23/9/2014, [*] Nil NIKANDROV, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
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No velório de Eduardo Campos Marina não chorou... |
Washington
lançou campanha de propaganda em grande escala em apoio a Marina Silva,
candidata às eleições presidenciais no Brasil, pelo Partido Socialista
Brasileiro. Continuam a repetir que a vitória dela é garantida no
segundo turno. As pesquisas não oferecem resultados confiáveis e, até
agora, só fala do “primeiro turno” das eleições, dia 5 de outubro de
2014.
Especialistas
nos EUA creem que Marina Silva receberá os votos dos que apoiam Aécio
Neves da Cunha, do PSDB, até agora com 14-16% do eleitorado. Se
acontecer, a candidata apoiada pelos EUA receberia cerca de 60% dos
votos, acabando com as chances de reeleição da atual presidenta Dilma
Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, no “segundo turno” das eleições,
marcadas para 16/10/2014. Analistas independentes absolutamente não
levam a sério essas previsões e dizem que esse cenário não passa de
ilusão. E há os que começam a alertar contra fraude eleitoral.
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do mesmo Partido dos
Trabalhadores de Dilma Rousseff, não é candidato e trabalha pela
re-eleição da atual presidenta. Para ele, Marina Silva absolutamente não
tem chances de eleger-se. Para o presidente Lula, a grande ameaça não é
Marina Silva, mas alguns veículos de imprensa impressa e de televisão.
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Marina Silva, Tio Sam e o PIG |
O
apoio do ex-presidente à atual presidenta e candidata à re-eleição,
Dilma Rousseff, é importante. Resultado desse apoio, Marina Silva já
está perdendo votos.
Em
recente entrevista a um dos grandes jornais do sul do Brasil, Marina
Silva explodiu em lágrimas, aos gemidos de que não podia controlar o que
o ex-presidente dizia dela, mas que faria o possível para não “se
vingar’ dele... O ex-presidente respondeu imediatamente, que aquelas
lágrimas nada tinham a ver com o que ele dissera sobre mentiras de
Marina. Que, lágrimas daquele tipo, só se a causa fosse completamente
diversa.
De
fato, Marina Silva começa a temer os números que as pesquisas eleitorais
lhe trazem. A hoje candidata foi membro do Partido dos Trabalhadores de
Lula por mais de 25 anos; fez toda a sua vida política ao lado de Lula.
Foi senadora, antes de ter sido Ministra do Meio Ambiente do governo
Lula, em 2003.
Mas
durante todos esses anos, Marina Silva sempre se manteve muito próxima
dos EUA. Sempre esteve sob as lentes de inúmeros fundos especiais, dos
mais variados tipos, e organizações internacionais que vasculham o mundo
à procura de gente com o “perfil” adequado para ser usado como
instrumento dos interesses de Washington.
Basta
examinar as medalhas e prêmios que choveram sobre Marina Silva –
prêmios que ninguém recebe se não for “amigo dos EUA” – para confirmar
que, sim, pelo menos desde 1980, Marina Silva já estava no campo de
considerações dos EUA. Essa “seleção’ é prática muito frequente: os EUA
mantêm pessoal especializado em analisar traços de personalidade de
possíveis “candidatos”, dos quais o que mais chamou a atenção, em Marina
Silva, foi a inclinação para complementar os próprios atributos
físicos, com “realizações’ políticas que chamassem a atenção (em
entrevista, Marina Silva disse que teria trocado a Igreja Católica na
qual fora criada, por um culto neopentecostal, porque aí “teria melhores
chances de me destacar”).
O
Brasil vai-se convertendo em estado soberano, forte e autoafirmativo,
com grande influência no Hemisfério Ocidental, em posição de desafiar a
influência dos EUA. Os debates em Washington fazem-se por trás dos
panos, mas uma coisa é evidente: os EUA querem muito trocar a presidenta
Dilma Rousseff por alguém mais servil. Marina Silva parece servir esse
propósito.
