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terça-feira, 18 de junho de 2013

Um mundo pior é possível

Barack Obama e o legado de um mundo pior
Jeferson Miola, Carta Maior
“O mundo que necessitamos não é menos real que o mundo que conhecemos e padecemos.” 
Eduardo Galeano
Em 2008, quando Barack Obama se elegeu pela primeira vez, um sentimento ilusório de esperança pairou como uma nuvem sobre a cena mundial. E não sem razão: depois de oito anos tenebrosos de George W. Bush, as promessas de Obama inundavam o mundo com a esperança de que a humanidade não estava inexoravelmente condenada a continuar percorrendo o caminho das trevas. 
Obama soube capturar o “espírito dos tempos”, e assim conseguiu pluralizar a dimensão da sua candidatura presidencial. A candidatura dele já não era somente um alento para os EUA, mas também uma ingênua expectativa de mudança que alentava também boa parte do mundo. O slogan “Yes, we can!” [Sim, nós podemos!], foi a eficiente tradução imaginária dessa representação subjetiva universalizada. 
Além de um discurso eficiente que se comunicava com as principais exigências éticas e geopolíticas do período – Guantánamo, Iraque, Afeganistão, paz, respeito à democracia, à diversidade, às soberanias das Nações e às liberdades – Obama soube explorar os predicados de um homem negro, intelectual, descendente queniano e com ancestrais no islamismo – a antítese do norte-americano médio. E se habilitou, nessa condição, como reformador do norte-americanismo obscurantista da era Bush. 
As tremendas desilusões que se sucederam, todavia, foram proporcionais às ilusões que acompanharam a eleição de Obama. Isso não significa dizer que Obama tenha sido um impostor – ainda que ele tenha inovado com novos truques de marketing político para ganhar as eleições, é bastante provável que o establishment tenha emoldurado o “espectro realista” de sua ação, impedindo que se tornasse um “ponto fora da curva” do sistema. 
Se existia alguma dúvida de que o mundo poderia ficar pior depois de George W. Bush, em pouco tempo Barack Obama se encarregou de dissipá-la: o mundo continuou sendo, sim, pior com ele. 
A abjeta prisão de Guantánamo, promessa descumprida de Obama, é um acinte aos valores iluministas e um retrocesso jurídico e moral à Idade Média. Os prisioneiros lá depositados, alguns sem acusações formais e sem a instauração do devido processo legal, são tratados à margem da lei e dos tratados internacionais de direitos humanos. 
A invasão de um país sem consentimento para matar o inimigo “onde quer que esteja”, cria uma perigosa jurisprudência no direito internacional, que provavelmente influenciará mudanças de índole reacionária na doutrina do Direito no mundo. 
A visão de democracia “for export” preservou a esquizofrenia: Os EUA legitimaram os golpes de Estado em Honduras e no Paraguai, reconhecendo prontamente os governos golpistas que usurparam o poder, mas não reconhecem a eleição democrática de Nicolás Maduro na Venezuela. 
Obama, incompreensivelmente um Nobel da Paz, parece assomado do mesmo delírio do seu antecessor, e trata o mundo e a realidade como um jogo virtual de videogame. Os drones, aviões não-tripulados, carregados de armamento e guiados por controle remoto, alvejam os “inimigos” dos EUA localizados em qualquer parte do mundo. Essas armas letais somente são disparadas mediante ordens diretas do Presidente dos EUA que, portanto, tem a exata consciência dessa ação criminosa e ilegal que sacrifica vidas inocentes. 
A espionagem telefônica e cibernética escalou níveis mais elevados, assumindo um padrão “Orwelliano” de controle das informações e das comunicações, em nome da “guerra ao terrorismo”. Segundo denúncia do ex-funcionário da CIA Edward Snowden, que prestava serviços para a NSA (Agência Nacional de Segurança), o atual governo ampliou os acordos secretos de cooperação das principais companhias telefônicas e dos maiores provedores de serviços de internet do mundo [como Skype, Yahoo, Google, Facebook e outros] com a “estratégia de segurança nacional” do país, executada em nome da “segurança da comunidade internacional”. 
Não se sabe ao certo a finalidade dessas informações obtidas ilegalmente. É possível que não se destinem somente a programas militares e de segurança. Na internet e nas redes sociais transitam quantidades incalculáveis de informações pessoais e íntimas, reveladoras de hábitos de consumo, de modos de vida, de preferências culturais, de rotinas e de relacionamentos. 
As políticas da hiperpotência dominante do mundo são incompatíveis com as conquistas iluministas da razão, da liberdade, da igualdade, da tolerância e da democracia. São políticas antagônicas ao mundo democrático, multipolar, tolerante e de paz que necessitamos, “não menos real que o mundo que conhecemos e padecemos”, como afirma Eduardo Galeano. O retrocesso em mais de 200 anos em relação às conquistas civilizatórias e iluministas da humanidade converte a “esfinge da esperança” em uma pobre caricatura menor da História que está sendo escrita como uma farsa.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

GENOCIDAS


Ao anunciar o assassinato de Osama Bin Laden, Barack Obama disse que se fazia ali “a justiça pelos mais de três mil mortos nas Torres Gêmeas” (sic) [Bin Laden é, até hoje, apenas suposto envolvido no ataque de 11 de setembro de 2001. Não conseguiram provas do seu envolvimento].

E quando se fará justiça pelos quase um milhão de mortos entre o Iraque e o Afeganistão? Isso para não retroagirmos mais tempo na história.

Por Izaías Almada, em artigo publicado originalmente no “Blog da Boitempo”

A sociedade norte-americana, maior consumidora de drogas do mundo, amanheceu cantando e dançando no último dia 02 de maio, comemorando o assassinato de Osama Bin Laden.

