Plantão Brasil via feicibuqui do Miranda L Jose
Esta semana, o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidência, colocou o dedo na ferida: “Os órgãos todos de vigilância e fiscalização estão autorizados e com toda liberdade garantida pelo governo. Eu quero insistir nisso, não é uma autonomia que nasceu do nada, porque antes não havia essa autonomia, nos governos Fernando Henrique não havia autonomia, agora há autonomia, inclusive quando cortam na nossa própria carne”, disse Carvalho. É verdade.
Durante
o governo do primeiro, nenhuma denúncia – e foram muitas – foi
investigada; ninguém foi punido. O segundo está tendo que cortar agora
na própria carne por seus erros e de seu governo simplesmente porque deu
autonomia aos órgãos de investigação, como a Polícia Federal e o
Ministério Público. O que é mais republicano? Descobrir malfeitos ou
encobri-los?
FHC, durante os oito anos de
mandato, foi beneficiado, sim, ao contrário de Lula, pelo olhar
condescendente dos órgãos públicos investigadores. Seu procurador-geral
da República, Geraldo Brindeiro, era conhecido pela alcunha vexaminosa
de “engavetador-geral da República”. O caso mais gritante de corrupção
do governo FHC, em tudo similar ao “mensalão”, a compra de votos para a
emenda da reeleição, nunca chegou ao Supremo Tribunal Federal nem seus
responsáveis foram punidos porque o procurador-geral simplesmente
arquivou o caso. Arquivou! Um escândalo.
Durante
a sabatina de recondução de Brindeiro ao cargo, em 2001, vários
parlamentares questionaram as atitudes do envagetador, ops, procurador. A
senadora Heloísa Helena, ainda no PT, citou um levantamento do próprio
MP segundo o qual havia mais de 4 mil processos parados no gabinete do
procurador-geral. Brindeiro foi questionado sobre o fato de ter sido
preterido pelos colegas numa eleição feita para indicar ao presidente
FHC quem deveria ser o procurador-geral da República.
Lula,
não. Atendeu ao pedido dos procuradores de nomear Claudio Fonteles,
primeiro colocado na lista tríplice feita pela classe, em 2003 e, em
2005, ao escolher Antonio Fernando de Souza, autor da denúncia do
mensalão. Detalhe: em 2007, mesmo após o procurador-geral fazer a
denúncia, Lula reconduziu-o ao cargo. Na época, o presidente lembrou que
escolheu procuradores nomeados por seus pares, e garantiu a Antonio
Fernando: “Você pode ser chamado por mim para tomar café, mas nunca será
procurado pelo presidente da República para pedir que engavete um
processo contra quem quer que seja neste país.”? E assim foi.
Privatizações,
Proer, Sivam… Pesquisem na internet. Nada, nenhum escândalo do governo
FHC foi investigado. Nenhum. O pior: após o seu governo, o ex-presidente
passou a ser tratado pela imprensa com condescendência tal que nenhum
jornalista lhe faz perguntas sobre a impunidade em seu governo.
Novamente, pesquisem na internet: encontrem alguma entrevista em que FHC
foi confrontado com o fato de a compra de votos à reeleição ter sido
engavetada por seu procurador-geral. Depois pesquisem quantas vezes Lula
teve de ouvir perguntas sobre o “mensalão”. FHC, exatamente como Lula,
disse que “não sabia” da compra de votos para a reeleição. Alguém
questiona o príncipe?
Esta semana, o ministro
Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidência, colocou o dedo na
ferida: “Os órgãos todos de vigilância e fiscalização estão autorizados e
com toda liberdade garantida pelo governo. Eu quero insistir nisso, não
é uma autonomia que nasceu do nada, porque antes não havia essa
autonomia, nos governos Fernando Henrique não havia autonomia, agora há
autonomia, inclusive quando cortam na nossa própria carne”, disse
Carvalho. É verdade.
Imediatamente FHC foi
acionado pelos jornais para rebater o ministro. “Tenho 81 anos, mas
tenho memória”, disse o ex-presidente. Nenhum jornalista foi capaz de
refrescar suas lembranças seletivas e falar do “engavetador-geral” e da
compra de votos à reeleição.
Pois eu refresco:
nunca antes neste País se investigou tanto e com tanta independência. A
ponto de o ministro da Justiça ser “acusado” de não ter sido informado
da operação da PF que revirou a vida de uma mulher íntima do
ex-presidente Lula. Imagina se isso iria acontecer na época de FHC e do
seu engavetador-geral.
O erro do PT foi, fazendo diferente, agir igual.
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