Por Bob Fernandes, no “Terra Magazine”
“No
clima de feriadão, durante uma palestra, o ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Gilmar Mendes criticou o governo Dilma. Disse que o
governo sofre de "gigantismo" e "muita burocracia".
O
governo, que tem 39 ministérios, sofre mesmo de gigantismo. Gigantismo
inclusive na sua base de apoio parlamentar. E o Brasil é sim um reino da
burocracia. É o país dos cartórios. O governo, os governos, são
burocráticos.
Tudo
isso é fato. Como é fato que, mais uma vez, o ministro Gilmar Mendes
foi além dos seus tamancos. Mais uma vez, ele falou muito mais do que
deve falar um ministro do Supremo.
Se
esse tema chegasse ao Supremo, aí sim o ministro poderia falar. Nunca
falar apenas para ouvir sua própria voz, ver sua imagem na mídia. Jamais
falar apenas pelo prazer de chegar às manchetes. Em qualquer lugar
civilizado do mundo, juízes só falam nos processos, nos autos.
E se a presidente Dilma Rousseff decidir-se por responder? E se a ela disser: "Ministro
Gilmar, o tamanho do governo não é da sua conta". Ou: "Ministro Gilmar,
preocupe-se com a quantidade de erros que o senhor cometeu e comete".
Se ela fizer isso, teremos manchetes sobre "crise entre o Executivo e o Judiciário".
Aliás, é importante notar que, desta vez, o assunto passou batido. Está
sendo debatido nas redes sociais, mas quase nada se diz na mídia sempre
atenta às tais "crises".
O
ministro Gilmar Mendes erra ao trocar a toga pelo comentário político.
Direito de falar ele tem, como temos todos. Mas manda o bom senso que
juiz não deve dizer como deve ser o governo, e governo não ensina como
deve agir um juiz.
Alguém precisa lembrar ao ministro Gilmar Mendes que ele erra, e erra muito. À parte decisões técnicas -essas exigem saber específico para debater- ele erra quase sempre por falar demais. Como errou ao levar à demissão o então diretor da ABIN, Paulo Lacerda.
Errou
ao atribuir à ABIN e a Lacerda grampos que eles não haviam feito [e
nunca existiram]. Errou ao nunca desculpar-se por aquele gravíssimo
erro. Erro que lhe rendeu manchetes como se fosse um acerto. Erro que
levou a uma patética CPI, a "dos grampos".
Gilmar
Mendes errou ao ter Demóstenes Torres [DEM] como parceiro naquela
desastrada aventura. Como errou, e isso é grave para um juiz, ao não
saber avaliar, ou avaliar mal, a vida e obra do então senador
Demóstenes, que depois seria cassado.
O
ministro errou muitas vezes ao prejulgar, ao tornar públicas suas
opiniões antes de réus e casos serem julgados. Gilmar Mendes erra ao
deixar claro, mais uma vez, que teve e tem lado no jogo
político–partidário.
FONTE: escrito por Bob Fernandes, no “Terra Magazine”
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