No cipoal de artigos, análises, entrevistas, boatos, depoimentos e discursos que caracterizaram o show mediático anunciador da morte de Osama Bin Laden, um dos pontos que mais me chamou a atenção (o mesmo aconteceu com a eleição de Barack Obama em 2008) foi –e continua sendo– a montagem de um ardiloso e não menos sibilino marketing político de comunicação em massa.

Em 2008, o mundo foi enganado com a perspectiva de os EUA elegerem um negro (ou devo dizer afrodescendente?) para a Casa Branca. A lógica por trás dos arranjos políticos da elite norte-americana pressupunha criar para o mundo uma imagem menos selvagem e conservadora depois de oito anos de governo Bush. Afinal, pensaram os “estrategistas”, vejam só como a nossa democracia funciona: já suportamos eleger um negro (ou devo dizer afrodescendente?) e de ascendência muçulmana para a presidência dos Estados Unidos da América. Poderiam até ter tentado uma mulher –Hillary Clinton– mas preferiram queimar uma etapa… E escolheram um afrodescendente. Somos de fato uma democracia ou alguém aí na platéia duvida?

No caso atual, o que menos interessa é saber se Bin Laden [era culpado ou não] se estava armado ou não, se houve cooperação paquistanesa ou não, se foi um golpe eleitoral para 2012 ou não, ou até as tais especulações sobre a veracidade da morte no dia anunciado ou mesmo antes, como algumas notícias procuraram sugerir e divulgar.

Claro que historiadores e sociólogos têm o direito e o dever de investigar à exaustão a era Bush Jr/Obama para se entender a rearticulação do capitalismo no pré e no pós período neoliberal mais ativo da contemporânea economia capitalista e ajudar-nos a compreender a geopolítica da força bruta, das invasões de países sob falsos argumentos, da chantagem nuclear, enfim, desse império que insiste em se autodeclarar “defensor da democracia”, seja lá o que isso signifique nos dias de hoje para eles e para nós.

Ninguém chega à presidência dos EUA sem vender a alma ao diabo. Só os ingênuos acreditariam numa bobagem dessas. Barack Obama teve que compor com a indústria do tabaco, com a indústria armamentista, com a indústria farmacêutica, com os grandes grupos midiáticos, com a indústria automobilística, com os magnatas do petróleo, ou jamais alcançaria a presidência. Suas promessas de campanha eram areia nos olhos dos incautos e seus quatro anos de governo mostraram isso até agora.

A mentira e a dissimulação são dois dos principais argumentos da diplomacia norte-americana para o mundo. Há mesmo quem afirme, como faz o Dr. Steve R. Pieczenik, assistente do Secretário de Estado de três presidentes, consultor do Departamento de Defesa e ex-capitão da Marinha dos EUA, que o atentado às Torres Gêmeas em 2001 foi “um trabalho interno”.

Há poucos dias, tomei conhecimento da foto de uma menina iraquiana, na época com cinco anos de idade, chorando e toda suja de sangue, tendo ao lado um soldado norte-americano armado com sua metralhadora. A menina escapara de saraivada de balas contra o carro dos seus pais, que morreram impiedosamente. Na matéria, uma segunda foto mostrava a mesma menina hoje já adolescente e que via, pela primeira vez, a foto descrita acima. Sua expressão na segunda foto é de espanto, dor e um olhar de tristeza. Ali estava mais um (in)feliz ser humano "protegido do terrorismo muçulmano".

E é disso que se trata: por trás da arrogância, do show midiático para incautos, dos discursos repletos de piadinhas infelizes pelo meio, as chamadas autoridades norte-americanas, a começar pelo seu atual presidente, inundam o mundo com seu cinismo, com suas empáfias sustentadas por arsenal atômico inigualável, com seu total desrespeito pelo ser humano. Desrespeito esse que tem um emblema dos mais aterradores para aqueles que ainda querem acreditar em outros valores humanos: Barack Obama recebeu o prêmio Nobel da Paz. Onde está o maior cinismo: nos que lhe atribuíram o prêmio ou no próprio premiado?

Ao anunciar o assassinato de Osama Bin Laden, Barack Obama disse que se fazia ali “a justiça pelos mais de três mil mortos nas Torres Gêmeas” [sic]. E quando se fará justiça pelos quase um milhão de mortos entre o Iraque e o Afeganistão? Isso para não retroagirmos mais tempo na história.

Mais sinistro ainda: o ex-vice presidente de Bush Jr, senhor Dick Cheney, ao ser entrevistado pela rede de televisão “Fox News”, digna porta-voz do que de mais repugnante exibe a ultradireita norte-americana, sustentou que a descoberta de Bin Laden se deveu a informações extraídas em “simulações de afogamento”, um tipo de tortura aplicada pela CIA. E, pasmem todos, que defenderia que esse método de interrogatório voltasse a ser praticado.

A insensibilidad]e, a arrogância, a prepotência, a mentira, a desinformação proposital, o deboche, a vilania, o cinismo, a intolerância, o preconceito –e eu poderia acrescentar inúmeros outros substantivos– são hoje os valores que a democracia norte-americana tem a oferecer ao mundo. Nem mais, nem menos. O mais que posso fazer ao escrever esse artigo –o que é muito pouco para a sanha de tão deletérios criminosos– é usar o único adjetivo que lhes cabe: GENOCIDAS.

O mundo precisa de um novo tribunal Bertrand Russel/Jean-Paul Sartre. Como também precisamos nos acostumar à idéia de que não existiu apenas um Adolf Hitler.”

FONTE: escrito por Izaías Almada, escritor e dramaturgo, em artigo publicado originalmente no “Blog da Boitempo”