O PROBLEMA DA ECONOMIA É O TRABALHADOR?
Por Fernando Brito
“Na linguagem “técnica” da economia, uma matéria publicada [há dias] no "Estadão" mostra como está impregnada na mente das pessoas a idéia que norteou todo o crescimento econômico excludente (e, por isso, insustentável) desde que o regime de 64 aboliu pela força o jogo político de pressões entre capital e trabalho:
“O País repetiu em agosto exatamente a mesma taxa de desemprego registrada no mês anterior, 6%, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a renda média do trabalhador atingiu nível recorde, R$ 1.629,40, um aumento de 0,5% na comparação com o mês anterior. A massa de salários somou R$ 37,2 bilhões. O resultado contribuiu para aumentar a preocupação com a inflação, já pressionada pela rápida valorização do dólar nos últimos dias. Embora venha caindo a passos menores que o esperado, o emprego ainda forte e o aumento do poder de compra dos trabalhadores preocupam analistas. A taxa de desemprego no País alcançou uma média de 6,3% de janeiro a agosto, bem abaixo da taxa de 7,2% registrada no mesmo período de 2010” (…).
Não se está, evidentemente, acusando de ditatoriais nem quem escreveu e nem quem se manifesta na reportagem. Mas repare como o raciocínio se desenvolve pelos mesmos padrões: a alta no emprego e nos salários é um elemento negativo para a economia, em lugar de representar um fator positivo para sua expansão.
“A baixa ociosidade de mão de obra, os ganhos salariais acima da inflação, as negociações de diversas categorias no segundo semestre de 2011 e o reajuste do salário mínimo em 2012 são elementos de forte pressão sobre a demanda doméstica e, consequentemente, sobre a trajetória dos preços.”
Então, ficamos assim: se o emprego sobe, o consumo popular cresce, teremos inflação. E como não queremos inflação, lamentamos a “baixa ociosidade” –nome bonito para pleno emprego, não é?– e os aumentos salariais, sobretudo do mínimo.
Vamos esquecer o quanto isso representa em circulação de riqueza, em realização humana, em expansão da indústria comércio e serviços. Vamos desconsiderar seu efeito sobre a arrecadação pública e seus reflexos na melhoria da infraestrutura do país e nos serviços básicos para a população.
Ainda assim, façamos uma pergunta: se o dinheiro que não circula é acumulado, que destino tem essa acumulação?
Ela é aplicada no desenvolvimento do parque industrial, se não há aumento de demanda e, portanto, não é preciso expandi-lo? Ela se volta para uma produção exportadora, que renda divisas ao país e drene para cá riqueza do exterior? Brincadeira, né? Ou ela corre para as aplicações financeiras, que por sua vez tem seus custos suportados pelo Estado e o obrigam a gastar, para remunerá-la, a maior parcela, disparado, de todos os itens do orçamento público? E o resultado disso o que é, senão o problema fiscal que, todos reconhecem, é o cerne da questão inflacionária?
A matéria segue adiante, com um tom de “preocupação” sobre a redução do número de pessoas que se dedicam ao trabalho doméstico, pela melhoria do emprego e da educação, o aumento do número de trabalhadores com carteira assinada, em razão da formalização crescente do mercado de trabalho, e por aí vai.
No fundo, a questão de como encarar o processo econômico. Se pretendermos considerar o crescimento no Brasil como fruto da acumulação de capital –aquela velha teoria do bolo que cresce, para que um dia seja dividido– jamais teremos desenvolvimento, porque a acumulação, no Brasil, em geral, não se transforma em fonte de riqueza, mas de espoliação econômica.
Mas, se em lugar de um lago, considerarmos a riqueza um rio, que produz energia com seu próprio movimento –sem, é claro, descuidar dos canais que o drenam- estaremos diante de um método de pensamento que é capaz de explicar como, pela primeira vez em muitas décadas, o Brasil saiu maior de uma crise que apequenou o mundo desenvolvido.”
FONTE: escrito por Fernando Brito no blog “Projeto Nacional”
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