Enquanto a Policia Federal segue nas ações espetaculares, com delegados
e agentes efetuando prisões e realizando diligências em Brasília
acompanhados de fotógrafos e cinegrafistas, o caso do Helicoca continua
sem nenhuma punição. O Ministério Público Federal pediu a absolvição
do empresário Élio Rodrigues, dono da fazenda no Espírito Santo onde o
helicóptero do senador Zezé Perrella fez o pouso com 445 quilos de
cocaína, em novembro de 2013.
O pedido de absolvição ocorreu depois que o Tribunal Federal da Segunda
Região mandou devolver o helicóptero à família Perrella, anulando
decisão do juiz de primeira instância, que queria o confisco, com base
na lei de combate ao tráfico. Segundo a legislação, bens usados usados
no preparo, transporte ou venda de drogas devem ter sua propriedade
transferida ao Estado.
A participação do senador Zezé Perrella foi sumariamente descartada
pela PF neste caso, alguns dias depois do flagrante, e com isso o
Tribunal entendeu que não seria justo deixá-lo sem o helicóptero. Os
policiais federais também desistiram de investigar o local onde a
aeronave, vinda do Paraguai com a droga e a caminho do Espírito Santo,
pousou e deixou a mercadoria guardada por uma noite.
O local é em Jarinu, na Grande São Paulo, e segundo um dos pilotos
fazia parte de um hotel fazenda. No dia seguinte, o helicóptero voltou
para lá e recarregou a cocaína, menos duas sacolas, com 50 quilos de
droga, que ficaram.
Apesar de a delegada que assina relatório do inquérito recomendar
investigação dos proprietários do local, que poderiam ser os verdadeiros
donos da cocaína, não se tem notícia no processo de que algo tenha
sido feito nesse sentido.
No processo que tramita em Vitória, capital do Espírito Santo, sobraram
quatro pessoas para ir a julgamento: os dois pilotos, além de um
jardineiro e um pequeno empresário de Araruama, Rio de Janeiro, os dois
que aguardavam em solo para ajudar a descarregar a droga, colocá-la em
um carro e levá-la para um ponto, de onde, ao que o inquérito indica,
seguiria para a Europa.
O julgamento deve ocorrer em junho, mas dificilmente haverá prisões
após a sentença, ainda que alguém seja condenado, já que caberá recurso.
Depois que foram presos em flagrante, em novembro de 2013, os quatro
homens acusados de tráfico permaneceram seis meses na prisão. Há um ano,
foram soltos depois que o procurador do caso levantou a hipótese de
farsa da Polícia Federal, que teria efetuado as prisões com base numa
escuta clandestina. Por conta disso, os advogados de defesa querem
anular o processo.
Enquanto aguarda em liberdade, um dos pilotos voltou a voar, e até dá
aulas para quem quer pilotar helicóptero. Alexandre José de Oliveira
Júnior, que aparece no inquérito da Polícia Federal como o piloto que
organizou a viagem que trouxe a droga do Paraguai, assina como
testemunha um contrato de aulas de voo, celebrado entre um aluno e a
escola Unifly Heicópteros, que opera em Arujá, na Grande São Paulo.
Quem assina como representante legal da escola é Airton Ginez Dantas,
mas, segundo o aluno, todas as tratativas foram feitas com o próprio
Alexandre. “Ele falava como se também fosse dono da empresa”, conta o
aluno.
O contrato foi assinado no ano passado, mas, sem a realização das
aulas, o aluno temeu que pudesse estar sendo vítima de um golpe,
pesquisou na internet o nome deAlexandre e descobriu sua relação com o
Helicoca.
Depois de um período sem aulas, o piloto do Helicoca retomou a rotina
de ensino, voa com frequência e até posta as fotos no Facebook. Em sua
página, Alexandre publicou um vídeo em que sobrevoa o bairro do Tatuapé,
em São Paulo.
Alexandre tem hoje três helicópteros: um Robinson 44 e dois Robinson
22. O helicóptero de Perrella, que ele usou para buscar cocaína no
Paraguai, é um Robinson 66. Na velocidade de seus negócios, livre e
solto, Alexandre ainda chega lá. Quem o conhece não tem dúvida disso.
Joaquim de Carvalho
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