segunda-feira, 6 de abril de 2015

Se gastamos mais em educação que os países “civilizados”, porque caminhamos para a barbárie?

Autor: Fernando Brito
educ
Hoje, discretamente, a Folha publica números sobre os gastos em educação no Brasil, em matéria de autoria de Gustavo Patú.
Debaixo de um títulos daquele modelo “esconde o bom e destaca o ruim” – “Gasto público em ensino atinge 6,6% do PIB, mas crise ameaça expansão” a informação, da qual a gente já tratou aqui, mas que vai surpreender muita gente:
“Após oito anos de expansão contínua, os gastos públicos brasileiros em educação atingiram uma proporção da renda nacional elevada para padrões mundiais.”
Há varias -e justas – ressalvas. A maior delas, também já comentada por este Tijolaço é que, sendo um país pobre, em valores absolutos esta parcela maior em percentagem acaba sendo menor em dinheiro. Mas é assim em tudo e temos de enfrentar, nesta área, muitas situações da “casa onde falta o pão”, em que todo mundo briga e ninguém tem razão. Ou, neste caso, todos a têm.
Existem muitos fatores trabalhando pela perda de nossa capacidade de aprendizado e – o que é paralelo – de convívio.
Ela não de dá fora dos dois outros dois “moldes” que conformam a sociedade: o “mercado” e as relação com os fatos sociais que, num quadro de massa assumido hoje pela coletividade, se dá essencialmente pelos meios de comunicação.
E ambos, no Brasil de hoje, trabalham pela brutalidade.
Dizer que o indivíduo se move pela percepção de valor que algo tem não é uma interpretação capitalista da natureza humana, a menos que se queira reduzir – o que nem o capitalismo conseguiu -a ideia de valor ao material ou monetário.
A escola foi reduzida, na compreensão de boa parte da sociedade, a algo próximo de um “fornecedor de educação” diante do qual, é claro, constrói-se então a relação de pais – e seus filhos, os alunos – a de consumidores que pagam – em mensalidades ou ou em impostos – e t~em o direito de serem tratados como “clientes”. Aliás, não é raro referirem-se, mesmo entre educadores, ao conjunto de alunos como “clientela”.
Perguntem a um professor de ensino médio que não seja dos mais “jeitosos” como é relacionar-se com uma turma.
E não é natural que isso aconteça? Afinal, se espera da escola que forneça – acima de tudo – requisitos para a ocupação hierárquica de postos no mercado, do diploma à habilidade de ser bem sucedido em seleções, concursos, etc…
Há uma estranha tradução deste pensamento – talvez involuntária – numa famosa música do Titãs:
Só quero saber/Do que pode dar certo/Não tenho tempo a perder
Todos os dias, há muitos anos, impinge-se- a ideia do sucesso pessoal, do egoísmo e da perda de identidade coletiva.
A organização da sociedade depende apenas da força, do poder e do dinheiro, tudo junto e misturado.
A própria “cultura” – num senso estritíssimo, reduzida à arte e ao espetáculo – é apenas uma forma de ganhar dinheiro e notoriedade.
Não haverá “pátria educadora” apenas com o necessário aumento dos recursos destinados às escolas e universidades, se cursá-las tem apenas um sentido comercial.
Não haverá pátria educadora e só habitaremos um país de selvagens, cada vez mais, enquanto a relação de comunicação – e de criação e projeção de valor – exercida pela mídia for um emburrecedor coletivo.

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