Circula na internet um vídeo em que Datena declara solidariedade a
Sheherazade e desafia, numa bravata assombrosa, o governo a mexer na
publicidade que coloca em seu programa na Band.
É um vídeo que mostra o absurdo que Datena é e a situação ainda mais
absurda que cerca as bilionárias verbas publicitárias do governo.
Primeiro, há na fanfarronice de Datena uma chantagem, uma intimidação. “Não mexam em mim”, ele está dizendo, na verdade.
Há também uma enorme petulância. Ele fala no direito de Sheherazade
de ter suas opiniões – como se o incitamento ao crime fosse aceitável.
Mas e o direito de anunciar onde se queira: não existe? Todo
anunciante – público ou privado – examina onde vai parar o dinheiro que
coloca em publicidade.
Se o objeto do dinheiro vira um embaraço, como Sheherazade (ou Datena
mesmo), o caminho natural para todo anunciante é rever seu
investimento.
Tiger Woods perdeu seus patrocinadores depois que eclodiu o escândalo
de seus adultérios em série. Mais recentemente, Pistorius viu baterem
em retirada seus patrocinadores, depois da morte de sua namorada.
O episódio de Sheherazade deveria propiciar uma discussão ampla. Faz sentido o governo investir tanto dinheiro em publicidade?
Em sociedades mais avançadas, os anúncios essencialmente se
restringem a serviços de utilidade pública. Uma campanha de vacinação,
por exemplo. Ou uma que estimule os cidadãos a se alimentarem melhor,
com mais frutas e verduras.
No Brasil, a publicidade oficial – federal, estadual e municipal – vai muito além.
É uma coisa perniciosa. Historicamente, o dinheiro (público) da
propaganda governamental foi usado para carrear recursos para as
empresas de mídia.
O resultado disso foi que os donos das empresas jornalísticas ficaram riquíssimos.
Era uma vergonha tão grande que, num momento em que todos os
anunciantes obtinham descontos formidáveis sobre os preços de tabela de
empresas como Globo e Abril, o governo continuava a pagar o valor
integral.
Empresas que à luz do sol viviam denunciando em seus jornais e
revistas o “mau trato” do dinheiro público enchiam descaradamente seus
cofres, na sombra, com recursos do contribuinte.
Anúncios do governo eram usados também para facilitar a vida de
empresas endividadas. No começo dos anos 1980, o falido Jornal do Brasil
vivia repleto de anúncios do Banco do Brasil. Era a forma como o jornal
“pagava” dívidas.
É evidente que a sociedade se beneficiaria amplamente se uma boa
fatia do dinheiro público posto em publicidade se destinasse a projetos
sociais.
A Band, de Datena, recebe do governo federal cerca de 100 milhões de
reais por ano. Qual o benefício para a sociedade deste dinheiro todo?
Para a família Saad, é uma beleza. São riquíssimos.
Para nosotros, a história é outra.
Que programa da Band você pode dizer que contribui para que o Brasil melhore?
Veja Datena, por exemplo.
Com seus parcos 3 pontos de Ibope, ele é a personificação do mundo
cão. Ele semeia medo pânico entre seus espectadores. A cidade, segundo
Datena, é um inferno, e os bandidos têm que ser exterminados.
É a mesma pregação de Sheherazade por outras palavras. Bandido bom é bandido morto.
No vídeo em que insulta o governo, ele diz que se tirarem publicidade
não faz diferença porque já está ferrado, ou na lona, ou coisa que o
valha.
Ora. Para explorar abjetamente uma audiência que ele mantém nas
trevas e na ignorância, Datena levanta mensalmente uma quantia calculada
em 1 milhão de reais.
Como os pastores evangélicos, fala a pobres, mas enriquece com isso.
Temos eleições em 2014, e é triste não ver nenhum candidato trazer
novas ideias em relação ao dinheiro público torrado em propaganda.
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