quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O LINHÃO PARAGUAIO, O PORTO DE MARIEL E A PARALISIA NACIONAL NA INFRAESTRUTURA


Energia produzida pela usina binacional de Itaipu percorrerá 350 km, desde a subestação de Itaipu até a de Villa Hayes, vizinha a Assunção (Foto: Billy Valtemir de Souza / Itaipu Binacional) 

Por Mauro Santayana

Nos últimos dias, dois importantes fatos marcaram a nossa política externa e a participação do Brasil no processo de desenvolvimento e integração da América Latina. A linha de alta tensão entre a usina hidrelétrica de Itaipu e Assunção, e a abertura, a investidores estrangeiros, da nova Zona de Desenvolvimento de Mariel, junto ao porto cubano de mesmo nome.

A linha Itaipu-Assunção, de 500 kW, custou 555 milhões de dólares, e é a primeira grande obra financiada pelo "Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul" (FOCEM), criado para fomentar projetos nas menores economias do grupo.

A maior parte do financiamento, quase 400 milhões de dólares, ficou a cargo do Brasil, no contexto dos acordos firmados entre Lula e o Presidente Lugo.

Na mesma época, aumentou-se, também, a compensação paga ao Paraguai pela energia de Itaipu, que passou de 120 para 360 milhões de dólares por ano.

A obra, de cuja inauguração participou a Presidente Dilma, ao lado do novo Presidente Horácio Cortes, é emblemática para o futuro do Mercosul e o processo de integração sul-americano.

Primeiro, porque mostramos à Europa e aos Estados Unidos que podemos cuidar – técnica e financeiramente – dos grandes desafios de infraestrutura regional, sem precisar de nenhuma ajuda ou interferência deles.

Segundo, porque permitirá que inúmeras empresas brasileiras, que sofrem com a concorrência chinesa, aqui e em terceiros mercados, devido à diferença do custo de energia elétrica entre os dois países, possam melhorar suas condições de competição, instalando-se em território paraguaio, para fabricar para o mercado brasileiro e o internacional.

Mas, sobretudo, porque, abrindo caminho para o desenvolvimento econômico e social do país vizinho, essa obra contribuirá para erodir o discurso de radical antagonismo aos sócios do Mercosul.

A tática da direita paraguaia é a de manter sempre acesa a chama – que tremula na mente do público mais "conservador"  [direita]- do ressentimento histórico contra o Uruguai, a Argentina, e, principalmente o Brasil, por causa da derrota do país na "Guerra da Tríplice Aliança".

É esse ressentimento que faz com que o Paraguai seja visto, hoje, por muitos [que defendem prioritariamente os interesses norte-americanos], como o melhor instrumento - um verdadeiro cavalo de Troia institucional - para as inúmeras tentativas de sabotagem e enfraquecimento do "Mercado Comum do Sul" e da "União das Nações Sul-americanas".

Os EUA, a Espanha e o México, com a “Aliança do Pacífico” [que beneficia especialmente os EUA, mas] (que não passa de um mito; os mexicanos crescerão neste ano 1.2%, menos da metade que o Brasil) querem transformar o Paraguai em enclave ideológico "neoliberal" [pró-EUA] na região.

E há paraguaios que defendem não só a saída do país do Mercosul, mas também a abertura de seu território para a instalação de bases militares norte-americanas.

Se o linhão paraguaio é grande exemplo de que a integração sul-americana, do ponto de vista da infraestrutura, pode ser bem sucedida, o mesmo acontece com o novo porto cubano de Mariel, e com a Zona de Desenvolvimento Econômico que está sendo construída em seu entorno, no âmbito latino-americano.


Obra da empresa brasileira Odebretch no Porto Mariel, em Cuba

Cuba precisa provar que pode seguir em frente, com um modelo de desenvolvimento próprio, apesar da pressão e do bloqueio norte-americano 
[ilegal, segundo várias resoluções da ONU  E o Brasil está presente nesse contexto, financiando e construindo – também em seu próprio benefício – o maior projeto em execução na ilha desde a revolução cubana de 1959.

Os cubanos querem descobrir - como os chineses já o fizeram – se o capitalismo de Estado pode funcionar como instrumento de desenvolvimento e de melhora da qualidade de vida da população. E assim evitar que, no futuro, tenham que agregar, sem alternativa, o país ao projeto imperial norte-americano, como já fez Porto Rico, e, em certa medida, o México.

Para isso, além da modernização da indústria açucareira e da agricultura – também com cooperação brasileira – Havana está de olho na duplicação do Canal do Panamá, que deverá aumentar, exponencialmente, a movimentação de cargas na região, a partir de 2015.

Essa é a razão que está por trás do novo Porto de Mariel – construído pela Odebrecht e financiado pelo Brasil em 80% - que contará com capacidade para o transbordo de um milhão de contêineres por ano. E, também, da área industrial em torno dele, criada para atrair empresas latino-americanas que queiram produzir mercadorias com destino ao Pacífico e fábricas japonesas, chinesas, e vietnamitas, por exemplo, que fabriquem produtos para os mercados do Atlântico e da América Latina.

Mariel e a Linha Itaipu-Assunção, representam duas importantes vitórias geopolíticas para o Brasil, em nossa região do mundo.

Que suscitam a questão seguinte: se podemos fazer isso lá fora, com prazo, competência e preço, porque não podemos fazer aqui dentro?

Em território brasileiro, há dezenas de grandes projetos de infraestrutura paralisados neste momento. É preciso descobrir o que os está travando. Se a burocracia, falhas de projeto, ou mera sabotagem mesmo [usando pretextos ambientais, embargos do TCU que muitos anos mais tarde são reconhecidos como indevidos, decisões da justiça por interesses partidários etc].”

FONTE: site "Carta Maior"

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