quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A tragédia de termos tantos jovens conservadores


O que Dizer aos Jovens Conservadores?  Prof. André Azevedo da Fonseca 
Uma das distorções mais lamentáveis que a gente tem visto nas redes sociais é essa quantidade alarmante de jovens conservadores, reacionários, homofóbicos e misóginos. O que dizer a eles?

Não tem nenhum sentido jovem conservador. É compreensível ver velhos conservadores. É um declínio natural. Quando gente envelhece, fica menos idealista, mais cansado, com preguiça de experimentar, de mudar, de curtir ideias novas, fica menos paciente, mais cínico, perde muito da capacidade e da disposição em aprender coisas novas, em aceitar as diferenças, em compreender coisas diferentes do nosso próprio universo, aí tem que trabalhar para pagar as contas, para pagar os remédios, tem que se preocupar com os filhos e tende a ficar mais egoísta. 


A gente se acostuma a 40, 50, 60 anos com uma coisa e aí é muito mais difícil mudar. São raros os velhos de espírito juvenil e que ainda se entusiasmam com o mundo e querem descobrir coisas novas. E é normal. A gente envelhece e fica doente, cheio de dor, tudo que a gente quer é sossego, é manter o mundo do jeito que a gente está acostumado, a gente prefere rever as coisas que gente já gosta. Muitos tentam reviver o passado, ficam sonhando em recuperar o que perdeu.

Mas, velhos conservadores não são de todo mal. Sempre foi papel dos velhos manter a tradição, servir de memória para a sua comunidade e conservar alguns princípios básicos que sustentaram a sua realidade durante tantos anos. Agora, há muitos problemas aí, porque se há realmente tradições que precisam mesmo ser conservadas, se há um patrimônio cultural riquíssimo que precisa ser conservado para que gente não percas as referências que nos conduziram a que somos hoje, há também muitas tradições violentas que devem na verdade ser desconstruídas e transformadas. 

Mas a juventude, ao contrário, é o período perfeito para questionar, para experimentar, para testar, desafiar as regras do mundo, se contrapor ao conservadorismo e avançar. Juventude não é um tempo de respostas, mas de perguntas. Não é um tempo de certezas, mas de curiosidade. Não é para desperdiçar energia defendendo aquelas coisinhas que ele já sabe, mas para aprender mais. Não é para ficar ciscando. É para voar. A gente precisa da imaturidade, da inconsequência e da rebeldia dos jovens para contrabalançar o cansaço, a preguiça e o desencantamento dos adultos. 

Ao contrário dos velhos, os jovens têm energia, ainda estão descobrindo a vida, não tem nem o que conservar. Jovens só têm futuro, eles têm pouquíssimo passado. Os elementos para compreender o mundo ainda estão se ligando. Não há nem referências, não há experiência o suficiente para compreender o mundo e dizer que é melhor assim. E ao contrário do passado, patrimônio dos velhos, que é certo, já aconteceu, já se solidificou, ninguém tira o seu passado; o futuro, o patrimônio dos jovens, é incerto, é instável, não é uma garantia, ele é indisciplinado, imprevisível por natureza, como devem ser os jovens. 

Jovens tem todo o potencial físico, psicológico, biológico para serem bem mais abertos em relação às ideias. Eles têm mais oportunidade, mais tempo e, de certa forma, há até mais tolerância social para o jovem arriscar, errar, falar bobagens, coisas que fazem parte do processo de aprendizagem, e também de experimentar novas possibilidades, de fazer combinações inesperadas, de se propor a fazer coisas que são consideradas pelos velhos como impossíveis, utópicas; de desafiar as ideias antigas para ver se elas se sustentam diante os novos questionamentos ou se elas se tornaram insustentáveis, e por isso devem ser substituídas.

E aí o jovem conservador joga toda essa potência fora para conservar ideias, tradições ou valores que nem foram eles que construíram, e se igualam aos velhos cansados. É uma tragédia. A vida, o mundo e a história são tão amplos de possibilidades, tão interessantes, tem tanta coisa para fazer, para descobrir, para inventar.

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