A presidenta Dilma Roussef disse hoje o óbvio: o comportamento da crise mundial vai determinar a trajetória dos juros brasileiros.
Por que? Porque a economia brasileira, queiramos ou não, tem inúmeros vasos comunicantes com o que se passa no mundo: em importação, exportação, câmbio e fluxo de capitais, tanto os de investimento quanto os financeiros.
Era, aliás, a ampliação destas ligações a grande bandeira dos neoliberais.
Mas se isso é o óbvio diante de um mundo onde os juros não apenas estão baixos como tendem – afirmações formais dos governos dos mais ricos – a continuar baixos e se a falta de perspectivas de investimentos rentáveis por lá induz e motiva aplicações por aqui, porque manter juros que, mesmo com a redução de ontem, continuam, com folga, a serem os maiores do mundo?
Tecnicamente, a razão era conter um processo inflacionário que derivou do grande aquecimento econômico de 2010. Discutível, mas tinha sua lógica, ao menos a convencional. Mas o curioso é que a lógica convencional não funcionou, porque o tigre, a cada naco que lhe davam, queria mais carne.
O aumento dos juros nada fez para conter a inflação. Além de terem um efeito lento, os juros não contribuíam em nada para conter os segmentos pontuais que puxavam os índices inflacionários – alimentos e combustíveis – como, ao fazerem parte de um cenário que permitia o discurso do “olha a inflação aí, gente”, criavam as condições para aumentos de preços generalizados nos pequenos empreendimentos comerciais e de serviços, o que acabava pondo lenha na inflação.
Mas isso tinha outro efeito, mais perverso.
Hoje, em artigo publicado no Estadão – e reproduzido no blog Projeto Nacional – o professor Antonio Carlos Lacerda, da PUC-SP, vai “na mosca”.
“Contraditoriamente, apesar do relativamente bom desempenho fiscal, o País permanece no topo no ranking dos países que mantêm as maiores taxas de juros reais (veja o gráfico publicado pela revista Exame). Como efeito dessa distorção, o custo de financiamento da dívida pública atingiu, nos últimos 12 meses acumulados, R$ 224,8 bilhões, ou 5,7% do PIB! É uma verdadeira “bolsa-rentista”, equivalente a 17 vezes o custo anual do programa Bolsa-Família, que com R$ 13 bilhões atendeu cerca de 60 milhões de pessoas no ano que passou.”
Pois é, e esse “bocão” tem que ser defendido por quem dele come.
Eles sabem que a retração mundial vai fazer com que percam força, aqui e lá fora, os processos inflacionários. Aliás, alta ou queda de inflação, com a globalização, deixaram de ser processos meramente nacionais e passaram a ter uma tendência mundial, sem que isso invalide a importância de situações locais.
Vai, mas ainda não foi. E, enquanto isso, me se mantenha o mais alto possível o “bocão”, que lhe dá tantas e tão sonantes alegrias.
post do tijolaço
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