“Inacreditável o papel a que a Justiça Brasileira está se prestando”
O
Conversa Afiada reproduz de texto de Fernando Brito, extraído do Tijolaço:
Inacreditável o papel a que a Justiça Brasileira está se prestando.
Um vídeo
(sem imagens, apenas o teto de uma sala) onde o o ex-diretor ladrão da
Petrobras – que aliás, admite ter sido enfiado na companhia a
contragosto de Lula, por pressão de outros partidos – diz, sem
apresentar um mísero dado concreto, o que dirá uma prova, que “o
comentário que pautava dentro da companhia” é que a diretoria das áreas
de Gás e Energia, Serviços e Exploração e Produção, “os três por cento
ficavam diretamente para o PT”
Vejam bem, os jornais afirmam que
havia este desvio com base na declaração de Paulo Roberto Costa de que
“o comentário que pautava dentro da companhia”.
Será que existe um lugar no mundo, repartição ou empresa, onde não haja “comentários”?
Conheço dois dos diretores
mencionados e quem os conhece não pode deixar de achar um absurdo. Na
diretoria de Gás e Energia, então, o diretor era Ildo Sauer, um
professor universitário (da USP) e hoje um colaborador de Marina Silva.
Na de Exploração e Produção, Guilherme Estrella, um geólogo de carreira
da empresa, aposentado, que voltou à Petrobras e liderou a equipe que
descobriu o pré-sal. Voltou à aposentadoria e cuida do jardim de sua
casa, em Nova Friburgo, com a mesma simplicidade que cuidava antes.
Pois estes dois homens de quem
nunca ouvi falar um ai contra a honradez de suas condutas, sem um fato,
um papel, um depósito, um e-mail que seja estão expostos hoje no que só
se pode definir como um comportamento indigno da Justiça e do
jornalismo.
Na Folha,
com base em uma suposta gravação do depoimento de Alberto Yousseff,
doleiro já condenado, figura manjada que voltou às falcatruas depois de
outra “delação premiada”, no caso Banestado, diz o seguinte:
“Tinha uma outra pessoa que operava a área de serviços (da Petrobras), que se eu não me engano era o senhor João Vaccari”.
Como assim “se não me engano”? É
“acho que era”? Qual é o valor disso para acusar uma pessoa, em letras
garrafais e um partido político?
Eu também poderia achar que o
finado Sergio Motta, tesoureiro do PSDB “operava” para os tucanos, mas
eu achar e nada é a mesma coisa, salvo se eu tiver provas. E se não as
tenho, como é que vou dar uma manchete destas?
É inexplicável o papel do Juiz
Sérgio Moro, sobretudo depois de ver que surgiram versões clandestinas
de outros depoimentos de Paulo Roberto Costa à Polícia, de permitir
gravações editadas, com trechos do teor que citei, num processo que,
pelos valores e gravidade que envolve, está sob sigilo, ou deveria
estar.
O seu tribunal é uma “peneira” de furos seletivos.
Seria melhor que o juiz chamasse
logo toda a imprensa para assistir e perguntar, pois talvez – só talvez –
saísse alguma indagação sobre “que provas os senhores têm disso”?
A delação premiada, para ser
válida, tem de ser acompanhada da produção de provas, não pode ser
apenas concedida pela disposição de alguém, que ia gramar anos de
xilindró e agora vai ser solto, sair atirando acusações para todo lado
na base do “o que se comentava na companhia” ou do “se eu não me
engano”.
Que Paulo Roberto Costa metia a mão
na bufunfa para se beneficiar e aos seus padrinhos políticos – que não
eram do PT, como ele próprio admite – está claro. Mas que um imoral
destes possa sair acusando sem qualquer prova todo mundo e isso, também
sem critério algum, seja publicado e transformado em matéria prima
eleitoral, sob o patrocínio do Judiciário, é um escândalo.
Reflitam: não foi a “cavação” de um
repórter furão que obteve o teor das declarações: elas foram feitas e
divulgadas, quase que numa “coletiva”, nas barbas do juiz que sustenta
que aquilo corre sob sigilo.
E, com mais de 30 anos de
profissão, garanto a vocês, estes “furos coletivos” só acontecem quando
acontece, também, uma armação inconfessável, embora evidente a qualquer
pessoa decente.
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