"O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à
Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar
posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de
governar."
Carlos Lacerda, em 1º. De junho de 1950, no jornal Tribuna da Imprensa.
Carlos Lacerda, em 1º. De junho de 1950, no jornal Tribuna da Imprensa.
Troque-se o "senhor Getúlio Vargas, senador" por Dilma, Lula, ou de
forma mais abrangente, o PT. Teremos um retrato fidedigno do que rola
nas redes sociais.
Algum tempo atrás, alguém sonhou que as facilidades que a informática
traziam uma espécie de democracia direta, na qual cada um plugado em
suas máquinas decidiria pelas questões públicas. Não sei se por
inocência ou má-fé, o fato é que essa teoria/profecia é uma das maiores
bobagens já pensadas.
Que tipo de cidadão exerceria a plenitude de seus direitos políticos
atrás de um teclado, no anonimato, replicando memes infames, para os
quais não reservaria qualquer preocupação em checar a veracidade,
instilando o ódio, açulando os sentimentos mais baixos de inveja,
cobiça, mesquinhez que, sob a carapuça da nova ordem feicibuquiana ganha
o garboso nome de individualidade?
A "ciberdemocracia" fracassou miseravelmente porque desconsidera o
elemento principal: o cidadão. Aos acéfalos da internet faltam
requisitos básicos de cidadania; no mínimo, o que Pepe Mujica chama de
honradez intelectual.
Dizem que a cabeça pensante por trás desse movimento que conseguiu fazer
gente que compartilhava piadas, mensagens de auto-ajuda, fotos de
festas ou pratos de comida acreditar que está na moda esculhambar o
governo (ainda que isso seja reflexo do complexo de vira-latas) é o ex-astrólogo Olavo de Carvalho, que conseguiu abarcar sob sua túnica os expoentes do PIG, ilustrados ao lado.
Remontemos alguns anos, até pela insignificância desse personagem. O
mentor intelectual do golpe digital é o Corvo, Carlos Lacerda, que das
catacumbas onde se decompõe continua grasnando alto. Lacerda falava a
plenos pulmões o que a UDN, sua facção política tinha vergonha de
admitir: que era contra o povo, a favor da elite, capacho dos interesses
estrangeiros e, sobretudo, que como não tinha voto, daria o golpe,
custasse o que custasse.
O PIG faz questão de apagar um pedaço de sua biografia, como se fosse a Madalena arrependida, mas o fato é que ele deu condições ideológicas e apoiou entusiasticamente o golpe militar de 1964, que jogou o Brasil numa ditadura, única forma dos que não têm voto chegarem ao poder.
Os corvetes crocitam mas não passam muito disso. Tenho um vizinho que
vive reproduzindo essas imagens anti-petistas na sua página. Meia-idade,
boa praça, servidor público, evangélico e cortês. Já falei para ele
pessoalmente quais eram as minhas opiniões políticas, que foram
recebidas entre murmúrios e silêncio, mesmo que com um quê de
incredulidade. Não me respondeu nada, mas no face, a no face ele se
transforma no furioso Seu Vesguinho, que distribui marteladas a torto e
direitos contras os "petralhas corruptos", como este seu pacífico
propínquo.
Agora, o lacerdismo ataca como forma de propaganda viral, através do
anúncio em páginas que aceitam comerciais. Eu não soube capturar as
imagens que vi ontem, mas hoje o Stanley Burburinho as publicou: uma
consultoria do mercado de ações dá conselhos econômicos para como se
prevenir o patrimônio em caso de reeleição da Dilma.
Por fim, a justiça, com letra minúscula, que substituiu o exército nessa
versão de golpe hi-tech. Eu já não acredito que nem mesmo a
martirização do José Genoíno, morrendo por falta dos cuidados
necessários à sua saúde, despertará a empatia de quem já desejou o
câncer do Lula, da Dilma, do Chavéz...
Noves fora o absurdo tratamento destinado aos réus petistas, que fica
ainda mais indecoroso quando se vê a iminente prescrição dos mesmos
delitos cometidos pelo PSDB em Minas, no TSE eles se superam.
Após não enxergar problema nenhum nos comerciais veiculados por Eduardo
Campos, num mal ensaiado jogral com Marina Silva, como se fossem um
casal em crise discutindo a relação, e mesmo o do PSDB, que curiosamente
usava a metáfora de um copo cheio d'água perto de transbordar (os
psicólogos explicam?), nosso patriótico judiciário, atendendo a petição
dos tucanos, resolver proibir a inserção do PT, num ato de censura que
orgulharia Armando Falcão, o censor-mor da ditadura.
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