terça-feira, 27 de setembro de 2011

PARA A DIREITA, O TRABALHADOR PREJUDICA A ECONOMIA...


O PROBLEMA DA ECONOMIA É O TRABALHADOR?


Por Fernando Brito

“Na linguagem “técnica” da economia, uma matéria publicada [há dias] no "Estadão" mostra como está impregnada na mente das pessoas a idéia que norteou todo o crescimento econômico excludente (e, por isso, insustentável) desde que o regime de 64 aboliu pela força o jogo político de pressões entre capital e trabalho:

O País repetiu em agosto exatamente a mesma taxa de desemprego registrada no mês anterior, 6%, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a renda média do trabalhador atingiu nível recorde, R$ 1.629,40, um aumento de 0,5% na comparação com o mês anterior. A massa de salários somou R$ 37,2 bilhões. O resultado contribuiu para aumentar a preocupação com a inflação, já pressionada pela rápida valorização do dólar nos últimos dias. Embora venha caindo a passos menores que o esperado, o emprego ainda forte e o aumento do poder de compra dos trabalhadores preocupam analistas. A taxa de desemprego no País alcançou uma média de 6,3% de janeiro a agosto, bem abaixo da taxa de 7,2% registrada no mesmo período de 2010” (…).

Não se está, evidentemente, acusando de ditatoriais nem quem escreveu e nem quem se manifesta na reportagem. Mas repare como o raciocínio se desenvolve pelos mesmos padrões: a alta no emprego e nos salários é um elemento negativo para a economia, em lugar de representar um fator positivo para sua expansão.

A baixa ociosidade de mão de obra, os ganhos salariais acima da inflação, as negociações de diversas categorias no segundo semestre de 2011 e o reajuste do salário mínimo em 2012 são elementos de forte pressão sobre a demanda doméstica e, consequentemente, sobre a trajetória dos preços.”

Então, ficamos assim: se o emprego sobe, o consumo popular cresce, teremos inflação. E como não queremos inflação, lamentamos a “baixa ociosidade” –nome bonito para pleno emprego, não é?– e os aumentos salariais, sobretudo do mínimo.

Vamos esquecer o quanto isso representa em circulação de riqueza, em realização humana, em expansão da indústria comércio e serviços. Vamos desconsiderar seu efeito sobre a arrecadação pública e seus reflexos na melhoria da infraestrutura do país e nos serviços básicos para a população.

Ainda assim, façamos uma pergunta: se o dinheiro que não circula é acumulado, que destino tem essa acumulação?

Ela é aplicada no desenvolvimento do parque industrial, se não há aumento de demanda e, portanto, não é preciso expandi-lo? Ela se volta para uma produção exportadora, que renda divisas ao país e drene para cá riqueza do exterior? Brincadeira, né? Ou ela corre para as aplicações financeiras, que por sua vez tem seus custos suportados pelo Estado e o obrigam a gastar, para remunerá-la, a maior parcela, disparado, de todos os itens do orçamento público? E o resultado disso o que é, senão o problema fiscal que, todos reconhecem, é o cerne da questão inflacionária?

A matéria segue adiante, com um tom de “preocupação” sobre a redução do número de pessoas que se dedicam ao trabalho doméstico, pela melhoria do emprego e da educação, o aumento do número de trabalhadores com carteira assinada, em razão da formalização crescente do mercado de trabalho, e por aí vai.

No fundo, a questão de como encarar o processo econômico. Se pretendermos considerar o crescimento no Brasil como fruto da acumulação de capital –aquela velha teoria do bolo que cresce, para que um dia seja dividido– jamais teremos desenvolvimento, porque a acumulação, no Brasil, em geral, não se transforma em fonte de riqueza, mas de espoliação econômica.

Mas, se em lugar de um lago, considerarmos a riqueza um rio, que produz energia com seu próprio movimento –sem, é claro, descuidar dos canais que o drenam- estaremos diante de um método de pensamento que é capaz de explicar como, pela primeira vez em muitas décadas, o Brasil saiu maior de uma crise que apequenou o mundo desenvolvido.”

FONTE: escrito por Fernando Brito no blog “Projeto Nacional”

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