Um dos mais combativos colunistas do mundo e o inovador sistema de crowdfunding.
Glenn Greenwald. Você já leu alguns artigos dele aqui no Diário. O
advogado constitucionalista, jornalista, blogueiro e escritor é autor do
furo sobre o esquema de vigilância do governo americano sobre
milhões de cidadãos, organizado pela Agência de Segurança Nacional.
Além de contas telefônicas, um programa chamado PRISM monitorava
informações de Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, AOL, YouTube, Apple,
PalTalk e Skype.
O artigo repercutiu mundialmente. Depois de ser equiparado a seu
antecessor George W. Bush, o presidente Obama foi obrigado a dar uma
resposta, como sempre em seu pior estilo sabonete: “Eu dou as boas
vindas a esse debate”.
“Eu encaro meu jornalismo como um advogado de acusação”, disse Greenwald ao New York Times.
“As pessoas dizem coisas, você acha que ela estão mentindo e então vai
atrás de documentos para provar”. Greenwald incorpora um novo
jornalismo: independente, agressivo, combativo, absolutamente conectado.
Colunista do inglês The Guardian – provavelmente, o melhor jornal do
mundo hoje –, ele migrou para lá por causa de seu blog Unclaimed
Territory, fundado em 2005 (chegou a dar expediente um ano e meio no
escritório de advocacia nova-iorquino Wachtell, Lipton, Rosen &
Katz).
Seus textos costumam ser longos, bem argumentados, repletos de links e
sempre, sempre opinativos. É prolixo, eventualmente. Não larga o osso.
Antes do Guardian, escreveu para o ótimo site Salon, onde publicava sem
passar por qualquer editor – principal e notadamente o que o contratou.
“Sua postura política é determinada pela sua personalidade, sua
relação com a autoridade, o quanto você se sente confortável com sua
vida”, afirmou na entrevista ao Times. “Quando você cresce gay e não é
parte do sistema, você se obriga a avaliar: ‘sou eu, ou o sistema que é
ruim?’”
Greenwald foi criado na Florida e vive no bairro da Gávea, no Rio de
Janeiro, com seu parceiro David Michael Miranda. Os dois se conheceram
na praia, em Ipanema. Suas causas envolvem a Guerra do Iraque, a do
Afeganistão e a perda das liberdades individuais nos Estados Unidos.
Bateu pesadíssimo no filme de Kathryn Bigelow, A Hora Mais Escura,
sobre a caçada a Osama Bin Laden (o qual, diga-se, é um bangue-bangue
de propaganda). É acusado por seus inimigos de “esquerdista” e de ser
complacente com o terrorismo.
Greenwald deu um passo didático em direção ao futuro do jornalismo: o
modelo financiado pelo leitor (crowdfunding, que tem bancado filmes,
shows, sites, discos etc etc). Grosso modo, abriu uma conta e pediu
doações. Como escreveu no Guardian:
Desde que eu comecei a escrever sobre política, tenho contado com
doações anuais de leitores para permitir-me fazer o jornalismo que eu
quero fazer: primeiro quando tinha minha página no Blogspot e depois no
Salon. Esse tem sido o principal fator da minha independência –
irrestrita no que eu posso dizer e fazer – porque significa que eu sou
responsável, em última instância, pelos meus leitores, que não têm uma
agenda diferente da minha, e sem medo da reação negativa de ninguém. O
apoio dos leitores também tem financiado diretamente a maior parte do
trabalho que eu faço e de ser capaz de ter assistentes de pesquisa e
outros recursos necessários.
Por essa razão, quando transferi meu blog do Salon para o
Guardian, o Guardian e eu acordamos que eu continuaria a depender em
parte do apoio do leitorado. Ter isso como parte do combinado, ao invés
de ficar exclusivamente com o pagamento do Guardian, foi vital para mim.
É o modelo em que realmente acredito.
É indispensável para minha independência. Me habilita a trabalhar
mais efetivamente, tendo os recursos de que preciso para dispender o
tempo no que realmente acredito que possa causar impacto.
Atualmente, essa não é a maneira segundo a qual o jornalismo é
financiado nos círculos estabelecidos, mas estou convencido de que é o
melhor caminho. Estou sinceramente agradecido a todos os leitores que
gastam seu tempo vindo aqui e àqueles que no passado apoiaram o meu
trabalho.
Da próxima vez em que você ouvir falar em novo jornalismo, esqueça
Gay Talese ou Tom Wolfe. O futuro está aqui e não é mais como era
antigamente.
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