Por Daniel Valença
Às dezenas de pessoas que prestaram solidariedade, minha sincera gratidão.
Daniel Valença é professor licenciado do curso de Direito, da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), onde leciona Ciência Política, Trabalho e Ética. Está fazendo doutorado em Direitos Humanos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB)).
Fui ver com meus próprios olhos o ato em Natal pró-impeachment. Eram
cerca de 15 manifestantes e mais 10 “seguranças” contratados para
“proteger” os bonecos de Dilma e Lula. Como em todo o Brasil, novamente a
UJS rasgou os bonecos – o fizeram, aliás, em São Paulo, no Recife e em
João Pessoa.
Corri para acalmar a confusão e impedir que os jovens fossem agredidos
fisicamente. No meio do caminho, um dos organizadores do ato me aplicou
um mata-leão, hora em que perdi meus óculos e celular. A PM assistiu a
tudo e nada fez, exceto deter os jovens da UJS que, já algemados,
continuaram sendo agredidos física e verbalmente.
Fui cercado por todo esse grupo que berrava “petista!”, “comunista!”,
“bandido filho da puta”. Respondi insistentemente que era petista e
comunista com muito orgulho e que tinha o direito de sê-lo. Foi então
que um manifestante fascista veio por trás e me aplicou um choque
elétrico, prática comum aos torturadores do DOI-CODI. Resisti para não
cair. E me vi sendo chutado e agredido por pessoas que teoricamente eram
jornalistas, até que um amigo finalmente conseguiu me retirar do cerco.
Pela primeira vez, vi o fascismo de perto. Ao contrário daquele das
décadas de 1920-1940, não havia uma multidão, contavam-se nos dedos. Mas
eram pessoas com muito recurso financeiro, com armas proibidas, com
ódio estampado na face, não contra um sujeito, mas contra Ideias, e
contavam com a cumplicidade do aparelho coercitivo do Estado.
Há meses, quando tudo isto começou, não faltavam setores no governo e na
sociedade para advogar que os atos puxados por “movimentos”
pró-impeachment eram democráticos: seriam as inúmeras ocorrências de
violência coletiva apenas excessos individuais. Agora que tais
“movimentos”, sem identidade nem história, não conseguem mobilizar
trinta pessoas para subsidiar o golpe intentado por Eduardo Cunha, o rei
se revela nu: é quem lidera tais atos que são os proponentes da
violência legitimada, do ódio de classe e preferência política. Eles
refletem na sociedade civil o que intentam na política; a retirada do
artigo que protegia os movimentos sociais da tipificação do crime de
terrorismo por parte do relator do PSDB é um exemplo. O projeto de lei
do PSDB que criminaliza a liberdade de cátedra dos docentes, outro.
Marx denunciava que as pessoas aceitam viver numa ordem desumana porque a
realidade lhes aparece invertida. Em situações específicas da história,
como a que estamos vivendo, isso toma contornos ainda mais intensos. O
incipiente fascismo atual transforma o crime em manifestação
democrática, o violento agressor em “democrata”, a vítima em “bandido”.
Com a cumplicidade dos meios empresariais de comunicação e das forças
coercitivas do Estado.
Por fim, gostaria de fazer um apelo. Aqueles que, como eu, têm inúmeras
críticas e estão descontentes com a política do segundo mandato da
presidenta, ou até mesmo os que defendem o impeachment: não se deixem
envenenar. Não se deixem envenenar, porque nas ruas e no parlamento, os
que lideram essa tentativa de golpe, usando dos instrumentos mais
desonestos, ilegais e violentos possíveis, buscam um projeto de
sociedade muito distante do país soberano, justo e solidário que a
maioria dos brasileiros compartilha.
Daniel Valença é professor licenciado do curso de Direito, da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), onde leciona Ciência Política, Trabalho e Ética. Está fazendo doutorado em Direitos Humanos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB)).
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