Laerte Braga |
A corrupção no Brasil é consequência do sistema político e econômico. A expressão “desprivatizar o Estado” foi usada, pelo menos eu a ouvi pela primeira vez, na campanha de 1989. E da boca de Roberto Freire, hoje um dos principais aliados da privataria tucana. Foi em resposta a uma pergunta numa palestra sobre os propósitos anunciados por Collor de Mello, ambos eram candidatos a presidente, de privatizar setores essenciais da economia.
Collor chamava isso de “modernizar o Estado”. Como não deu certo chamaram FHC.
Quem?
Os principais acionistas do Estado brasileiro. Banqueiros, grandes corporações nacionais e internacionais e latifúndio.
Quando a REDE GLOBO através do FANTÁSTICO denunciou uma série de contratos fraudulentos de terceirização de serviços públicos e colocou-se como paladina da moral e dos bons costumes, estava, na prática, denunciando bagrinhos que despencavam nessas várias cachoeiras da corrupção.
Se quisesse mesmo denunciar corrupção de alto coturno teria pego empresas como a QUEIROZ GALVÃO, a NORBERTO ODEBRECHT, a ANDRADE GUTIERREZ, os grandes bancos que operam no País, as companhias que foram agraciadas com os serviços de telefonia e energia no governo de FHC e todo o entorno da PETROBRAS que FHC conseguiu colocar em mãos de companhias estrangeiras, descaracterizando a empresa brasileira.
Ou toda a malha de máfias que opera os serviços públicos privatizados ou terceirizados e ainda os que executam obras públicas sob contrato.
Não o fez e nem o fará, existe concorrência entre essas máfias e a GLOBO é parte delas.
O mesmo vale para VEJA, hoje caracterizada como revista de uma banda do crime organizado.
Carlinhos Cachoeira é uma queda de pequeno porte diante das grandes quadrilhas financeiras e empresariais e Demóstenes Torres um anão perto de FHC, José Serra, Pedro Malan, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Daniel Dantas, Nagi Nahas, etc. Um fio d’água nesse processo.
Capitalismo e corrupção são inseparáveis. Um é parte intrínseca do outro.
Quando o então delegado Protógenes Queiroz chegou perto da cúpula dessas máfias, a prisão de Daniel Dantas, a reação foi imediata e fulminante. Gilmar Mendes, à época presidente do Supremo Tribunal Federal – STF – concedeu dois habeas corpus em menos de duas horas, a Operação Satiagraha foi desqualificada e Protógenes jogado no inferno da execração pública por supostas irregularidades na investigação. Ele, o juiz e o procurador que participaram da Operação.
Para tirar o foco da repercussão negativa dos habeas corpus, num espaço ínfimo de tempo arranjaram uma gravação de conversa entre o senador Demóstenes Torres e o ministro Gilmar Mendes, virou capa de VEJA e a acusação estrondosa – o gabinete de Gilmar Mendes estava sendo alvo de escutas ilegais por parte da ABIN. Lula não comprou a briga, como de fato não comprou nenhuma briga grande em seu governo, contornou os momentos difíceis – afinal é um clube de amigos e inimigos cordiais – e afastou o diretor da ABIN.
Mataram o assunto, esvaziaram a Satiagraha, recolocaram a “reputação” de Gilmar Mendes no seu lugar (um lugar complicado), mas essencial dentro do clube.
A maior parte, esmagadora, de deputados e senadores faz suas campanhas com doações de bancos, empresas e latifundiários. É uma forma de ver o problema dos financiamentos de campanhas eleitorais. No duro mesmo a esmagadora maioria dos deputados, senadores, governadores, prefeitos, deputados estaduais, etc., etc., é resultado de ajustes entre os principais acionistas do Estado.
Compram, é simples.
Demóstenes Torres é um dos que integram o grupo de faz tudo. Fac totum. Opera para bancos, para empreiteiras, como opera para Carlinhos Cachoeira.
Desde as grandes quedas d’água como a QUEIROZ GALVÃO, os bancos, etc., como as pequenas, aquelas denunciadas pela GLOBO no FANTÁSTICO.