Os serviços especiais dos EUA parecem ter pavimentado o caminho para ela, eliminando outro candidato, Eduardo Campos, do Partido Socialista. O avião Cessna 560ХL em que ele viajava sofreu uma pane e caiu, ou explodiu, ninguém sabe. French Slate.fr listou esse caso de queda de avião como um dos cinco eventos mais importantes do verão de 2014, que não estiveram nas manchetes, sobre os quais pouco se fala, mas que pode(ria) mudar o rumo da política mundial.
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Dilma Rousseff |
Antes
da tragédia, Dilma Rousseff era considerada já vitoriosa. Com Marina
Silva, as eleições sofreram, no mínimo, um “tumulto” não previsto.
Não
há dúvida alguma de que, com Marina Silva na presidência, o Brasil passa
a alinhar-se mais decisivamente com os EUA. O escândalo da espionagem e
das escutas clandestinas, e declarações da presidenta Rousseff, para
quem as escutas ilegais implantadas pelos EUA no Brasil seriam
“inaceitáveis” virariam coisa do passado, bem como a UNASUL (União das
Nações Sul-americanas) – união intergovernamental que integra as duas
uniões aduaneiras que há: MERCOSUL e Comunidade Andina de Nações, como
parte da continuada integração sul-americana, e o MERCOSUL (Mercado
Comum do Sul, bloco sub-regional que inclui Argentina, Brasil, Paraguai,
Uruguai e Venezuela com Chile, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru como
países associados).
O
objetivo de todas essas estruturas é promover o livre comércio e o fluxo
continuado de bens, pessoas e moeda. Tudo isso deixará de estar no
ponto focal da política externa do Brasil.
A
reorganização da Organização dos Estados Americanos, OEA, é a questão
mais importante para os EUA; e voltará ao topo da lista das prioridades
de política externa.
O
MERCOSUL talvez até continue a existir, mas não como concorrente contra a
ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), que Washington tenta
impulsionar desde 2005, quando a ideia foi recusada por Argentina,
Brasil, Venezuela e alguns outros países.
Marina Silva não é grande entusiasta do futuro dos BRICS.
Para ela, a participação nesse grupo não traz dividendos. Já disse que
não tem qualquer intenção de estreitar relações com Rússia e China, e a
aliança com Venezuela e Cuba deixará de ser efetiva. Tudo que os
governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff já conseguiram
até agora, ir-se-á pelo ralo, só para satisfazer o poder da Casa Branca e
do Pentágono.
BRICS |
A
batalha pré-eleitoral está-se convertendo em batalha feroz. Marina Silva
não tem tempo a perder, e a carga está-se tornando pesada. Conforme
mudem os números das pesquisas, a candidata Marina muda suas declarações
e “plano” de governo. Já teve de explicar o que dissera antes, sobre
reduzir a produção de petróleo em áreas chamadas “pré-sal”, abaixo do
leito do oceano. Manifestou-se contra casamentos homoafetivos no
passado; de repente, virou apoiadora.
Marina
Silva é, hoje, evangélica, membro da conservadora Assembleia de Deus.
Um dia depois de apresentar seu plano de governo, desdisse o que dissera
sobre ser favorável ao chamado “casamento gay”.
No capítulo “Cidadania e Identidades” de seu programa, incluiu “apoio a
propostas que defendam (...) o casamento civil”. Na sequência, a
campanha de Marina Silva distribuiu uma “correção”. A nova versão
defende “os direitos de uma união civil entre pessoas do mesmo sexo”,
apagando a palavra “casamento” que incluiria direitos mais amplos para
os casados.
