Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Entreouvido na Vila Vudu:
Grave, mas grave mesmo, é que os EUA,
depois de varridos do resto do planeta (acabam de ser varridos da
Turquia! da Turquia!) acabarão por ter de se 'dedicar' integralmente ao
quintal cá-nosso-de-todos-os-dias, ao Brasil, pré-sal e tudo.
Momento TOTALMENTE GRAVÍSSIMO para o Brasil, onde reina o mais sórdido golpe fascista-entreguista. Momento desesperantemente grave para o Brasil.
Momento TOTALMENTE GRAVÍSSIMO para o Brasil, onde reina o mais sórdido golpe fascista-entreguista. Momento desesperantemente grave para o Brasil.
Em pleno
espantoso expurgo, incansável, de amplo alcance, que não dá sinais de
arrefecer, com 60 mil (e cada dia mais) funcionários públicos,
acadêmicos, juízes, procuradores de justiça, policiais, soldados já
presos, demitidos, suspensos ou que tiveram cassadas as licenças para
trabalhar, já não parece restar qualquer dúvida de que o governo turco foi, sim, muito bem informado de que estava em organização um golpe militar, para o dia 15 de julho. É muito possível que a informação tenha chegado até ele graças à inteligência russa,
mas evidentemente nem Moscou nem Ancara revelarão qualquer detalhe.
Assim sendo, e de uma vez por todas: não foi autogolpe encenado.
"Ficaram sabendo com 5-6 horas de antecedência que havia um golpe em andamento, e deixaram que prosseguisse, sabendo, como sabiam, que fracassaria (...), o que promoveu Erdogan ao status de semideus, entre seus apoiadores. O caminho está aberto para ele fazer o que queira (uma presidência forte, e remover o princípio secularista da Constituição). Assim estará preparado o cenário para introduzir alguns aspectos da lei da Xaria. Erdogan já tentou esse movimento nos primeiros anos do governo do AKP, quando tentou introduzir a Zina, lei estritamente islamista, que criminalizaria o adultério e abriria o caminho para criminalizar outras relações sexuais que o islamismo considera ilícitas, uma vez que a Zina é geral, não trata só de adultério. Mas a União Europeia objetou, e Erdogan recuou."
A mesma fonte da inteligência acrescenta que:
"nas semanas que levaram a esse desfecho, Erdogan permaneceu discreto e calado, o que não é usual. Mas o primeiro-ministro foi substituído e o novo anunciou política exterior completamente nova, que previa inclusive recompor relações com a Síria. Teria o próprio Erdogan concluído que a política para a Síria era insustentável? Ou a ideia lhe teria sido imposta pelos mais velhos do partido, considerado o terrível dano que aquela política já causara à Turquia, além do que já fizera à Síria? Se lhe foi imposta, nesse caso o golpe fracassado dá a Erdogan oportunidade para reafirmar a própria autoridade também sobre o alto escalão do AKP. Com certeza, veio em momento muito oportuno".
O historiador turco Cam Erimtan ajuda a compreender o contexto. Explica como
"no início do próximo mês, o Alto Conselho Militar da Turquia (YAŞ, na sigla em turco) vai-se reunir, e espera-se que grande número de oficiais sejam dispensados. O estado turco deve entrar num exercício de limpeza, com remoção de todos e quaisquer opositores ao governo do AKP. Esse golpe-que-não-foi-golpe serve pois como munição poderosa para faxina nas fileiras (...) mesmo que o presidente ande apontando o dedo para o outro lado do Atlântico, contra a figura sinistra de Fethullah Gülen e sua suposta organização terrorista FETÖ (Fettullahçı Terör Örgütü, ou Organização de Terror Fethullahista), insinuando que os organizadores do golpe seriam parte da mesma organização claramente impalpável, e possivelmente não existente".
O resultado final não será agradável:
"Erdoğan já está sendo citado como Comandante-em-chefe da Turquia, o que indicaria, dentre outras coisas, que vê a tentativa de golpe como ataque pessoal direto contra ele. Sejam quais tenham sido os motivos dos conspiradores, o resultado final da ação deles será a aceitação muito mais ampla, apaixonada e entusiasmada da política de Erdoğan, de sunificação e, talvez, o desmonte discreto do estado-nação turco, a ser substituído por uma "federação anatoliana de etnias muçulmanas" – possivelmente ligada a um califato ressuscitado, e a um possível retorno da Xaria à Turquia".
É como se Erdogan tivesse sido abençoado
com um efeito "Poderoso Chefão" reverso. No filme obra prima de
Coppola, Michael Corleone diz "No instante em que você pensa que saiu, eles puxam você outra vez para dentro".
No caso do Poderoso Chefão Erdogan, no instante em que ele pensou que
estivesse inapelavelmente dentro da arapuca, "Deus" – como ele admitiu –
o puxou para fora. É o Sultão do Vaivém.
Leões contra Falcões
Com Erdogan firmando suas garras de ferro dentro da Turquia, garras de
ferro pré-existentes – OTAN/Turquia – vão-se lentamente dissolvendo no
ar. É como se o destino da base aérea Incirlik estivesse pendurado e
balançando, enforcado – literalmente –, nuns poucos, selecionados fios
de radar.
Há desconfiança extrema em todo o
espectro na Turquia de que o Pentágono sabia do que os "rebeldes"
estavam preparando. Não há quem não saiba que não cai um alfinete em
Incirlik sem que os norte-americanos saibam. Membros do AKP destacam
o uso da rede de comunicação da OTAN para coordenar os putschistas e
assim escapar da inteligência turca. No mínimo, os putschistas podem ter
acreditado que contariam com a OTAN para garantir-lhes a retaguarda.
