destrói o planeta e nossa saúde.
(*) Diretora executiva do Fundo Navdanya
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