O que Dizer aos Jovens Conservadores? Prof. André Azevedo da Fonseca
Uma das distorções mais lamentáveis que a gente tem visto nas redes sociais é essa quantidade alarmante de jovens conservadores, reacionários, homofóbicos e misóginos. O que dizer a eles?
Não tem nenhum sentido jovem conservador. É compreensível ver velhos
conservadores. É um declínio natural. Quando gente envelhece, fica menos
idealista, mais cansado, com preguiça de experimentar, de mudar, de
curtir ideias novas, fica menos paciente, mais cínico, perde muito da
capacidade e da disposição em aprender coisas novas, em aceitar as
diferenças, em compreender coisas diferentes do nosso próprio universo,
aí tem que trabalhar para pagar as contas, para pagar os remédios, tem
que se preocupar com os filhos e tende a ficar mais egoísta.
A gente se acostuma a 40, 50, 60 anos com uma coisa e aí é muito mais
difícil mudar. São raros os velhos de espírito juvenil e que ainda se
entusiasmam com o mundo e querem descobrir coisas novas. E é normal. A
gente envelhece e fica doente, cheio de dor, tudo que a gente quer é
sossego, é manter o mundo do jeito que a gente está acostumado, a gente
prefere rever as coisas que gente já gosta. Muitos tentam reviver o
passado, ficam sonhando em recuperar o que perdeu.
Mas, velhos conservadores não são de todo mal. Sempre foi papel dos
velhos manter a tradição, servir de memória para a sua comunidade e
conservar alguns princípios básicos que sustentaram a sua realidade
durante tantos anos. Agora, há muitos problemas aí, porque se há
realmente tradições que precisam mesmo ser conservadas, se há um
patrimônio cultural riquíssimo que precisa ser conservado para que gente
não percas as referências que nos conduziram a que somos hoje, há
também muitas tradições violentas que devem na verdade ser
desconstruídas e transformadas.
Mas a juventude, ao contrário, é o período perfeito para questionar,
para experimentar, para testar, desafiar as regras do mundo, se
contrapor ao conservadorismo e avançar. Juventude não é um tempo de
respostas, mas de perguntas. Não é um tempo de certezas, mas de
curiosidade. Não é para desperdiçar energia defendendo aquelas coisinhas
que ele já sabe, mas para aprender mais. Não é para ficar ciscando. É
para voar. A gente precisa da imaturidade, da inconsequência e da
rebeldia dos jovens para contrabalançar o cansaço, a preguiça e o
desencantamento dos adultos.
Ao contrário dos velhos, os jovens têm energia, ainda estão descobrindo a
vida, não tem nem o que conservar. Jovens só têm futuro, eles têm
pouquíssimo passado. Os elementos para compreender o mundo ainda estão
se ligando. Não há nem referências, não há experiência o suficiente para
compreender o mundo e dizer que é melhor assim. E ao contrário do
passado, patrimônio dos velhos, que é certo, já aconteceu, já se
solidificou, ninguém tira o seu passado; o futuro, o patrimônio dos
jovens, é incerto, é instável, não é uma garantia, ele é indisciplinado,
imprevisível por natureza, como devem ser os jovens.
Jovens tem todo o potencial físico, psicológico, biológico para serem
bem mais abertos em relação às ideias. Eles têm mais oportunidade, mais
tempo e, de certa forma, há até mais tolerância social para o jovem
arriscar, errar, falar bobagens, coisas que fazem parte do processo de
aprendizagem, e também de experimentar novas possibilidades, de fazer
combinações inesperadas, de se propor a fazer coisas que são
consideradas pelos velhos como impossíveis, utópicas; de desafiar as
ideias antigas para ver se elas se sustentam diante os novos
questionamentos ou se elas se tornaram insustentáveis, e por isso devem
ser substituídas.
E aí o jovem conservador joga toda essa potência fora para conservar
ideias, tradições ou valores que nem foram eles que construíram, e se
igualam aos velhos cansados. É uma tragédia. A vida, o mundo e a
história são tão amplos de possibilidades, tão interessantes, tem tanta
coisa para fazer, para descobrir, para inventar.