Há uma regra básica nas máfias. Se alguém cai as “famílias” cuidam das famílias do que caiu, mas esse vai para o brejo sozinho, pois se abrir a boca acorda no fundo de uma cachoeira preso a um bloco de concreto.
Demóstenes sabe disso. Não vai colocar em risco uma aposentadoria tranquila. O argumento de seu advogado, segundo o qual as escutas eram ilegais, pois como senador tem foro privilegiado são ridículas. Carlinhos Cachoeira era o alvo das investigações, Demóstenes foi um peixe pego em meio a queda do fio d’água. No momento da denúncia basta ao procurador denunciá-lo ao STF e pronto. Não há como excluir essas escutas, essas gravações.
Qualquer governo que se disponha a governar segundo as regras do jogo acaba dentro dessa armadilha. Bancada evangélica, bancada ruralista, quadrilhas específicas que atuam no Congresso Nacional ao lado de figuras como Demóstenes, Stephan Nercessian, Roberto Freire, ACM Neto e por conta disso acaba desfigurado em seus propósitos como aconteceu com o governo Lula e acontece com o governo Dilma.
Refém de figuras como Michel Temer por exemplo.
Sob constante ameaça de escândalos fabricados pela mídia de mercado.
Verdadeiros ou não.
Um exemplo? A GLOBO sabe que o sogro de Sérgio Cabral é o “dono” do negócio de transportes coletivos em boa parte dos municípios do estado do Rio, quer colocar as mãos no bonde de Santa Teresa e transformá-lo em privilégio para turistas, mas não denuncia.
O que há é guerra de quadrilhas, ou ajuste da placas tectônicas das máfias que operam e controlam o Estado como instituição em suas três dimensões (nacional, estaduais e municipais), situação que se repete historicamente desde a primeira quadrilha de banqueiros, ou grandes empresários, ou latifundiários, na história da humanidade.
Num dado momento alguém vai para o sacrifício. É preciso mostrar ao povo que “estão atentos” na vigilância da coisa pública.
Não é nem o caso da Polícia Federal nessa situação de Carlinhos Cachoeira. No duro mesmo entra de gaiato nessa conversa toda. No tempo de FHC nem se movia diante de verdadeiras monstruosidades no processo de privatizações.
Carlinhos Cachoeira, bandido sim, vai pagar o pato até um determinado ponto. Demóstenes Torres idem ibidem e o rio volta a correr normalmente até o momento em que vira a grande cachoeira de banqueiros, empreiteiros, latifundiários, as grandes corporações multinacionais que controlam o Brasil; o de sempre.
A questão é de modelo político e sistema econômico. O capitalismo não leva a lugar nenhum diferente disso que estamos vendo. A ênfase que a mídia de mercado coloca nas denúncias faz parte do espetáculo, do show para manter inerte e ludibriada a esmagadora maioria dos brasileiros.
Eike Batista, outro exemplo. Vira modelo de empreendedor, de gerador de progresso, etc., mas salva o seu, afunda suas empresas com o dinheiro do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – e vende tudo para um fundo de Abu Dhabi.
E o Brasil e os brasileiros vamos para as cucuias.
Ao lado as privatizações do governo FHC, um dos maiores crimes que se cometeu contra o País foi o acordo de livre comércio entre o Brasil e Israel, no governo Lula. Grupos econômicos sionistas começaram a comprar o País de forma voraz e o que chamam de potência emergente, aquela que surge no cenário como protagonista, é apenas potência de ocasião, ou seja, no tempo certo, a critério dos donos, vira entreposto.
Estão infiltrados em setores chaves do Estado.
Por trás do fio d’água Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres, o governador Marcondes Perillo de Goiás (que retirou de circulação a revista CARTA CAPITAL em seu estado por revelar suas ligações com Cachoeira), existe uma corja muito maior.
Está aboletada no Estado, controla o mundo institucional e nenhuma eleição vai resolver esse tipo de problema.
A luta é nas ruas até porque nem somos mais o ponto nevrálgico da América Latina como dizia Nixon e sempre imaginaram os norte-americanos. Somos agora parte da Grande Colômbia.
Enviadopor Sílvio de Barros Pinheiro
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