Pois nenhum "aliado na OTAN" dignou-se a alertar Erdogan sobre o golpe.
E há também a saga do avião para
reabastecimento de jatos em voo, que reabasteceria os F-16s "rebeldes".
Todos os aviões de reabastecimento em voo em Incirlik são do mesmo
modelo – KC-135R Stratotanker – para norte-americanos e turcos.
Trabalham lado a lado, sob o mesmo comando: a 10ª Main Tanker Base,
cujo comandante é o general Bekir Ercan Van, devidamente preso no
domingo passado – e sete juízes já confiscaram todos os controles da
torre de comunicações da base. Não por acaso, o general Bekir Ercan Van é
muito próximo de Ash Carter do Pentágono.
O que aconteceu no espaço aéreo turco
depois que o Gulfstream IV de Erdogan deixou o litoral do Mediterrâneo e
aterrissou no aeroporto Ataturk em Istambul já está quase completamente mapeado –
mas ainda há buracos crucialmente importantes na narrativa, abertos à
especulação. Erdogan tem-se mantido de boca fechada em todas as
entrevistas, e resta esse cenário estilo Missão Impossível, com dois F-16s "rebeldes", "Leão I" e "Leão II", em "missão especial", com os transponders desligados;
o encontro deles com os "Falcão I" e "Falcão II"; um dos "Leões"
pilotado por ninguém menos que o homem que derrubou o Su-24 russo em
novembro passado; o hoje já famoso avião de reabastecimento em voo que
decolou de Incirlik para reabastecer os "rebeldes"; e mais três duplas
extras de F-16s que decolaram de Dalaman, Erzurum e Balikesir para interceptar
os "rebeldes", inclusive a dupla que protegia o Gulfsteam de Erdogan
(que voava sob prefixo THY 8456, disfarçado como voo da Turkish
Airlines).
Mas quem estava por trás de tudo isso?
Erdogan em missão dada por Deus
O conhecido 'vazador' saudita "Mujtahid" causou frisson ao revelar que os Emirados Árabes não apenas "tiveram uma função" no golpe mas, também porque manteve a
Casa de Saud no circuito. Como se já não houvesse aí problemas que
bastassem, o autodeposto emir do Qatar, Sheikh Hamad al-Thani, muito
próximo de Erdogan, afirmou que
EUA e outra nação europeia (alta probabilidade de ser a França)
montaram toda a operação, com envolvimento da Arábia Saudita. Ankara,
como seria de prever, negou tudo.
O Irã, por sua vez, viu claramente o jogo de longo prazo e apoiou firmemente Erdogan desde
o início. E mais uma vez ninguém falará sobre o assunto, é claro,
porque a inteligência russa sabia perfeitamente de todos esses passos – o
que o rápido telefonema do presidente Putin a Erdogan, imediatamente
depois do golpe, só confirma.
Mais uma vez, os fatos básicos: todos os
agentes operadores de inteligência no sul da Ásia sabem que sem luz
verde do Pentágono, todas as facções militares turcas encontrariam
imensa dificuldade – senão absoluta impossibilidade – de organizar
qualquer golpe. Além disso, durante aquela noite fatídica, até que se
teve certeza de que o golpe fracassara, nenhum dos conspiradores – de
Washington a Bruxelas – foi apresentado precisamente como "o mal".
Uma fonte da alta inteligência
norte-americana, que não acompanha o consenso da Av.Beltway, não precisa
de meias palavras. Para essa fonte,
"os militares turcos jamais dariam um passo sem luz verde de Washington. Planejou-se o mesmo para a Arábia Saudita em abril de 2014, mas o movimento foi bloqueado nos mais altos escalões em Washington, por um amigo da Arábia Saudita".
Essa fonte, que é capaz de pensar fora
da caixa, adere à hipótese que se tem de tomar como hipótese chave e
atual hipótese de trabalho: o golpe aconteceu, ou foi acelerado,
essencialmente, "por causa da repentina reaproximação de Erdogan com a Rússia".
Turcos de todo o espectro jogam gasolina ao fogo, insistindo que é mais
que provável que as bombas contra o aeroporto de Istanbul tenham sido
uma Operação Gladio. Não param de surgir rumores, de leste e de oeste,
já sinalizando que Erdogan deixará a OTAN mais dia, menos dia; para
integrar-se à Organização de Cooperação de Xangai.
Apesar de Erdogan ser ator no qual
absolutamente não se pode confiar e canhão geopolítico giratório, não se
deve descartar a possibilidade de que esteja a caminho um convite de
Moscou-Pequim, em futuro não muito distante. Putin e Erdogan terão
encontro absolutamente crucial no início de agosto. Erdogan conversou
por telefone com o presidente do Irã Hassan Rouhani. O quedisseram disparou calafrios pela espinha da OTAN:
"Hoje estamos decididos, mais que antes, a contribuir para a solução dos problemas regionais, de mãos dadas com a Rússia e em cooperação com eles".
Assim sendo, mais uma vez está
configurada a disputa crucial que definirá o século 21: OTAN contra a
integração da Eurásia, com o Sultão do Vaivém da Turquia exatamente no
meio. "Deus" com certeza brincou com esse cenário arrepiante, quando
falou diretamente a Erdogan, por Face Time.*****
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