O julgamento político como legítima defesa
por Mauro Santayana
Para que a República se salve e,
com ela, o povo brasileiro, é necessário que a CPI vá às últimas
conseqüências. A nação está clamando por uma devassa, não para que se
erga, em alguma praça, a máquina do doutor Guillotin. Ao contrário do
que muitos pensam, não é preciso que o sangue lave a honra das nações.
Mas os ladrões do Erário, que roubam dos que trabalham e produzem,
devem ser conhecidos e levados aos tribunais. Não se trata de conflito
ideológico, mas de ato de legítima defesa nacional. Os que roubam, ao
subtrair os bens comuns, contribuem para que o estado republicano
desmorone e, com ele, a nação. Desmorone nos hospitais precários, que
não salvam vidas e, frequentemente, apressam a morte; desmorone nas
escolas públicas em que as crianças não aprendem, mas se expõem aos
perigos, que vão das humilhações à tortura, cometidas pelos fortes
contra os fracos, quando não aos massacres; desmorone nos serviços de
segurança, dos quais surgem esquadrões da morte e milicianos
quadrilheiros.
Nesta visão, correta e ampla,
dos efeitos da corrupção, os corruptos não são apenas larápios: são, da
mesma forma, bandidos e assassinos. Uma coisa é o financiamento de
campanhas políticas pelos empresários, outra o enriquecimento de
agentes públicos, mediante as promíscuas relações, nas quais se
superfaturam obras públicas e serviços, para a divisão do butim entre
os parceiros. O que todos os cidadãos conscientes exigem é o
financiamento público das campanhas, a fim de evitar essa poluição do
sistema democrático.
O rigor nas investigações,
atinja a quem atingir, é ato de legítima defesa do sistema republicano
e, particularmente, do poder legislativo. Há, crescente, na opinião
pública – a partir das informações que recebe – o equivocado juízo de
que os senadores e deputados são inúteis. Se essa CPI se frustrar, os
cidadãos podem supor que os parlamentares não são apenas inúteis, mas
também complacentes com os seus pares aquadrilhados, como os
representantes de Goiás fisgados pela língua, entre eles esse
comediante menor, o senador Demóstenes Torres, que fez, durante tanto
tempo, o papel de catão.
Devemos entender que a maioria
parlamentar não é feita de bandoleiros, embora possa ter sua parcela de
incompetentes. Espera-se que, na CPI, os homens de bem sejam tão
ousados como costumam ser os canalhas.
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