Reportagem de capa do Estadão desta segunda-feira rompe um tabu ao
tocar num ponto ignorado na discussão sobre o ajuste orçamentário para
equilibrar receitas e despesas: o tamanho do buraco provocado pela
sonegação fiscal, que não para de crescer, sem que se tenham noticias de
providências do governo federal ou do Congresso Nacional para combater
esta sangria e cobrar os devedores.
Para se ter uma ideia do volume de dinheiro devido à União que deixa de
entrar para os cofres públicos, a soma dos valores já ultrapassou
ultrapassou recentemente a barreira de R$ 1 trilhão (sim, por extenso,
trata-se de um trilhão de reais), cinco vezes mais do que o rombo no
orçamento este ano, com um deficit fiscal previsto de R$ 170 bilhões.
No topo da lista dos grandes sonegadores entre as pessoas físicas
aparece Laodse de Abreu Duarte, de quem nunca havia ouvido falar, um dos
diretores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, com uma
dívida de R$ 6,9 bilhões, maior do que a dos governos da Bahia, de
Pernambuco e de outros 16 Estados individualmente.
Fiesp, como sabemos, é a poderosa sigla do empresariado paulista que
inundou o País de bonecos do pato amarelo, simbolo usado nas
manifestações de protesto até recentemente. O objetivo declarado da
turma do pato na avenida Paulista era combater a criação de novos
impostos, mas pelo jeito não se preocupava em pagar os que já existem.
Segundo o jornal, a soma dos valores devidos por empresas e pessoas
físicas para o governo federal não inclui dívidas previdenciárias, do
FGTS e dos casos em que há suspensão de cobrança por determinação
judicial — ou seja, o tamanho do rombo causado pelos sonegadores é ainda
muito maior. Entre os maiores devedores são citadas empresas de ponta
do PIB nacional como a Vale, a Carital Brasil (antiga Parmalat) e a
estatal Petrobras.
O jornal se pergunta como pessoas físicas, a exemplo de Laodse de Abreu
Duarte, chegam a dever tanto ao Fisco. "A explicação é que os
integrantes da família Abreu Duarte foram incluídos como corresponsáveis
em um processo tributário que envolveu uma de suas empresas, a Duagro,
que deve, no total, R$ 6,84 bilhões ao governo".
Ainda de acordo com a reportagem, a Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional suspeita que a empresa tenha servido de "laranja" em "um
esquema de sonegação ainda maior, envolvendo dezenas de outras renomadas
e grandes empresas".
No site da Fiesp, o campeão Laodse aparece como um dos atuais 86
diretores da entidade, sem especificação de cargo. Além disso, o
empresário integra o Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e preside
o Sindicato da Indústria de Óleos Vegetais e seus derivados em São
Paulo. Não é pouca coisa.
Diante desta revelação, também me faço uma pergunta: quem são, afinal, os patos?
E vamos que vamos.
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