O grande mérito da publicação das conversas gravadas é tornar
brutalmente claro aquilo que as pessoas mais informadas já sabiam e que
era negado pela mídia liderada pela Globo.
Foi golpe. E foi um golpe imundo, em que homens e instituições
moralmente putrefatos se uniram para derrubar uma mulher honesta que
levou a investigação da corrupção a patamares jamais vistos.
A gravação de Renan, publicada hoje pela Folha, ajuda a compreender ainda melhor o que ocorreu.
Mais uma vez, o STF aparece com destaque na trama golpista. E isto é
desesperador: você pode cassar políticos. Mas como lidar com um poder
que julga a si mesmo?
Num mundo menos imperfeito, o STF seria imediatamente dissolvido,
tais as acusações e as suspeitas que recaem sobre seus integrantes.
Mas como fazer isso?
Escrevi ontem e repito agora: o STF era o grande argumento pelo qual a
Globo, em nome da plutocracia, atacava como “alucinação” e “conto da
carochinha” a tese do golpe.
Na conversa agora divulgada, Renan diz que todos os eminentes juízes do Supremo estavam “putos” com Dilma.
O motivo não poderia ser mais canalha: dinheiro.
Renan relata uma visita que fez a Dilma. Ela conta que recebeu
Lewandowski para o que imaginou que fosse ser um encontro de alto nível
sobre a dramática situação política do país.
Mas.
Mas Lewandowski “só veio falar em dinheiro”, disse Dilma. “Isso é uma coisa inacreditável.”
Há muitas coisas inacreditáveis em relação ao STF, a rigor. A demora
de quatro meses de Teori para acolher o pedido de afastamento de Eduardo
Cunha é uma delas. As atitudes sistematicamente indecentes e
partidárias de Gilmar Mendes e seu mascote Toffoli são outra delas.
O interlocutor de Renan na conversa, o mesmo Sérgio Machado de Jucá,
produziu a melhor definição do STF destes tempos. “Nunca vi um Supremo
tão merda.”
Outros personagens destacados do golpe aparecem neste diálogo vazado.
A Folha, por exemplo, se bateu intensamente pela queda de Dilma. Mais
especificamente, seu dono e editor, Otávio Frias Filho.
Ele é citado por Renan como tendo reconhecido exageros na cobertura da Lava Jato.
Ora, ora, ora.
Se reconheceu o caráter maligno do circo da Lava Jato, por que ele
não fez nada? Ele era apenas o ombudsman do jornal, ou o porteiro do
prédio?
Bastaria uma palavra sua para retirar o exagero da cobertura. Se não a
pronunciou, é porque era conivente ou inepto como diretor.
Faça sua escolha.
Aécio surge acoelhado. Tinha medo da Lava Jato, diz Renan. Sabemos agora que Aécio não é apenas demagogo, hipócrita e corrupto.
É também covarde.
E é neste campo que, sem saber que era gravado, Renan presta um
extraordinário tributo a Dilma. “Ela não está abatida, ela tem uma
bravura pessoal que é uma coisa inacreditável.”
Os colunistas da imprensa, nestes dias, diziam freneticamente que
Dilma estava abatida. Era gripe, informa Renan. “Ela está gripada,
muito gripada.”
Se existe algum tipo de decência no Brasil – de justiça não dá para
falar, dado o STF – Dilma tem que receber um formidável pedido de
desculpas dos brasileiros e ser reconduzida ao posto do qual canalhas
golpistas a retiraram.
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