A
CONSPIRAÇÃO EM MARCHA NA GRANDE
MÍDIA PELA ELEVAÇÃO DOS JUROS BÁSICOS
Por José Carlos de Assis
“A Presidenta
tem diante de si um
teste sem precedentes. Depois de fazer todas as concessões possíveis ao
setor
privado no campo das privatizações de concessões de serviços públicos,
depois
de promover importantes desonerações tributárias e previdenciárias,
depois de
determinar ao BNDES a redução das taxas de juros para empréstimos de
longa
maturação, depois de tudo isso, enfrenta agora a conspiração de
economistas do
mercado e de seus vocalizadores na mídia para aumentar os juros.
Raras vezes,
em mais de quarenta
anos de jornalismo econômico, tenho visto uma orquestração tão descarada
em
torno de um objetivo tão espúrio. As medidas assinaladas acima, de
incentivo ou
mesmo subsídio ao setor privado, mesmo que controversas, podem ser
justificadas
como estímulo à produção. Já a pressão para aumentar a taxa de juros
básica
consiste na busca de um privilégio absurdo para a especulação financeira
por
parte de oportunistas, parasitas e vigaristas.
Do ponto de
vista técnico, é um
esbulho da opinião pública pretender que a taxa de inflação, nos níveis
atuais,
ameace sair do controle. De fato, ela continua dentro das margens da
meta do
Conselho Monetário. Visar exclusivamente o centro da meta, como têm
cobrado os
economistas “de mercado”, equivale a desqualificar a própria metodologia
de
controle de inflação operada pelo Banco Central. De fato, se não se pode
ter
inflação perto da margem, por que, afinal, se fixam as margens de
tolerância, e
não apenas o centro da meta?
Na realidade,
estamos diante da
mitificação de um método operacional e político do Banco Central,
introduzido
arbitrariamente (sem cobertura de lei)
pelo Governo FHC, cujo propósito fundamental tinha sido manter elevadas
taxas
básicas de juros [OBS: O governo FHC/PSDB conseguiu
elevar a SELIC a 38%! Passou para o governo Lula/PT com 25% e
fortemente crescente, apontando para 35% no ano seguinte]:
O tal modelo
de metas não passa de
uma fraude política sob uma máscara técnica. Escrevemos sobre isso,
Francisco
Antonio Doria e eu, num livro de dois anos atrás editado pela
Civilização
Brasileira, “O Universo Neoliberal em
Desencanto”.
Nenhum banco
central sério trabalha
hoje com modelo de metas. O FED nos Estados Unidos, o Banco Central do
Japão, o
conservadoríssimo Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra, nenhum
deles,
antes ou agora, se preocupa com inflação. Ao contrário, temem a
deflação, e por
isso fazem políticas monetárias expansionistas. E usam a política
monetária
para, de uma forma descarada, manipular a taxa de câmbio no sentido de
estimular exportações e desestimular importações.
No nosso caso,
é patético o que se
tem visto na grande imprensa nessa verdadeira empreitada ideológica para
subir
os juros. Claro, quando o “Estadão” ou “O Globo” juntam seis economistas
para
palpitarem sobre as necessidades da economia, eles tomam o cuidado de
escolher
cinco favoráveis a sua tese – subir os
juros -, e um contrário. Com isso, esse contrário legitima os outros
cinco,
e a impressão que fica é que a maioria esmagadora dos economistas está
do mesmo
lado.
Entretanto,
mesmo que a inflação
estivesse num nível elevado, e não está, é falsa a relação de
causalidade entre
taxa de juros e inflação. Já escrevi aqui que o que existe de inflação
no
Brasil é, principalmente, por pressão de demanda, fruto de uma favorável
situação de emprego e de salário, influindo nos serviços pessoais e
públicos.
Nenhum aumento de juros básicos pode levar à redução dos preços da
alimentação
ou dos serviços pessoais. Essa relação é pura ficção. Assim, se se quer
reduzir
a inflação, é necessário buscar outros mecanismos, fora os juros.
Onde o aumento
da taxa básica de
juros pode ter influência indireta na inflação é através do câmbio.
Atraindo
capitais especulativos para o Brasil, ela induz a valorização do real, e
o real
mais forte favorece a redução do preço dos bens importados. Tudo bem,
mas é
isso que queremos para a economia brasileira? Atrair capitais
especulativos,
aumentando nosso risco cambial futuro, e concorrendo para destruir o
parque
produtivo e os empregos internos pela concorrência artificial dos
importados?A
Presidenta Dilma terá de recorrer a todo o seu arsenal de firmeza moral
para
resistir aos altistas dos juros e enfrentar o tsunami dos rentistas. É
economista, ela própria, e portanto não tem a desculpa do Presidente
Lula que
de uma certa forma teve que se alienar da política monetária. Que
recorra, se
necessário, ao conselho de Delfim Netto, que não pode ser acusado de
anticapitalista. E diante do coro grego dos economistas de mercado, deve
lembrar-se do que disse o genial John Kenneth Galbraith: “Em economia
não se deve levar em consideração a opinião de quem tem
interesse próprio em jogo”.
FONTE:
escrito por José Carlos de
Assis, economista, professor de Economia
Internacional da UEPB, autor, entre outros livros, de “A Razão de Deus”,
ed.
Civilização Brasileira. Artigo transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-conspiracao-em-marcha-pela-elevacao-dos-juros).
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