Evangélicos miram comissões que têm poder de barrar temas sensíveis à igreja
Frente parlamentar da qual faz parte o pastor Marco Feliciano atua de forma estratégica para obter vagas em colegiados que analisam projetos sobre aborto e direitos dos homossexuais
Bruno Boghossian e Roldão Arruda - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - A
presença do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão
de Direitos Humanos e Minorias da Câmara não é um fato isolado. Faz
parte de uma estratégia mais ampla da Frente Parlamentar Evangélica, que
reúne 68 deputados. Ela tem direcionado forças para as comissões que
tratam das reivindicações dos gays por direitos iguais aos dos outros
grupos da sociedade, da flexibilização das normas sobre aborto e de
políticas sobre drogas.
Os atritos com
grupos de direitos civis, movimentos de direitos humanos, pró-aborto e
em defesa da laicização do Estado só tendem a intensificar nas comissões
que tratam desses temas. Desde o início do ano, a frente ocupa 18 das
72 cadeiras da Comissão de Seguridade Social e Família, cuja atribuição é
analisar projetos ligados à saúde pública, como consumo de drogas e
bebida alcoólica por jovens, e à família, como aborto e proteção à
criança. Do grupo evangélico, seis são titulares na comissão e os outros
12, suplentes.
Na Comissão de
Direitos Humanos e Minorias, a frente conquistou 14 dos 36 postos e a
presidência - na partilha das comissões, o colegiado ficou para o PSC,
partido essencialmente formado por evangélicos. Isso significa quase 40%
das vagas. Sua tarefa é avaliar denúncias e projetos ligados à violação
dos direitos humanos. Passa por ali o debate do projeto que pretende
classificar a homofobia como crime.
Rádios. Outra
comissão que desperta o apetite dos evangélico é a de Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática. Eles controlam com 14 das suas 42
cadeiras, com sete titulares e sete suplentes. Entre as atribuições
dessa comissão está a análise de pedidos de concessão para rádios. Passa
por ali, entre outras propostas, a que visa proibir o aluguel de
horários em canais de TV aberta - expediente usado com frequência por
igrejas para transmissão de seus programas.
Outro foco de
interesse é a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da
Casa, com a tarefa de analisar aspectos constitucionais e legais dos
projetos. Do total de suas 132 cadeiras, 18 estão com a frente (sete
titulares e nove suplentes).
Drogas. A
frente ainda concentra forças em comissões criadas para analisar temas
específicos. Uma delas é a do Sistema Nacional de Políticas Sobre
Drogas, que aprovou, em dezembro, projeto de lei que aumenta a pena de
traficantes e permite a internação compulsória de viciados. De autoria
de um deputado da frente, o projeto deve ser votado nos próximos dias na
Casa, em regime de urgência.
Para entidades e
movimentos que atuam no setor, a aprovação significará um retrocesso. Em
carta enviada aos parlamentares na semana passada, o Conselho Federal
de Psicologia (CFP) chegou a dizer que se trata de "grave ameaça aos
direitos civis e caminho totalmente equivocado ".
A carta acirrou as
divergências entre o conselho e a frente. Os deputados evangélicos
consideram intolerável a decisão do CFP que impede psicólogos de
prometerem a chamada "cura gay" e já tentaram em duas ocasiões, sem
sucesso, derrubá-la na Justiça.
Por não ter maioria
nas comissões, a Frente Evangélica se articula com outros grupos
religiosos em torno das chamadas questões morais. De acordo com a
pesquisadora Maria das Dores Campos Machado, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), evangélicos e católicos carismáticos vem atuando
em conjunto para impedir qualquer liberalização sobre aborto.
Essa
unidade foi selada em 2011, quando os dois grupos se juntaram na Frente
Parlamentar em Defesa da Vida - Contra o Aborto. Entres os carismáticos
que articularam o movimento estavam Salvador Zimbaldi (PDT-SP), Gabriel
Chalita (PMDB-SP) e Givaldo Carimbão (PSB-AL).
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