Leandro Fortes
Não sei se realmente influenciado pelo então ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, ou, simplesmente, porque não percebeu a dimensão exata
dessa necessidade, Lula chegou ao ponto de nomear um fanático religioso
para o STF, Carlos Alberto Direito, justo quando o Brasil e o mundo
começavam a discutir questões fundamentais de cidadania e saúde – como a
união civil de homossexuais, o uso de células-tronco e o aborto de
anencéfalos – combatidas, justamente, pela turma de cruzados católicos
da qual Direito, já falecido, fazia parte.
O resultado desse processo errático de escolhas, ora vinculado a
indicações de terceiros, ora pressionado por desastrosas opções
partidárias e corporativas, teve seu ápice na indicação de Luis Fux, por
Dilma Rousseff, cuja patética performance de candidato ao cargo na
Suprema Corte tornou-se pública, recentemente.
O resultado é, na parte risível, esse show de egolatria de ministros
amplamente compromissados com a audiência da TV Senado e os elogios de
ocasião da turba de colunistas da velha mídia reacionária do País, ainda
absorta em múltiplos orgasmos por conta das condenações do mensalão.
O chorume que desce entulho tóxico, contudo, não é nem um pouco
engraçado.
No mensalão, para agradar comentaristas e barões da mídia, a maioria dos
ministros se enveredou pela teoria do domínio do fato apenas para
condenar José Dirceu e José Genoíno, troféus sem os quais dificilmente
seria ovacionada nas filas dos aeroportos e nos restaurantes de
Higienópolis. Condenaram dois cidadãos sem provas para tal.
Ato contínuo, a maioria dos ministros passou por cima da Constituição
para agradar a mesma plateia e o STF avocou para si o direito de cassar
mandatos parlamentares. Colocou em guarda, assim, a direita hidrofóbica e
seus cães de guarda da mídia, certos de que com aliado tão poderoso o
problema da falta de votos estará, enfim, resolvido.
Como em Honduras e no Paraguai.
Agora, o ministro Fux decide, monocraticamente, interditar uma votação
soberana do Congresso Nacional. A pedido das bancadas do Rio e do
Espírito Santo, derrubou a urgência aprovada pela maioria dos
parlamentares para apreciar os vetos presidenciais sobre uma nova forma
de distribuição dos royalties em contratos em andamento.
O Brasil precisa reagir a isso. Agora.
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