sábado, 25 de fevereiro de 2012
Tratamento preferencial
Se alguém tinha alguma dúvida sobre como a polícia e a justiça tratam pobres e ricos no Brasil, o caso da garotinha de 3 anos morta depois de ser atingida por um jet ski na praia de Guaratuba, no sábado, esclarece muita coisa.
O suspeito de matar a menina, um adolescente de 13 anos, é de família de posses, e ele estava hospedado na mansão do tio, empresário e político de Suzano. Embora todos saibam o nome e endereço dos envolvidos, seis dias depois do atropelamento, o moleque ainda não foi ouvido pela polícia, assim como seus pais, seus tios, o dono do jet ski, todos enfim, que podem ajudar a esclarecer o que ocorreu.
"Não há nenhuma intenção da defesa de criar qualquer embaraço à apuração da verdade. Vamos trazer o garoto para ser ouvido, mas exijo o respeito que a lei dá ao menor. Esse assédio em submeter o garoto de 13 a uma situação constrangedora é absolutamente inviável", disse o advogado do adolescente, Maurimar Bosco Chiasso.
Ele tem razão em parte. Claro que a imprensa vai cair em cima do menino, claro que é preciso respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente, claro que ninguém quer que ele seja apontado como culpado a priori.
Mas por que esse privilégio de prestar depoimento quando quiser? Por que ele e todos os outros envolvidos não são simplesmente intimados a depor quando as autoridades acharem mais conveniente?
Por essas e por outras é que, a cada dia, polícia e justiça mais se desmoralizam no país.
É sempre assim: se o suspeito for rico, ou poderoso, ou influente, ele terá todas as facilidades do mundo, o tempo vai se arrastar, ele será tratado com uma deferência que deveria ser estendida a todos, chamado de doutor e coisa e tal. Mas se for um pé de chinelo, coitado, cairá sobre ele todo o peso da justiça...
Esse caso da menininha é revoltante também porque revela ainda como o ser humano pode ser a mais desprezível das criaturas: depois do acidente, não só o garoto fugiu, mas, segundo dizem, toda a família que o hospedava foi embora da mansão num helicóptero! Ninguém ficou para prestar ajuda à garotinha ou aos seus familiares! Não só não fizeram nada para ajudar aqueles pobres coitados que viram o fim de semana se transformar na maior tragédia de suas vidas, como fugiram do local, numa tentativa canhestra de resolver o problema, fingir que nada havia acontecido.
Agora, resta apenas esperar o adolescente e seus pais se dignarem a depor no inquérito.
Fico só imaginando as coisas que eles vão contar ao delegado - certamente um sujeito muito educado, todo ouvidos, inteiramente dedicado ao seu serviço.
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