As justas pancadas da filósofa na mídia e na classe média.
A filósofa Marilena Chauí fez duas apreciações interessantes nesta semana, uma sobre a mídia, outra sobre a classe média.
Numa, sobre a mídia, ela foi econômica. Noutra, sobre a classe média, foi torrencial.
Em ambas, ela estava essencialmente certa.
Sobre a mídia, ela disse que qualquer apreciação que fizesse conteria obscenidades.
Veja a mídia. Globo, Veja, Folha, Estadão: como não concordar com Marilena Chauí?
A mídia defende abjetamente seus próprios interesses, e os de seus amigos, e não o interesse público.
As empresas jornalísticas não pagam os impostos devidos (o papel não é
taxado, por exemplo), gozam de uma absurda reserva de mercado
(estrangeiros só podem ter 30% das ações) e historicamente se alinharam
às ações mais nocivas contra o povo brasileiro, como o golpe militar de
1964.
A mídia brasileira precisa de um choque do capitalismo que prega mas
que não pratica: tem que ser exposta à competição internacional e tem
que criar vergonha na cara e parar de mamar no Estado, do qual sempre
extraiu financiamentos a juros que são um assalto ao contribuinte.
Boa parte da gestão inepta das empresas jornalísticas brasileiras
reside nisso – nas vantagens que elas recebem de sucessivas
administrações.
Isso acabou criando culturas corporativas em que você acha que é mais
fácil resolver problemas com um telefonema ao presidente ou ao ministro
do que com habilidade gerencial.
A internet apareceu para libertar a sociedade do monopólio de opinião
das empresas de mídia, e isso é um fato que deve ser comemorado.
Você só tem acesso a Marilena Chauí na internet. Em compensação, pensadores como Vilas,Magnolis, Pondés et caterva estão em toda parte, defendendo o mundo da iniquidade que foi sempre a marca do Brasil.
Sobre a classe média, Marilena Chauí também está certa.
Historicamente, a classe média é, em geral, o que existe de mais reacionário numa sociedade.
Nas grandes transformações da humanidade, como na França de 1789, lá
estava a classe média na defesa assustada da manutenção da ordem.
Na Alemanha de 1933, foi a classe média que pôs Hitler no poder. Nos
Estados Unidos destes dias, é a classe média — obesa, entupida de pipoca
e coca cola gigante, sentada no sofá vendo blockbusters de Hollywood —
que dá sustentação a guerras como a do Iraque e a do Afeganistão.
Uma das razões do sucesso escandinavo como sociedade é que, lá, a
classe média foi educada, e aprendeu a importância do verbo repartir.
A classe média brasileira ainda está bem longe disso. É racista,
preconceituosa, homofóbica. Detesta negro, detesta nordestino, detesta
gays.
Detesta tanta coisa que, exatamente por isso, é detestável, como disse Marilena Chauí.
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