No
segundo debate televisionado entre os principais candidatos, antes do 1º
turno das eleições, dia 5/9/2014, Rousseff perguntou a Marina Silva
como ela financiaria os cerca de R$ 60 bilhões necessários para cumprir
suas promessas. “Onde você propõe buscar esse dinheiro?” – perguntou
Rousseff. A candidata respondeu que o dinheiro será obtido porque “nosso
país voltará à eficiência no gasto público – poremos fim ao desperdício
de recursos públicos”. A presidenta Rousseff acertou quando disse que
tinha sérias dúvidas de que uma pessoa com esse tipo de ideia na cabeça e
convicções tão instáveis pudesse governar algum país.
Mais
brasileiros já começam a ver que Marina Silva mudará todas as políticas
dos governos que a antecederam e levará o país ao desastre. E “desastre”
é, exatamente, o que mais desejam os “artíficies de mudança” que
trabalham em Washington.
Marina
Silva é pessoa com problemas psicológicos, desequilibrada – e tudo isso
pode ser bastante útil para influenciar o processo de decisão para bloquear o desenvolvimento progressista do país
e quebrar o equilíbrio social, depois que as forças políticas no país
começam a aprender a interagir dentro do que a lei autoriza e determina.
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Coronel Prugh traduzindo para o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas dos EUA, Martin Dempsey |
O que
a missão Washington mais deseja é ver criados os pré-requisitos para
que se encene no Brasil uma “revolução colorida”. Quer usar a “quinta
coluna” e os veículos de imprensa pró-EUA para provocar “manifestações
espontâneas” de cidadãos.
Os EUA já enviaram pessoal de alta capacitação e experiência para sua embaixada em Brasília, capital do Brasil. A estação da CIA que ali opera é comandada e operada por gente muito, muito experiente.
O ataché de
Defesa e principal oficial da Defesa, no Brasil, é o coronel Samuel
Prugh. É homem de experiência excepcional na coleta de inteligência
humana, com amplas relações pessoais entre os militares brasileiros.
O
presidente Lula e a presidenta Rousseff têm feito o possível para evitar
manifestações públicas de incômodo com as atividades subversivas que os
EUA conduzem no Brasil. Quando lhes pareceu necessário, os brasileiros
usam os bem protegidos canais diplomáticos, para fazer saber a
Washington que identificaram um agente que operava clandestinamente na
indústria do petróleo, num gabinete diplomático ou nas forças armadas do
país. Esses incidentes jamais chegaram ao conhecimento público.
Depois
do conhecido escândalo associado aos relatórios de que a Agência de
Segurança Nacional dos EUA gravara comunicações pessoais da presidenta e
espionara a Petrobras, empresa estatal brasileira de petróleo, o
governo brasileiro endureceu e exigiu que os EUA pedissem desculpas
públicas. Os EUA recusaram-se a desculpar-se e, mesmo, ampliaram as
operações de espionagem no Brasil (enviaram mais gente para os
consulados).
O
consulado dos EUA no Rio de Janeiro destaca-se: ali trabalham mais de
500 norte-americanos. John Creamer, cônsul-geral, diz que 300 daqueles
funcionários trabalham no processamento de vistos de viagem, da manhã à
noite. Segundo Creamer, o processamento, antes, demorava seis meses;
hoje, bastam duas semanas.
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John Creamer, Consul Geral dos EUA no Rio de Janeiro no "American
Day" no Festival do Rio 2012
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Se os
funcionários dos consulados estão realmente ocupados só com emitir
vistos de viagem, ou se só vivem a arquitetar alguma versão de
“primavera árabe” ou de “Maidan ucraniana”, no Brasil, sob o alto
patrocínio dos serviços especiais dos EUA, só o tempo dirá.
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[*] Nil Nikandrov é um jornalista sediado em Moscou cobrindo a política da América Latina e suas relações com
os EUA; crítico ferrenho das administrações neoliberais sobre as
economias nacionais latino-americanas. Especializou-se em desmascarar os
esforços feitos pela CIA e outros serviços de inteligência ocidentais
para minar governos progressistas na América Latina. Autor de vários
livros - tanto de ficção e estudos documentais - dedicados a temas
latino-americanos, incluindo a primeira biografia em língua russa de
Hugo Chávez.
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